• Percival Puggina
  • 05/09/2015
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A EXPLOSÃO MIGRATÓRIA ATRAVÉS DO MEDITERRÂNEO

 

 Pesado silêncio envolve esta obviedade: tão ou mais importante do que resolver o problema dos refugiados em sua chegada é enfrentar as causas de sua saída, lá de onde vêm.

 Há bom tempo este site vem denunciando a intolerância e a perseguição religiosa em países e regiões dominadas de modo violento por fanáticos, jihadistas e terroristas. Apenas entre as comunidades cristãs, a cada ano, mais de cem mil pessoas morrem vítimas desse fenômeno. Segundo a Fundação AIS (Ajuda à Igreja que Sofre), de 1940 até hoje a população cristã no Oriente Médio foi reduzida de 20% para apenas 3,8% do total. Imaginem-se, agora, os números referentes aos conflitos étnicos, tribais, religiosos e políticos no mundo islâmico!

 Sobre a situação da Síria, por exemplo, a Fundação AIS informa o seguinte: "O número de mortos da guerra civil síria ascende a 220 mil. São cerca de 12 milhões de pessoas a necessitar de ajuda humanitária. Quase 5 milhões de refugiados registrados tiveram de abandonar a Síria em busca de segurança e estão hoje espalhados por campos de refugiados no Líbano, Jordânia, Turquia e tentam entrar na Europa. Existem ainda 8 milhões de deslocados internos que vivem como refugiados em seu próprio país".

O criminoso exército de ocupação, levianamente chamado pela mídia ocidental de Estado Islâmico, foi tolerado muito além de todos os limites pelo mundo civilizado. Sua perversão e violência não encontram restrições. Com pretensões de se constituírem em califado sob liderança de um sicário doido de pedra chamado Abu Bakr al-Baghdadi, esses monstros respondem por boa parte dos refugiados que hoje batem às portas da Europa, pedindo abrigo. Mas muitos outros conflitos estão em curso desde a festejada e fracassada Primavera Árabe. Dependendo do país, esses conflitos fazem vítimas entre muçulmanos, xiitas, assírios, cristãos armênios, católicos e evangélicos, yazidis, drusos e shabaks. Não deixa de ser curioso, aliás, que opulentos países muçulmanos petroleiros se recusem a receber refugiados, ainda que estes sejam submissos aos ensinamentos do Profeta. Acolhê-los parece ser, apenas, um dever delegado ao ocidente cristão, que, por ser cristão, cumprirá sua tarefa.

Assim como se espera que a Europa acolha esses fluxos migratórios, deveríamos, simetricamente, cobrar da ONU e dos países que sobre ela exercem influência, uma ação firme contra sua causa principal! E o inimigo número um a ser enfrentado militarmente é o famigerado e insurgente exército de filme de terror comandado por Abu Bakr al-Baghdadi. Quanto mais, cabe indagar: 1,5 bilhão de muçulmanos que querem viver em paz a sua religião, não têm qualquer dever ante o sofrimento de seus irmãos de fé? Nenhuma providência lhes corresponde em relação às suas minorias radicais, jihadistas e terroristas que infernizam o planeta e jogam suspeita sobre os ensinamentos de Maomé?

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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.