• Genaro Faria
  • 10/03/2017
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TO BE OR NOT TO BE



                         Se o genial Willian Shakespeare fosse nosso contemporâneo, Hamlet, seu mais famoso personagem teria sido abortado pelo relativismo. Só restaria ao bardo de Stratford-upon-Avon, na mais doce das hipótese, escrever novelas da Globo ou pontificar numa produção de Hollywood.

                        Graças ao proletariado intelectual acadêmico pós-moderno essa angústia existencial que Shakespeare projetou em seu personagem, comum ao ser humano, passou a pertencer ao "atraso". Para seus luminares, nada pode ser tudo e tudo pode não ser nada. Por isso é importante duvidar de tudo. E do nada. O importante é ser racional.

                       Essa fantástica ideologia inspirou um poeta católico italiano: Os racionalistam ensinam que é preciso duvidar de tudo: então eu comecei por duvidar da razão.

                      Como eu não pertenço ao privilegiado círculo de nossos intelectuais proletários, pois não passo de um vivente que nem sei de onde vim nem como será meu fim, aos poucos, mas peregrinamente, deliberei apagar os bruxuleios da razão que me iluminavam e busquei a altíssima primazia da inspiração que nos invade o mistério que sempre nos escandaliza. E por isso mesmo só pode ser revelado, jamais racionalizado.

Mas sempre se pode especular. E se deve, porque é próprio do ser humano. E inseparável da sua liberdade. O que eu peço é um ponto de apoio. Que não seja para saber quem eu sou - de mim mesmo e de minhas circunstâncias - mas pelo menos para saber o que eu não sou - nem devo ser.

No entanto, o relativismo progressista dos proletários intelectuais - que é mais presunçoso do que tampa de privada; crente que está abafando - não se compadece de minhas angústias. Tertium non datur. Ou acredito no relativismo ou dele sou seu inimigo. Um ser desprezível, deplorável.

Pois aqui vai meu humilde veredito: O que sou não sei; mas sei o que não sou. Eu não sou idiota - meu umbigo não circunscreve meu mundo; sei que a raça humana é uma só, com diversas maquiagens biológicas - e que só a raça humana é assim; sei que o sexo não é uma aberração da natureza, mas uma bênção que preserva a procriação de todas as espécies; e que o ser humano é de todos os seres viventes o mais frágil ao nascer - e que os primeiros cuidados que recebe de sua família não são para ensiná-lo a caçar ou se proteger de seus predatores, mas para amar e respeitar seus pais.

Tudo isso, e muito mais, é comum a todo ser humano em todos os tempos e nos mais longínquos quadrantes de nosso satélite solar. A diversidade de cultos e crenças em nada infirma a consciência universal de nossa transcendência. Antes a confima nas mais variadas cultura de nossas latitudes.

Mas os revolucionários querem recriar o mundo. Destronar Deus para criar um novo mundo e um novo homem. Revogar, por decreto, nossa expulsão do paraíso. E substituir Deus pelo Estado. Onde os serafins, querubins e arcanjos serão sumariamente demitidos - e exemplarmente executados - como opressores da humanidade. Para que seus líderes sejam louvados incondicionalmente.

É louco demais? Claro que é. Mas não mais do que consta dos escritos de Karl Marx, Friedrich Engels, Vladimir Lenin, Adolf Hitler, Antònio Gramsci, Saul Alinski, Herbert Marcuse e outros próceres do socialismo. E dos iluministas franceses que os antecederam: Voltaire e Diderot.

A fralda da cegonha não vem com um manual de instrução. Mas sei o quanto de verdade verbalizou o jagunço Riobaldo de Grande Sertão: Veredas: "Juventude, doutor, é para a gente se arrepender mais tarde".

Aos trancos e barancos eu aprendi: Escolhas são políticas. Um vasto território pantanoso.

Mas eu não me engano. Deus inscreveu em cada ser humano o consciência ética. Se não sei o que sou, sei o que não sou. - Not to be.