• Percival Puggina
  • 25/11/2020
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DOIS LIVROS INCOMUNS

Recebo da Faro Editorial dois livros de autores chineses. Importantes e oportunos lançamentos.

Democracia ameaçada”, de Joshua Wong, se explica na capa: A liberdade de expressão em risco. E por que precisamos agir, agora. O autor é um jovem chinês de Hong Kong, que, aos 14 anos, iniciou um movimento estudantil na ex-colônia britânica restituída à China em 1997 na condição de território autônomo. Hong Kong vivera até então um clima de liberdade e se tornara extremamente desenvolvida e abastada. Em 2011, sob novas influências, aquele canto privilegiado do gigante asiático já sentia, na Educação, o peso das cartilhas comunistas e isso motivou o adolescente Joshua a organizar um grupo estudantil – Scholarism – para mobilizar a opinião pública contra as orientações do Partido Comunista Chinês na formação da juventude. O movimento ficou conhecido como a Revolução dos guarda-chuvas ensejando a chamada Primavera Asiática (2012).

O jovem Joshua acabou “hóspede” de prisões chinesas. Contudo, o valor de suas iniciativas foi reconhecido e ele destacado entre as principais figuras mundiais daquele período. Em seu livro, ele conta a história inteira, seu ativismo como adolescente, seu tempo de prisão, e faz do livro um alerta a todos os povos onde a liberdade, especialmente a liberdade de expressão, está ameaçada.

Enfim, Hong Kong, sob muitos aspectos, é um microcosmo de opressões totalitárias a que está sujeita ou de que está ameaçada parcela significativa da humanidade.

Diários de Wuhan” da conceituada escritora Fang Fang, contém o relato cotidiano das ocorrências e experiências vividas naquela província chinesa durante a quarentena lá decretada. Nas primeiras páginas encontrei um parágrafo que me reportou ao livro de Joshua. Diz a autora, referindo-se ao que viveu naqueles primeiros dias da pandemia, em seu epicentro: “Comportamentos habituais profundamente arraigados, como relatar as boas notícias e ocultar as más, impedir as pessoas de falarem a verdade, proibir o público de entender a verdadeira natureza dos eventos e expressar desdém pelas vidas individuais, levaram a represálias maciças contra nossa sociedade, males terríveis contra nosso povo (...)”.

Assim são os totalitarismos e assim são seus terríveis resultados, sempre sacrificando a liberdade, a verdade, a informação e, claro, as descartáveis vidas humanas.