• Genaro Faria
  • 28/06/2016
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OS NOVOS JUDAS ISCARIOTES

 

Não sei de algo mais abjeto que a traição. Que não seja o maior pecado ou o crime mais imperdoável. Mas nenhum outro pecado ou crime é tão emblemático como a traição, que eternizou a figura do seu protagonista mais famoso: Judas Iscariotes. Aquele que trai é indigno de si mesmo. Por isso ele é o menor de todos os miseráveis. Pois nos perdoarmos a nós mesmos é o maior de todos que possamos enfrentar. Não foi por outro motivo que o apóstolo traidor suicidou-se.

Neste tempo em que o pecado foi abolido de nossas cogitações - porque o diabo foi reduzido a uma figura folclórica, mitológica ou de ingênua crendice popular, para não dizer primitiva - e o crime tornou-se relativo - por exemplo, furtar para um partido ou uma causa que ele represente é um ato de heroismo - não seria de esperar que a traição ficasse na penumbra das abjeções que nos repelem a figura de um traidor?

Sim, pelo raciocínio lógico. Mas "há mais coisas do que sonha nossa vã filosofia". A traição não se livrou da anistia concedida pelo relativismo moral. Que o traidor não seja condenado pelo pecado ou pelo crime que cometeu, porque não há pecado nem crime onde tudo é relativo. Mas continua sendo abominável.

Então eu digo que não pretendo julgar um traidor. Apenas manifesto uma repulsa universal à traição. Que se tornou, infelizmente, banal em nosso tempo que se pretende adiantado na civilização.

Não sufoco meu repúdio a professores que traem a confiança dos pais e se aproveitam da inocência ou imaturidade de seus alunos; a pastores que tosquiam suas ovelhas para se enriquecerem com promessas milagrosas; a clérigos que se refugiam de suas fraquezas, sua carência de fé, para perverter os fiéis que os procuram ao nível de suas baixezas, ou a serviço de uma ideologia que afronta a teologia; a quem se proclama vocacionado para ser público e só se interessa pelo particular que o poder estatal lhe propicia.

Não, eu não esqueci dos artistas e dos intelectuais. Nem dos Jornalistas. Last but not least. São eles as pessoas mais importantes do mundo desde que René Descartes destronou Deus e colocou o homem como o centro do universo. Cogito ergo sum (Penso, logo, existo). Com essa proclamação revolucionária a humanidade começou a escrever os capítulos de uma novela espetacular que até hoje, passados quase quatrocentos anos de sua epifania, continua em cartaz. Milhares de degolados na guilhotina por ordem de Robespierre, dezenas de milhares que tombaram sob as baionetas e os canhões de Napoleão Bonaparte, milhões de pessoas devoradas pelas guerras que envolveram a Europa inteira e a América do Norte, e dezenas, mais de uma centena de milhões de vítimas das revoluções que eclodiram ao redor do mundo - e ainda matam milhares de seres humanos até hoje - não deveriam nos advertir de que o mundo tornou-se bem mais perigoso desde que cogitamos pensar que somos o seu criador?

Minha modesta condição de simples indivíduo e cidadão comum me diz que sim. E me faz imaginar que a imensa maioria de meus semelhantes pensam tal como eu. Afinal, ser um iluminado, progressista é para poucos. Uma elite que despreza a democracia, que só interessa à maioria dos que não foram ungidos com a genialidade que a distingue do comum dos mortais. Dos deuses que a plebe rude recalcitra em não venerar.

Mas voltemos à temática da traição. E à primazia de seus pérfidos combatentes que faz tempo deixaram as trincheiras da luta armada para se infiltrarem nas escolas, nas universidades, na igreja, nos templos e, principalmente, nos veículos que comunicam a cultura das massas, que os jornalistas se especializaram em desinformar para atingirem um resultado que aqueles que os financiam pretendem.

São estes, muito mais do que empresários corruptos ou corruptores; que executivos de empresas estatais nomeados para atender seus padrinhos políticos; que pastores e padres devassos; que professores militantes que, covardemente, fazem proselitismo ideológico ao invés de ensinar seus alunos; são estes, os falsos jornalistas, que formam a infantaria da revolução cultural preconizada por Antònio Gramsci, ideólogo marxista que converteu a delirante profecia da luta de classes - que nunca vingou - em infiltração nas instituições que sustentam a civilização que eles querem destruir, a começar pela mais fundamental de todas - a família.
É isso mesmo, senhores. Não são os livros, os púlpitos, as cátedras, os palcos e muito menos os atores da política que moldam nossa cultura. É a chamada mídia. Nos jornais e revistas impressos, no rádio e na televisão, profissionais do charlatanismo, ignorantes e venais, são os jornalistas os oráculos acessíveis às massas que os consultam.

* Texto motivado pelo artigo Carta aos covardes, do escritor e jornalista Guilherme Fiúza - um desabafo polido, educado, uma catarse que desmistifica a suposta isenção desses profissionais da desinformação a soldo de interesses escusos; que tira a máscara da sua hipocrisia.