• Cel. Luis Alberto Villamarín Pulido
  • 19/04/2015
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SOBRE O ATAQUE DAS FARC NO CAUCA


O duro golpe propinado pelas FARC às tropas da Terceira Divisão no Cauca, na madrugada do dia 15 de abril de 2015, reafirma uma vez mais que desde a aparição das guerrilhas comunistas na Colômbia, os sucessivos governos, sem exceção, atuaram sem estratégia nem coerência político-militar frente ao problema, enquanto que as FARC seguiram ao pé da letra os conteúdos de seu Plano Estratégico, os documentos programáticos e a re-engenharia de seus programas políticos e armados, traçados durante cada uma das conferências guerrilheiras e os Plenos ampliados do Secretariado.

Com habilidade tática em guerra de guerrilhas e camuflados dentro da população civil previamente organizada em Milícias Bolivarianas, Movimento Bolivariano Clandestino e Partido Comunista Clandestino, as estruturas armadas das FARC “construíram mais Partido Comunista na periferia, para ir rodeando os centros de poder político-social e econômico da burguesia em 30 cidades do país”, como aparece textualmente em alguns de seus escritos.

Ao cotejar o mapa da Colômbia com os conteúdos dos documentos programáticos das FARC, com seu Plano Estratégico e os fatos paralelos à mesa de conversações em Cuba, salta aos olhos que o problema da zona Pacífica não é somente a atividade armada das quadrilhas que delinqüem no estado do Cauca, pois esta ação é apenas uma parte do projeto a longo prazo: rodear a “periferia” de Cali, Popayán, Buenaventura, Tumaco, Quibdó, controlar todo o litoral Pacífico, dominar os estados de Nariño, Cauca, Valle e Chocó, e assegurar o controle fronteiriço com Panamá e Equador, da mesma maneira que o ISIS pretende fazer desde Iraque e Síria com Turquia e Jordânia.

Essa mesma construção geo-estratégica de zonas controladas pelas Milícias Bolivarianas, respaldada por organizações populares inclinadas ao terrorismo (as mesmas que clamam aos céus cada vez que alguém assinala tal realidade), está se desenvolvendo de maneira sistemática em toda a periferia da Colômbia, para quando as guerrilhas tiverem maior fortaleza ou quando, produto de um acordo político, os cabeças das FARC que não pagarão cárcere, adequarem as condições para o assentamento do Socialismo do Século XXI.

Nesse sentido, como pormenorizaram os teóricos da guerra revolucionária, as guerrilhas são um estímulo à subversão. Essa é a parte fundamental do Plano Estratégico das FARC que sábios e ignaros do assunto, nem entendem nem se deixam explicar.

A soberba é a pior conselheira em assuntos de guerra e paz. Para as FARC, as conversações em Cuba são mais um passo do materialismo dialético e mais uma etapa de seu avanço para a tomada do poder porque “juraram vencer”. Para seu ensoberbecido inimigo de classe, como denominam o fissurado estabelecimento colombiano, a paz é a oportunidade de que os terroristas silenciem os fuzis e se mantenha o status quo das “famílias donas do país”, acolitadas por séquitos imersos na corrupção e politicagem. Assim, a grande massa colombiana está sujeita ao vai-vem da violência terrorista comunista e à violência por inação dos auto-convencidos donos do poder.

Nesse cenário, o Exército colombiano, obrigado por dever constitucional, entrega o melhor da juventude colombiana para defender umas castas inoperantes e corruptas para que o país não caia nas mãos de criminosos comunistas, tão corruptos e talvez pior de sinistros do que os que desejam substituir, sem que o Congresso da República cumpra sua função constitucional para a qual foi eleito, que é a de exercer controle político e penal sobre as atuações do presidente.

Como o governo nunca - pois não é somente agora - teve estratégia clara para se opor ao Plano Estratégico das FARC, hoje os terroristas dirigem a agenda e os tempos em Cuba. E por meio de argúcias habilidosas como a falsa promessa publicitária de um cessar fogo unilateral, cacarejado por estrategistas de escrivaninha e analistas do divino e do humano, exigiram a suspensão dos bombardeios sobre as guaridas, urdiram a farsa do desminado tão defendido pelos míopes assessores e contratados de caríssimos e improdutivos estudos governamentais, e mil tramas mais, enquanto em Cuba aproveitam as longas ausências dos negociadores oficiais para comprar armas dos traficantes internacionais, planejar e aprovar ações audaciosas como a ocorrida em Buenos Aires-Cauca, com os claros propósitos de pôr contra as cordas a escassa credibilidade do presidente Santos, pressionar com os cúmplices desarmados o cessar fogo bilateral e ganhar tempo nos objetivos de seu Plano Estratégico.

Entretanto, a soberba de Santos, seu ministro Pinzón e o enorme séquito de congressistas da Unidade Nacional, carentes de conhecimento político-estratégico da guerra que todos os dias se tece desde selvas e montanhas contra a institucionalidade colombiana, deixam à deriva os soldados de diariamente recebem mensagens ambíguas, ameaças veladas do Ministério Público, mensagens utilitaristas nascidas da briga pela torta burocrática entre o mandatário atual e seu antecessor, mensagens críticas aos montões pelas redes sociais e pouca clareza de seus comandantes acerca do que fazer, não por falta de vontade da liderança militar, senão por falta de clareza da direção política do Estado e a missão das tropas.

A explicação é simples. Tome-se como referência a frase do marechal alemão Von Clausewitz: “A guerra é a continuação da política por outros meios”. Esta frase vista em sentido prático, quer dizer que um Estado vai à guerra quando sua política falhou e com maior razão quando não há uma política clara como ocorre na Colômbia, onde há várias décadas o Partido Comunista declarou a “combinação de todas as formas de luta” como o método ideal para ascender ao poder, substituir a odiada oligarquia e impor uma ditadura totalitária.

Por desgraça, em vez de entender isso caiu-se no erro de acreditar que os terroristas renunciarão a seus objetivos, cada presidente se crê um Messias sem estratégia, e seus funcionários e assessores se crêem doutos sobretudo do que não conhecem.

Enquanto isso a Colômbia continua afundada no atraso terceiro-mundista nas zonas onde as guerrilhas são a força co-ativa e a construção do embrião do Estado marxista-leninista, em que pese os cantos de sereia e auto-elogios dos melhores ministros do continente, condecorações coordenadas pelos embaixadores para os mandatários de turno e o tropicalismo que nos caracteriza.

Portanto, as FARC aplicam os princípios da guerra com ênfase na surpresa, conservam a iniciativa estratégica e manipulam a opinião pública. Ao mesmo tempo, humildes colombianos ataviados com o uniforme da pátria caem crivados de balas ou ficam inválidos pelo resto de suas vidas, com a triste realidade de que o lamentável fracasso operacional que custou a vida de 11 soldados e graves feridas em outros mais, não será o último deste prolongado sangramento, pois por desgraça a direção política da guerra está falhando, quer dizer, não há clareza nem objetivos estratégicos.

Doa a quem doa, essa é a crueza do atual cenário de guerra e paz na Colômbia.

* Analista de assuntos estratégicos
www.luisvillamarin.com