Marcos A. F. Martins (Marcos Canaã)
Cansado de ouvir os cantos
e ver flores nas janelas,
ele nos impôs o pranto,
nos encerrou numa cela
e se esqueceu, entretanto,
que a vida é, por si só, bela.
Não amando a liberdade
dos pombos, pardais e garças,
decretou o fim das tardes
e fechou todas as praças,
mas o sol que, no alto, arde
não se deteve em mordaça.
Por lhe afligir o futuro,
por temer a esperança,
ele nos ergueu um muro,
sustou o riso das crianças,
mas não percebeu que o puro
sobrevive na lembrança.
Contra livres pensamentos
e opiniões dos vassalos,
não ouviu a voz do vento
nem o gorjear dos galos,
se perdeu em seu tormento
e se fechou no seu valo.
Vestido de negra toga,
de cátedra, a comandar,
não leu a rima que advoga
pelo direito de amar
nem o poema que roga
ante o bramido do mar!