(Publicado originalmente em http://www.folhadelondrina.com.br/)
No feriado da República, enquanto jovens do movimento Filhos da UEL fizeram a limpeza de paredes pichadas no campus universitário, eu me retirei em silêncio para rezar e meditar um pouco ao lado da Capela Histórica. Pus as mãos sobre aquelas paredes de madeira que simbolizam a força espiritual de nossa cidade e pensei nos pioneiros que construíram uma igreja exatamente igual àquela no coração de Londrina, em 1934.
Antes da fundação da UEL, o local hoje ocupado campus era um cafezal. Antes de ser um cafezal, era uma floresta dominada pelas perobas. E a peroba é uma rainha amorosa: ela só consegue sobreviver se houver vegetação em torno. Como a maior parte da floresta teve de ser derrubada para a construção do campus, as perobas da UEL foram morrendo. Restam poucas, quase todas jovens, plantadas pelo saudoso funcionário João Sperandio, o jardineiro do campus.
Mas a morte das antigas perobas não foi em vão. Parte da madeira das árvores centenárias foi usada para a reconstrução da igreja pioneira no campus da UEL, em 1997. É triste que não se possam fazer cerimônias religiosas na Capela Histórica; mesmo assim, é uma alegria saber que ela está lá, tão bonita e silenciosa na sua simplicidade. É como se as velhas perobas tivessem voltado à vida.
Vocês aí, que se sentem mandatários da UEL, não picharam apenas uma capela. Vocês picharam as perobas, vocês picharam a rainha da floresta, vocês picharam a história, a memória e a fé de nossos antepassados. A cada parede da universidade em que vocês escrevem suas maravilhosas mensagens — fora-temer, fascistas-não-passarão (com erro ortográfico), marighella-vive, abaixo-o-patriarcado — quem está sendo conspurcado não é o governador, não é o presidente, não é o MBL, não é o jornalista conservador, não é a "mídia golpista", não é a pec-241. O que está sendo conspurcado é a própria alma da cidade. Se vocês continuarem fazendo a mesma coisa, em pouco tempo não restará pedra sobre pedra na UEL. Ela vai morrer, assim como morreram as perobas. E vocês, que se acham senhores da UEL, serão os culpados por essa morte.
Há, portanto, os Filhos da UEL e os Donos da UEL. Os Filhos são a maioria. Os Donos são a minoria. Os Filhos têm o apoio da comunidade londrinense. Os Donos têm o apoio de sindicatos e partidos de esquerda. Os Filhos querem reconstruir a universidade. Os Donos querem possuí-la. Os Filhos buscam conhecimento. Os Donos buscam poder. Os Filhos amam a UEL. Os Donos têm outra filiação. Mas, no fundo, sabemos que os Filhos são os verdadeiros Donos da UEL.
A UEL está para Londrina como a peroba está para a floresta. Se a cidade não mostrar que existe, a universidade morrerá.