• Luiz Carlos Da Cunha
  • 02/05/2017
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PREVIDÊNCIA E IMPREVIDÊNCIA


Previdência, do latim praevidentia, quer dizer ver antes, prevenir. O significado de Previdência Social retrata o estabelecimento de um sistema coletivo de amparo futuro, na velhice. A resistência aos necessários ajustes na idade da aposentadoria, em proporção à longevidade, e as dezenas de fatores peculiares subjetivos a cada país, PIB, tradição, cultura, etc, concentra-se nas classes menos instruídas, pesando a geral deficiência no raciocínio matemático.

Estabelecer limites de idade de contribuição e usufruto justo do contribuinte,dentro da média estatística de vida, é uma equação de n incógnitas, que não pode ser resolvida por incendiários de ônibus ou bloqueadores de ruas. Outros países bem mais instruídos que nós – França, Alemanha, Grécia – enfrentando igual problema, foram sacudidos por reações parecidas, não chegaram ao vandalismo. Vandalismo rotineiro no Brasil atual.

A proporção de idosos, beneficiados da medicina, sanidade urbana, alimentação, aumenta com a longevidade, e encolhe o número de jovens contribuintes da previdência necessário para sustentá-los. Ser previdente é sinal de inteligência e precaução; ao revés, ser imprevidente demonstra incapacidade de prever o perigo. O ser humano adquiriu a capacidade de perceber e medir a conseqüência de seus atos, na distância proporcional a seu conhecimento e capacidade cerebral; é o que o distingue dos outros animais. Se não há previdência, domina a imprevidência; e esta leva certamente ao desastre.

A demografia é um fator de inarredável ponderação no conjunto de índices coligidos que devem participar das opções dos governantes no trato da Previdência. Recorro a Giovanni Papini, e seu Gog – livro saboroso, mordaz e irônico – que a seu modo alertava os governos sobre a imprevidência nos primeiros anos do século XX. Numa ilha isolada no Pacífico, uma lei de controle populacional garantia o equilíbrio frente ao limite de recursos alimentares. A cada nascimento que ultrapassasse o limite legal da população, impunha-se a morte do mais velho como necessária a manter a lei de conservação coletiva. Era a previdência extrema resultante da imprevidência anterior dominante.