É uma pena que muitas pessoas não fazem nenhuma conexão entre a pichação/depredação de patrimônio publico e vários outros problemas da cidade, como criminalidade, inundações e, ate mesmo, sonegação.
Aparentemente desconexos, a teoria da janela quebrada mostra que eles estão totalmente ligados, já que nós, seres humanos, reagimos aos padrões e incentivos existentes.
O abandono das áreas públicas é um problema de valores.
Primeiro, deixa claro que não existe poder constituído que zele pelo patrimônio publico.
Segundo, tem o efeito pedagógico: pode destruir mais que não há consequência alguma.
Terceiro, gera o efeito cascata: já que ninguém cuida, eu também não irei cuidar.
Quarto, induz a racionalização das maldades, já que, como o dinheiros dos impostos esta sendo mal gasto, muitas pessoas vão utilizar esse argumento para sonegar.
E, por fim, quinto, contribui para a alienação social, já que todos passam a considerar normal viver em uma cidade abandonada, sem lei, sem autoridade, e sem respeito ao próximo.
O ato de pichar e depredar o patrimônio publico não é um ataque as autoridades. É um ataque direto e covarde aos mais pobres, que usam, dependem e sobrevivem nas áreas publicas. Essas pessoas é que irão sofrer mais. Elas que irão sentir mais as consequências do famoso estudo de Stanford sobre as janelas quebradas.
Como se não bastasse, os recursos públicos que serao utilizados para pintar muros, arrumar banheiros públicos, arrumar placas e faróis, desentupir bueiros, são os mesmos recursos que poderiam ser utilizados para melhorar a saude, qualificar a educação ou tirar mais pessoas das ruas. Ou seja, mais uma vez, quem depende dos serviços públicos sera novamente penalizado.
É fácil dizer que não há dialogo, mas eu pergunto: será que os pichadores e depredadores dialogaram com a sociedade antes de deixarem suas marcas e assinaturas? Pediram licença e envolveram a sociedade na escolha dos locais, ou fizeram isso de forma anônima, egoísta e sem qualquer consideração e respeito ao próximo?
Vivemos em um pais sem valores, ou melhor, com valores invertidos. Quem picha não deve satisfação a sociedade, não precisa dialogar ou fazer consultas públicas para definir quando, onde e o que ira desenhar, mas a sociedade precisa pedir autorização para consertar janelas e pintar muros.
Filhos de embaixadores, intelectuais, políticos e empresários, que deveriam dar o exemplo de educação e respeito, são os primeiros a pichar, destruir e depredar, sob o argumento de fazerem arte e justiça social. Negam ou ignoram que esses mesmos atos estão, na verdade, aumentando o abismos social e piorando ainda mais a vida daqueles que já são excluídos.
Esta na hora de pensarmos se é esse pais que queremos deixar para os nossos filhos...e quais as reais consequências dos nossos atos.