• Márcio Coimbra
  • 21/12/2017
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PÓS-POLÍTICA


Diante do quadro de desgaste sofrido pela política ultimamente, observamos cada vez mais o surgimento e crescimento de grupos que estão se posicionando de forma diferente. A proposta de muitos deles é pensar uma espécie de pós-política, uma ideia que vai além de partidos e ideologias, uma iniciativa que visa pensar o Brasil.

Este fenômeno é natural nas democracias que vêm amadurecendo, situação que vivemos em nosso país. É uma iniciativa interessante e necessária, mas não deixa de guardar uma parcela de ingenuidade. Movimentos que tentam enxergar a política por este prisma, em pouco tempo, tendem a tornam-se reféns de seus mecanismos de poder.

Diante desta concepção inocente, diria que até certa medida puritana, estes grupos veem o governo atual de forma tão negativa como o governo passado. Não trata-se de disputas sobre grau de corrupção, mas a crença de que o sistema como um todo esteja apodrecido, abrindo a necessidade imediata de ruptura, por meio da renovação completa dos quadros.

A ingenuidade resulta em acreditar que este movimento resolve o problema posto. Sabemos que a representação é um retrato da sociedade. Não há como dissociar o comportamento dos políticos das cenas dantescas de barbárie ocorridas na semana passada nos arredores do Maracanã. Se nossa política encontra-se doente, estamos diante do fato de que vivemos em uma sociedade com problemas na mesma medida, que escolhe como seus representantes os seus semelhantes.

Assim, de pouco adianta acusar o governo de corrupto, se diante das câmeras vimos pessoas batendo carteiras, furtando celulares e achacando estrangeiros que se dirigiam para assistir a partida. Estas cenas de vandalismo, diante da violência cotidiana, em pouco tempo cairão no esquecimento, mas precisamos entender que estes votarão em pessoas com as quais guardam identidade.

A saída da crise sempre está na política. Ambos impedimentos presidenciais ocorridos no Brasil levaram em pouco tempo a uma situação de melhora no quadro econômico e político, trazendo estabilidade, previsibilidade e reformas de instituições arcaicas. Em ambos os casos foi encontrada uma solução constitucional, sem rupturas institucionais, respeitando-se a democracia e o Estado de Direito.

As iniciativas que visam pensar além da política são bem intencionadas. Destas podem surgir ideias que contribuam para uma efetiva melhora em nossa sociedade. Claro que não podemos aceitar a corrupção como fato, entretanto, de nada adianta demonizar a política ou os políticos. Estes são o retrato de nossas escolhas e a política o único meio pelo qual pode-se encontrar entendimento para a solução de problemas em uma democracia. Apesar do ímpeto de ruptura que ronda os brasileiros, é melhor manter os pés no chão ao invés de embarcar em aventuras que possam ferir nossa democracia.

*Publicado originalmente no Diário do Poder