Percival Puggina

29/10/2023

 

 

Percival Puggina      

        Na Universidade Federal do Amazonas, marmanjos e marmanjas tentaram expulsar a gritos e empurrões um palestrante judeu que precisou ser escoltado por PMs.

Em Brasília, a Caixa Cultural (da Caixa Econômica Federal) custeou e patrocinou a exibição de “O grito”, mostra de imagens onde a bandeira do Brasil é usada para agressivas e grosseiras mensagens politicamente afinadas com o atual governo da União.

O Ministério da Igualdade Racial gastou metade da verba de uso livre, que é de R$12,5 milhões, em viagens e diárias de assessores e dirigentes com destinos dentro e fora do país.

O governo, seu partido e seus militantes se recusam a qualificar o Hamas como organização terrorista. Responsabilizam Israel pelo indescritível ataque sofrido no momento em que negociava sua convivência pacífica com o Egito.

Em Goiás, professora de uma escola particular postou em rede social foto sua usando camiseta com a frase do artista Flávio Oititica – “Seja marginal, seja herói”.

Em todo o país, para o jornalismo militante (e qual não é, nos mais destacados veículos?), entrechoques entre policiais e bandidos só dão causa a críticas dirigidas aos primeiros e a análises sociológicas sobre a dura vida dos segundos. É raro, raríssimo, encontrar, aqui ou ali, um reconhecimento do valor, dos riscos cotidianos e das agruras inerentes à atividade policial. 

As Salomés da política, instaladas na pagadoria da publicidade oficial pedem aos Herodes de cada meio de comunicação as cabeças dos Joões Batistas conservadores ou liberais. Os Herodes entregam e o jornalismo brasileiro expurgou para as mídias sociais seus melhores profissionais.

O que une esses fatos, todos tão recentes, seja entre si, seja a muitos outros semelhantes no passado (e, com certeza, também no futuro)? Qual é o problema desse pessoal?!

Todos esses eventos envolvem o ativismo esquerdista e expressam características fascistas. Seus adversários políticos são o destino final de todas as maldições, vivem ao desamparo de direitos fundamentais e são as únicas pessoas no mundo a quem tratam como criminosos e para quem pedem cadeia... Sobre os verdadeiros bandidos, dizem que “no Brasil se prende demais” e que “prender não resolve”. Por isso, defendem o desencarceramento.

São filhotes de Mussolini. Querem a censura e a interdição dos “lugares de fala” de toda divergência. Festejam quando seus adversários são julgados à distância, por crimes que não cometeram e condenados a penas desproporcionais. Aplaudem a omissão do presidente do Senado e as manobras do presidente da Câmara. A discordância política sobre o agir das instituições é classificada como “discurso de ódio”.

Os atores desses eventos promovem usos abusivos de eventuais situações de poder. Alguns, como os marmanjos e marmanjas das universidades públicas, por serem majoritários, oprimem a minoria se ela se atreve a divergir. Outros, servem à causa ou querem atiçar a revolução social.

Já passou da hora de propor que a fobia à direita política – causa de discriminações, opressões e origem de violência – seja considerada, também, “crime análogo ao racismo”. Ah, Brasil!

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

26/10/2023

 

Percival Puggina

        Faça o teste: pense em um bem não material pelo qual você tenha apreço e verifique se ele não é combatido por esquerdistas e comunistas, ou seja, por gente de mentalidade revolucionária que se diz “progressista”. Depois, pense em algo útil à ascensão social dos mais necessitados e me diga: as mesmas facções políticas que combatem seus valores e seus bens culturais e espirituais, não atacam tudo que proporciona prosperidade material e desenvolvimento social – liberdade, empreendedorismo, combate às drogas e à criminalidade, abertura de horizontes?

Você sempre os verá em salas de aula à moda Paulo Freire, olhos postos no coletivo, na instrução de militantes da classe ou da causa, sejam elas quais forem. Por isso, o Programa Nacional de Educação está convocando para 28 a 30 de janeiro, em Brasília, a conferência “Plano Nacional de Educação 2024-2034: Política de Estado para garantia da Educação como direito humano com justiça social e desenvolvimento socioambiental sustentável”.

Fala sério! “Política de Estado”? “Justiça social”? “Desenvolvimento socioambiental”? E as nossas crianças e jovens? E sua formação? E o desenvolvimento proveitoso das potencialidades individuais para o bem deles mesmos, de suas comunidades e do país? Perceberam o quanto isso é atirar o futuro aos cães, para colocar todo o aparelho educacional a serviço do palavrório ideológico e dos interesses de um partido político e seus anexos? Quanto isso é igual ao que acontece em Cuba!

Platão dizia que a mentira é mãe de todos os vícios, mas deveria abrir espaço para apontar a omissão dos cidadãos como vício da tolerância perante os males proporcionados pelo Estado.

Pensando sobre o tamanho de nossa omissão, dei-me conta, outro dia, de ser ela uma das causas para que tantos congressistas, uma vez eleitos, saltem olimpicamente sobre os compromissos assumidos perante os eleitores e se bandeiem para a porta do Tesouro Nacional. Representantes de eleitores omissos, omissos serão, ora essa!

O Brasil tem 150 milhões de eleitores. Mesmo em nossas mais impressionantes manifestações levadas a cabo entre 2019 e 2022, quando cerca de seis milhões de cidadãos saíram às ruas e praças do país, 144 milhões assumiram que aquilo não lhes dizia respeito. Para cada patriota de verde e amarelo, outros 96 ficaram em casa assistindo futebol. No pleito de 30 de outubro do ano passado, 32 milhões de eleitores se abstiveram, 3,9 milhões anularam o voto e 1,7 milhão votou em branco.

A inércia que observamos no Congresso não é diferente da que vejo na sociedade. Por isso, a tarefa mais urgente das organizações liberais e conservadoras em formação no país deve ser a conscientização sobre as sinistras evidências dos males em curso. E a definição, em cada comunidade, das formas legítimas de ação social, política e cultural.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

25/10/2023

 

 

Percival Puggina

 

         Tenho visto pessoas generosas, dotadas de virtuosa rejeição à violência e à guerra, clamar por paz ante o atual conflito entre Israel e o Hamas, ou entre Israel e as organizações terroristas de seu entorno, sem dizer de onde viria essa paz.

Ora, senhores! Hamas, Jihad Islâmica, Al-Fatah, Estado Islâmico, Hezbollah, etc., estão para a paz no mundo assim como o câncer está para a saúde. A pessoa com câncer pode acusar a doença de seus males, mas só terá saúde quanto for curada a fonte desse padecimento. Portanto, não há como clamar por pacificação no Oriente Médio enquanto o terrorismo, lado agressor do conflito, não for eliminado como forma de ação política. É impressionante como as principais obviedades desse conflito parecem escapar à compreensão de muitas pessoas movidas pelas melhores intenções!

De todas as nações da terra, certamente Israel é a que mais precisa de paz. Precisa de paz para existir. O pequeno Israel sabe que sua existência causa desconforto religioso naquela região do mundo onde é um enclave e que jamais submeterá o imenso mundo islâmico em seu entorno. Pode até vencê-lo numa guerra, como já aconteceu, mas jamais submeterá vizinhos como Iraque, Síria, Jordânia, Egito, Líbia, Arábia Saudita, etc.

Sua segurança, portanto, depende de uma política de pacificação e boa vizinhança, como a que vinha sendo costurada com o Egito, claro. Mas depende de que reaja com vigor às agressões sofridas. Não se trata de mera retaliação, ou seja, na forma da Lei de Talião. Essa é a lei do empate; olho por olho, dente por dente. Seria, então, estupro por estupro, monstruosidade por monstruosidade?

Ou seja, para sobreviver, Israel precisa, quando agredido, reagir com todas as cautelas relativas às populações civis e em conformidade com as Leis da Guerra (jus in bello). Contudo, a proporcionalidade entre ataque e resposta ao ataque seria um estímulo à continuidade das ações do Hamas. Exposto a reiteradas agressões, Israel precisa conter definitivamente o terrorismo. 

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

23/10/2023

 

Percival Puggina

 

         Décadas de vida e centenas de debates políticos me proporcionaram boa experiência em lidar com interlocutores esquerdistas. Ao escrever sobre eles devo dividi-los em dois grupos: o das raras e brilhantes exceções e o dos seguidores da regra geral que consiste em tentar vencer sem ter razão.  Confrontar opiniões com o primeiro grupo era instigante e proveitoso; com os demais, um exercício de comiseração para com a miséria moral alheia, que tem tudo a ver com o que chamam “luta política”. Ela justifica tudo, menos a si mesma porque são termos antagônicos: ou é política ou é luta.

Mesmo assim, procure no Google a expressão “luta política”. Vai encontrar mais de meio milhão de referências em português, um milhão e meio em inglês (political fight) e quase dois milhões em espanhol (lucha política). Achou muito? Dê uma olhada nos textos em que as expressões aparecem e verá que em sua totalidade são de viés esquerdista. A conexão de “política” com “luta” está no DNA da esquerda; as duas palavras são o espermatozoide e o óvulo da revolução.

Conservadores e liberais não usam essa expressão. Ao menos, nunca me deparei com ela sendo utilizada fora da cartilha esquerdista. Sempre a vi como incitação à luta ou como rota de fuga para a desonestidade intelectual justificando meios viciosos com a suposta virtude dos fins.

Perdi a conta das vezes em que ao apontar e advertir o interlocutor por suas contradições, falácias, mistificações, ou agressividade verbal, ouvi como explicação: “É a luta política, Puggina”. Isso é dito como salvo-conduto para impropriedades ou como proveitoso passaporte retórico que credencia o portador a se conduzir como um James Bond, um 007 em relação à verdade ou à reputação alheia, a serviço de sua majestade – a revolução proletária.

Esse aparentemente simples dado da realidade explica muitos dos acontecimentos brasileiros dos últimos anos. Políticos, cidadãos ocupantes de posições de representação e relevo social, titulares de nobres funções de Estado, fizeram coisas que lhes seriam inconcebíveis, contradisseram as próprias palavras ditas e escritas, afrontaram as respectivas biografias, puxaram intocáveis cordéis por exigência da “luta política”. Ou da política transformada em caricatura de si mesma, com danos à democracia, ao estado de direito e à liberdade dos cidadãos.

Enquanto esse modo “vale tudo” de fazer política não for percebido e rejeitado pela sociedade, ou seja, por quem está nas galerias e vota, o palco da disputa pelo poder continuará sendo o preferido das tragédias sociais.  Como afirmei no parágrafo inicial desta crônica, ao falar sobre as “raras e brilhantes exceções”, já conheci gente melhor.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

22/10/2023

 

Percival Puggina

        

         Escreveu alguém, não lembro quem, que a anistia funciona sobre o ambiente político como rescaldo em área incendiada, quando se borrifa água para extinguir focos de fogo ou brasa persistentes junto às cinzas.

Imposição de um já longo momento histórico

O momento político brasileiro se inclui entre os mais complexos de que tenho lembrança. Há quase cinco anos o país convive com a censura, com os assuntos proibidos e as opiniões restritas, com a ditadura do consórcio de mídia e a manipulação da informação, com o cerceamento das redes sociais e com a teimosa recusa às urnas com impressora. Assistimos o tratamento díspar proporcionado às forças políticas em confronto e vimos a carranca ameaçadora dos inquéritos do fim do mundo num mundo sem horizonte. Há setores da sociedade que a tudo chancelam e aplaudem delirantemente. Por vezes, o aplauso tributado a uns foi, também, o apupo dirigido a outros e um contundente depoimento coletivo...

Assisti a isso durante quatro anos e continuo assistindo. Para descrever as causas da completa erosão do ambiente político nacional, devo ainda devo acrescentar dois itens: a surdez institucional à voz das ruas, significando omissão e desprezo à opinião pública e o alinhamento político da sólida maioria dos ministros do STF/TSE. Tal conduta tem sido proclamada com sinceridade cristalina em sucessivas e repetidas manifestações. “Perdeu mané!”, “Missão dada, missão cumprida”, “Tem muito mais gente para prender e multa para aplicar”, “Derrotamos o Bolsonarismo”, “Lula não estaria no Planalto se o STF não tivesse enfrentado a Lava Jato”.

Prisões políticas do passado

         Em passado nada recente, tivemos presos políticos. Muitos eram terroristas de fato, pertenciam a organizações políticas cujo viés revolucionário e comunista estava expresso nas siglas usadas, onde o C era “comunista”, o R era “revolucionário”, o T era “trotskista”, o B era “bolchevique”, etc. Pegaram em armas e cometeram muitos crimes de sangue. Foram anistiados em 1979.

Aliás, a história da República registra quase meia centena de anistias concedidas. No geral, decorreram de negociações políticas, lidaram com processos em curso e condenações penais envolvendo indivíduos ou grupos. No final dos anos 70 do século passado, forte mobilização ganhou as ruas pressionando o governo por uma anistia “ampla, geral e irrestrita”. Graças a ela, militantes da esquerda voltaram ao Brasil, outros saíram das prisões, outros ainda deixaram a clandestinidade e se incorporaram à dinâmica normal da vida política.     

Ao assinar a lei de anistia, em 28 de agosto de 1979, Figueiredo reconheceu “que ela não desfazia divergências”, ao contrário, estas “se refaziam pela liberdade”. Era preciso, porém, continuou, “desarmar os espíritos pela indispensabilidade da convivência democrática”.

Temos mais presos políticos do que Cuba

Passado meio século, o Brasil volta a ter presos políticos. E os tem em número superior aos de Cuba.

Mais de 1,5 mil cidadãos suportaram a pecha de terroristas a eles aplicada por ministros do STF que tinham o dever de saber a diferença conceitual e penal entre 1) estar na praça, 2) invadir um prédio 3) promover um quebra-quebra; 4) praticar golpe de estado e 5) executar um ato de terrorismo.

Permaneceram presos durante meses, submetidos às mesmas “excepcionalidades” circunstanciais que impulsionaram extravagantes decisões judiciais durante a campanha eleitoral de 2022. Os que voltam para casa, portam tornozeleiras e deixaram no presídio direitos de sua cidadania.

Os julgamentos a que assisti me revoltaram o estômago. Apenas o “animus condenandi” foi presença mais presente do que a ausência dos réus. Ah, senhores, as penas! Penas desproporcionais destroem o senso moral da sociedade! Lembro do mesmo tribunal julgando os réus do mensalão. O processo evidenciara o uso da publicidade oficial para financiar, durante o governo Lula I, a compra de votos no Congresso Nacional. O sistema funcionava mediante três núcleos articulados e usados como tais no julgamento: o publicitário, o financeiro e o político. Dentro deles se posicionavam os réus. Tudo caracterizava o crime de formação de quadrilha, só que não. Embora também por esse crime os réus tivessem sido condenados, um recurso de undécima hora, valendo-se do que Joaquim Barbosa chamou maioria de ocasião, excluiu as condenações por formação de quadrilha. Como consequência, os réus do núcleo político escaparam de cumprir parte das penas em regime fechado. Quem tem padrinho não morre pagão e quem não tem comete crime até por estar sentado na praça, numa cadeira de praia, comendo algodão doce.

Os atuais projetos de lei propondo anistia

Sei de três projetos, dois na Câmara dos Deputados (de autoria do Major Vitor Hugo e José Medeiros) e outro no Senado Federal (de autoria do senador Mourão). Têm características diferentes, mas não é impossível chegarem os autores a um acordo.

O que torna indispensável a anistia é o somatório de “excepcionalidades”, o abandono do senso de proporção na fixação das penas e o total desconhecimento das atenuantes. Como desconhecer a cultura política impressa no inconsciente popular em um século e meio de história da República, que sempre viu nas Forças Armadas a função de última instância que nossas constituições jamais providenciaram?  Isso para não falar das atenuantes proporcionadas pela própria atuação dos ministros ao longo dos últimos anos. Eu não aprovaria anistiar os depredadores infiltrados ou não, presentes ou ausentes. Para os demais, contudo, a anistia é exigência do senso de justiça. Ou da aversão à injustiça. 

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

Percival Puggina

19/10/2023

 

Percival Puggina        

         Quanto mais amplo for nosso vocabulário, mais longe irão nossa imaginação, nossa compreensão e nossa expressão. E vice-versa, palavras poucas, ideias poucas. Palavras são matéria-prima da Política, do Direito, da Justiça, da Filosofia, da Fé e de tantas ciências. E da Literatura, e da Poesia, e do Amor.

Dois exemplos recentes me fazem escrever sobre  a importância da luta pelas palavras. Fato 1: O leitor certamente observou o empenho com que o presidente Lula e a esquerda – brasileira e mundial – trataram de driblar por todos os modos a inclusão do vocábulo “terrorismo” e seus derivados nas referências ao grupo terrorista Hamas,  conhecido parceiro de tantos. Ficou visível a luta pela palavra. Fato 2: Em evento de que participei, um orador incluiu entre seus bons objetivos o de contribuir para  a construção de uma “sociedade igualitária”. Ora, sociedade igualitária é o paraíso prometido pelos adversários políticos do orador, mas ele e tantos outros o referem sem se darem conta. Comunistas prometem sociedades igualitárias embora proporcionem inevitávelmente sua consequência natural: miséria generalizada. As desigualdades entre os indivíduos só não afloram sob pressão e opressão de regimes totalitários. No entanto, a palavra adoça a pílula com o veneno que contém e submete até quem o conhece.

A esquerda possui total domínio desse instrumento de dominação cultural. Em 2005, Nilmário Miranda, Secretário de Direitos Humanos do governo Lula I, divulgou a minuta de uma “Cartilha do Politicamente Correto”, com um glossário de 96 palavras reprováveis, avaliadas como politicamente incorretas, por criarem constrangimentos.

O documento causou generalizadas manifestações que iam da ironia à indignação. À exceção da Folha de São Paulo, nenhum jornal o apoiou. O PT disse que o assunto tinha que ser melhor avaliado. Lula I, indignado, mandou recolher a cartilha. O sempre brilhante João Ubaldo Ribeiro disparou um libelo cuja íntegra pode ser lida aqui. Nele, entre outras coisas, diz:

“É estarrecedor. Estamos ingressando numa era totalitária, em que o governo dá o primeiro passo para instituir uma nova língua e baixar normas sobre as palavras que devemos usar? Será proibido em breve o uso de palavrões na língua falada no Brasil? Serão eliminadas dos dicionários vocábulos e expressões não consideradas apropriadas pelo Governo? Palavras veneráveis da língua, como “beata”, em qualquer sentido, deverão ser banidas? Será criada uma polícia da linguagem? Os brasileiros serão proibidos por lei de discutir vigorosamente e xingar os interlocutores?”.

Dezoito anos depois, temos que lutar pela vida das palavras, de seus significados e liberdade como lutamos por outras formas de vida. O politicamente correto foi mais uma poderosa arma de guerra cultural, importada e traduzida para o português e, sim, João Ubaldo Ribeiro tinha razão, ingressamos numa era totalitária. Ela é tão sutil que muitos não percebem sua liberdade esvair-se enquanto o exército malandro da guerra cultural vai avançando e apertando os grilhões.

Nós, porém, nos empenhamos em preservar a vida que resta. Por isso, tantas vezes nos percebo como corpo clínico de hospital de campanha numa guerra pela liberdade e pela cultura ocidental.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

Percival Puggina

18/10/2023

 

Percival Puggina

         Há muitos anos, o Rotary Clube da bela e próspera cidade serrana de Flores da Cunha decidiu dedicar uma semana do ano para valorizar a Ética nas relações sociais, políticas e econômicas. No evento deste ano, fui convidado a proferir palestra no Espaço Cultural São José. Escolhi o tema que dá título a este artigo.

Ninguém divergirá quando digo: quem dera houvessem Semanas da Ética na ONU, em Nova York, em Paris, em Londres, em Davos, em Brasília e por aí afora! É fácil antever e penoso conhecer o desastre que sobrevém quando a Ética se torna objeto de desprezo!  

Centrei a exposição na notável reciprocidade da relação entre Ética e Liberdade. Não há Ética sem Liberdade nem esta sem aquela! A Ética pressupõe que as escolhas individuais transcorram num ambiente de Liberdade e o exercício da Liberdade resulta impossível onde não existam impedimentos éticos. Talvez esta seja a principal razão pela qual não se deve fazer concessões à supressão da Liberdade em qualquer de suas manifestações, observados os limites impostos pela Moral que inspire leis sábias.

Contra todo o relativismo moral e o autoritarismo estatista, há uma Lei impressa na natureza do ser humano.  É dela que fala a Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776) quando afirma tão nobres princípios de Direito Natural:

“Nós consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens foram criados iguais, que foram dotados pelo seu Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes se encontram a vida, a liberdade e a busca da felicidade.”

Dos direitos inalienáveis, decorrem as normas morais formuladas nos 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, hoje subscritas por 193 países em eloquente demonstração da natural universalidade desses preceitos.      

Contudo, não podemos esquecer que a Ética não se satisfaz com a liberdade do laissez faire. A Ética é uma ciência especulativa que busca o conhecimento do Bem e a natureza humana, sendo no vínculo das ações humanas com o Bem que a Ética encontra sua expressão. Obviamente, ela não acompanhará ações orientadas para o Mal.

Olhando para nós mesmos, percebo que somos dotados de inteligência para conhecer o Bem, de Liberdade para escolher o Bem e de vontade para resistir o que nos afasta do Bem ou nos atrai para o Mal. E isso me parece tornar evidente que a Ética só é possível numa sociedade de pessoas livres. Ética e liberdade, feitas uma para a outra.   

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

16/10/2023

 

Percival Puggina

      

         Confesso a vocês que nunca ouvi, nem li, nem assisti sob a égide da nova constituição, ações sistêmicas como as destes dias, dos quais se diz estarmos vivendo a vitória eleitoral do amor.

Há uma uniformidade, um equilíbrio de cadências entre os textos e opiniões do jornalismo militante e os de seus companheiros nas redes sociais. Os primeiros escrevem menos pior do que os segundos, não usam palavras de calão e essa é a única diferença. Em todos, porém, se percebe o mesmo ódio à divergência, à oposição política, à conservadores, a liberais, a religiosos, a patriotas, a pró vidas, a direitistas (categoria inexistente porque são sempre descritos como integrantes da extrema-direita). Assim também na voz e nos atos do governo.

As engrenagens da máquina estatal, rangem, ferro contra ferro, promovendo vinganças e punindo de modo exacerbado. Autoridades investidas de poder de Estado sequer percebem mais o ódio que exalam no falar. E como falam! E quanto falam! Os fundamentos da esperança de um povo que viu o exercício de sua liberdade ser objeto de ameaça e duríssimas punições são objeto de orgânica destruição. A Lava Jato – combatida, revertida, invectivada, desmontada, destruída – faz lembrar essas ruínas de bombardeio que nos são servidas na tela da TV. Nenhum mérito pode ser resgatado dos escombros enquanto os ladrões são apresentados como heróis e os heróis como ladrões.

Mas o amor, dizem, venceu o ódio.

Neste momento, recebem duas lições da História. Numa, veem com os próprios olhos o que é terrorismo, palavra que não pode ser vulgarizada como foi após a “vitória do amor”, em discursos políticos rasteiros e oportunismos retóricos. Noutra, os mesmos – não são todos (mas são tantos!) – apoiam as ações e/ou motivações do Hamas, enquanto aqui tentam impor o desarmamento da população civil, esquecendo os eloquentes conselhos em sentido oposto que nos vem do Oriente.

Eu posso abrir mão do direito de me defender; mas não posso abrir mão do dever de defender minha família. E esse não é um amor de cabaré que a ninguém convence, mas é amor de verdade!

Para encerrar estas considerações sobre a vitória do amor, trago palavras proferidas pelo ministro Gilmar Mendes, em Paris, num fórum promovido pelo Grupo Esfera Brasil dias 13 e 14 deste mês.

Disse ele, referindo-se aos episódios de 8 de janeiro:

Poderíamos estar “contando uma história de derrocada, mas estamos contando história de vitória do Judiciário e do TSE (aqui).

Disse mais:

“Muitos dos personagens que hoje estão aqui, de todos os quadrantes políticos, só estão porque o Supremo enfrentou a Lava Jato. Eles não estariam aqui. Inclusive o presidente da República, por isso é preciso compreender o papel que o Tribunal desempenhou” (aqui).

Disse ainda:

"Se a política voltou a ter autonomia, gostaria que se fizesse justiça, isso foi graças ao Supremo Tribunal Federal. Se hoje tivemos a eleição do presidente Lula, isso foi graças ao Supremo Tribunal Federal. Vamos travar a luta contra o poder absoluto, mas também a luta contra o esquecimento. Se a política deixou de ser judicializada e criminalizada, isso se deve ao Supremo Tribunal Federal" (aqui).

A parte dessa fala com a qual eu concordo, sempre reconheci, mas não poderia ser dita. Agora, até o ministro decano do STF proclama com o orgulho e a temperança que lhe são habituais.

O amor é lindo!

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

14/10/2023

 

Percival Puggina

       

        Esquerdistas festejaram. “O amor venceu!”, afirmavam, porque o retorno de Lula ao Palácio do Planalto representaria a consagração de um generoso projeto político. Afinal, o PT voltava lavado, enxugado, passado (passado apagado, quero dizer), ficha limpa para realizar o sonho de seus “pais fundadores”. As portas se abriam às delícias de uma sociedade igualitária, paraíso terrestre de que o esquerdismo fala nas salas de aula, nas redações e nos microfones, nos púlpitos, nos palanques, nas tribunas e nos tribunais. Bons parceiros para isso não faltam no Foro de São Paulo.

Com meus duvidosos botões pensei ser bem mais simples começar a experiência nos próprios “coletivos” em que se agrupam os militantes dessa ideologia. Ou seja, comecem com o exemplo de suas lideranças. Por certo, algo nesse sentido emergiria das três dezenas de comissões de transição instaladas após o pleito do ano passado. Naquela mescla de figurões e figurinhas, mais de mil pessoas – lembram? – transitaram junto com a transição até a posse de Lula. Raramente se viu tão prolongado desapego aos próprios interesses e ocupações para servir à causa de uma sociedade igualitária.

Por ela lutavam os integrantes do Movimento dos Sem Pasta. Eram tantos e tão valiosos os servos da Pátria que foi necessário aumentar em 65% o número de pastas ministeriais fazendo-as saltar de 23 para 38. O serviço total a ser executado pela União permanece o mesmo. O governo está, apenas, proporcionando à sociedade um exemplo inspirado na partilha cristã: dar ministérios e diretorias a quem não tem. Você é que não entendeu o espírito da coisa.

Michel Temer, entre realizações boas e indicações terríveis, conseguira aprovar a Lei das Estatais fechando a porta das empresas federais às indicações políticas e exigindo provas específicas de competência, experiência e desvinculação dos comandos partidários. Bastou isso para que, nos anos subsequentes, as empresas do Estado deixassem de contabilizar prejuízos, acabasse a corrupção e surgisse essa coisa chamada lucro que o esquerdismo considera moralmente desprezível.

O “espírito da coisa” exigia haver partilha, mas como promovê-la, sem o comando das estatais? Era imperioso estar dentro e, para entrar, impunha-se revogar as exigências da Lei das Estatais, tarefa da qual a nova legislatura não queria nem ouvir falar. Levado em mãos pelo PCdoB, o recurso ao Supremo (ADI 7331) bateu na mesa do ministro Lewandowski e voltou atendido. Os cargos e penosos encargos podiam ser, novamente, confiados aos companheiros.

No mesmo momento, o espírito da coisa foi embora pela chaminé. Hoje, há ministros do governo com remunerações catapultadas para 70 e até 80 mil reais mensais. Para os dirigentes das estatais, o infinito fica ao alcance da mão.

E a sociedade igualitária? E a vida modesta de que tanto falava Lula? E a “partilha”? É com o dinheiro dos outros que ela se faz? Para o bem da “partilha”, os companheiros têm que viver com mais e todos outros com menos? Entendi.

“A hipocrisia é o movimento de poder definitivo. É uma forma de demonstrar que se segue um conjunto de regras diferentes daquelas atendidas pelas pessoas comuns.” (Michael Schellenberger)

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.