• Silvia Scipioni
  • 01/10/2014
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SOBRE A POLÊMICA EM TORNO DOS CRUCIFIXOS NAS DEPENDÊNCIAS DO JUDICIÁRIO

 

Crucifixo tem muitos simbolismos, mas não exatamente como crucificação romana. Os Romanos pregavam os condenados em estacas presas em árvores ou madeiras. A cruz era um símbolo pagão e de muitas seitas antigas, e seu significado maior era a iniciação ou o sacrifício de nosso eu inferior para permitir a descoberta e atuação do eu superior. Foi usado na mitologia grega, egípcia (Horus era mostrado crucificado) e foi também o símbolo de um dos mais importantes deuses persas e romanos, o deus mitra, que era representado por um touro e cujo significado era “Sol Vencedor” e cuja data de nascimento era comemorada no fim do solstício de inverno, em que o sol parece se fortalecer, e adotado depois pelos cristãos como o natal, a data do nascimento de Jesus, 25 de dezembro. (http://saibatananet.blogspot.com.br/2012/07/jesus-morreu-na-na-cruz.html#.VBHNePldXWc).

A colocação dos crucifixos no judiciário não necessariamente tem conotação religiosa. Embora Jesus, no seu tempo, fosse considerado um revolucionário, ele não pregava o ódio ou separação entre os povos nem obrigava ninguém a seguir suas idéias, mas abominava os hipócritas e pregava o perdão, a paz e fraternidade entre os povos. Segundo o sr. Paulo Brossard de Souza Pinto, que escreveu uma matéria sobre isso em jornal de circulação local, o símbolo do crucifixo no judiciário, tem a finalidade maior de representar o injustiçado, o homem que nada fez de mal ou de errado, e mesmo assim foi preso, torturado, julgado e condenado à morte. Talvez para lembrar aos juízes da responsabilidade de seus julgamentos, ou até, na consciência do sacrifício que seu cargo lhes impõe.

Além disso, é um ícone de força, pois evoca a grandeza do injustiçado e a misericórdia que envolve um julgamento justo. Podemos imaginar um juiz que, à medida em que ao datilografar uma sentença vai escondendo as folhas prontas em baixo do tapete, com medo de não terminá-la antes de ser morto e, mesmo assim continua, talvez sugando forças em breves olhares ao crucifixo. Ou ao outro juiz, arrebatado pela paixão, que enfrenta poderosos com a determinação de um guerreiro, quantas vezes não terá pedido forças ao injustiçado?

E aí perguntamos: porque a cruz e não outro símbolo? Porque, além de ser ele o maior símbolo da injustiça é também o símbolo do sacrifício pessoal a favor da justiça, da clareza de visão em meio a nebulosidade das massas, do esclarecimento com bondade e também da misericórdia, pois além de perdoar o ladrão arrependido, o crucificado sabia que eles (os que o crucificaram), não estavam evoluídos o suficiente para entende-lo. Que outro símbolo seria mais apropriado? A meia lua do Islã, com suas regras rígidas? O Buda, com sua impassividade? Símbolos gnósticos que nem sempre são completamente entendidos? Estátuas ou quadros de pseudos grandes homens sombreadas de ambição e de sangue? Símbolos políticos ou ideológicos? Que há de mais humano do que um homem justo que cumpre seu dever apesar do medo de represálias ou mesmo da morte, inseguros até da lisura de suas ações mas determinados a dar o melhor de si para a correta justiça?