(Publicado originalmente em http://b-braga.blogspot.com.br/)
Com os sucessivos escândalos que diariamente chocam o país, o que escrevo aqui pode estar desatualizado ou fora do tempo. No entanto, mesmo com a avalanche de notícias e denúncias, é algo que não pode ficar para trás, soterrado: trata-se de um documento emitido pela CNBB sobre a grave crise política.
Não, o objetivo não é fazer um comentário exaustivo do documento. Não é tratar das atribuições específicas da CNBB nem da falta de legitimidade da Conferência dos Bispos para apresentar-se em nome da Igreja - como se fosse (a) Igreja Católica - em questões políticas. Não cabe falar sobre o tom de declarações do mesmo tipo, afinadas frequentemente com o esquerdismo. Não é o momento para narrar o aparelhamento da CNBB, que, como já é de conhecimento público, contribuiu de forma decisiva para a ascensão do criminoso esquema de poder comuno-petista. Não. O objetivo é considerar um ponto bem determinado do documento: a exigência de "um resgate da ética na política".
Parece um mau sinal o fato de uma declaração assinada por Bispos católicos não conter uma só menção a Nosso Senhor Jesus Cristo. Para pastores que se mostram tão preocupados com a corrupção da classe governante, é no mínimo estranho não trazerem à consciência das pessoas o temor e a justiça de Deus, e o próprio Jesus Cristo como modelo de conduta. Eles reivindicam e exigem a ética, mas se esquecem até mesmo da lei divina, que já determina: "não roubar", "não levantar falso testemunho", "não cobiçar as coisas alheias".
De qualquer maneira, o que é a tal ética? Os Bispos, aparentemente, fazem referência a uma "conduta íntegra" - por parte do servidor público - e aos "valores" da "honestidade" e da "justiça social" - exigidos para que se tenha um "novo modo de fazer política".
Claro, normas de conduta são importantes. Contudo, elas estabelecem compromissos na camada mais superficial da vida humana, no domínio estritamente mundano e material. Tais compromissos, para serem efetivos, precisam de outros ainda mais profundos, que sejam capazes de comprometer a pessoa inteira. Sim, pois a atividade - a política, especificamente - ocupa somente um período de tempo na vida diária, apenas uma parte da existência, enquanto a virtude precisa abarcar a pessoa como um todo, e não só no instante em que está dedicada ao serviço público, mas em todos os momentos e para além do tempo.
No âmbito mais profundo do ser, o que vem do exterior tem uma voz mais baixa e uma autoridade mais frágil, que precisa muitas vezes da vigilância, da correção e até mesmo de uma pena. Nesse domínio, é necessário estabelecer um compromisso do coração, que é mais dócil - não à letra, a uma norma de conduta - mas a outra pessoa. Talvez seja possível verificar isso na própria experiência, pois parece evidente que um compromisso com o pai, com a honra da mãe, ou uma palavra dada ao irmão, inflamam na pessoa uma seriedade e uma dedicação superiores aos apelos vindos de um código de postura no trabalho. Agora, e se essa pessoa for mais que o pai, a mãe e o irmão, uma vez que só ela tem acesso ao coração do indivíduo? Uma pessoa que é ela mesma o caminho, a verdade e a vida, e que ao encontrá-la se estabelece um compromisso com uma justiça que ultrapassa o tempo e que é para toda a eternidade. Pois foi justamente essa Pessoa que os Bispos esqueceram de mencionar no documento, embora eles mesmos tivessem o dever de representá-La.
Enfim, o documento da CNBB, longe de ser uma luz, é ele mesmo expressão de uma crise ainda mais profunda, pois mostra, infelizmente, a incapacidade dos Bispos para indicar o único antídoto contra o Mal, o apoio firme e sólido contra as incertezas e o caos político, o modelo a ser seguido e único capaz de possibilitar uma conduta efetivamente íntegra. Em vez de falarem ao coração, muitos deles cederam à tentação de politizar a fé. Aliás, tudo não começou com uma campanha comuno-petista pela ética na política, "abençoada" por "apóstolos" de uma teologia fraudulenta - a Teologia da Libertação? As consequências estão ai. No Centenário de Nossa Senhora de Fátima, é impossível não lembrar a sentença profética da Irmã Lúcia: "são cegos a guiar outros cegos".