• Jefferson Viana
  • 11/10/2017
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O SOCIALISMO NA CULTURA BRASILEIRA


A grande mídia tem um papel importante na sociedade atual, pois ainda é por ela que a maioria dos indivíduos se informam e tem parcelas de acesso ao entretenimento, independentemente do meio midiático, seja pela televisão, rádio, mídia impressa e internet. Autores "progressistas" como Antonio Gramsci, Walter Benjamin, Jürgen Habermas, Frederick Pollock e Jean Paul-Sartre atentaram para o poder da mídia para uso político, na busca da dominação das massas, culminando na revolução socialista. Andrew Fletcher, poeta e político escocês que viveu entre os séculos XVII e XVIII, em um dos seus discursos, dizia que "Me deixe fazer as canções de uma nação que eu não me preocupo com quem fará as leis". Com essa frase, o escocês atenta para a importância da cultura na formação política, mostrando que a política é o reflexo da cultura da população.

No Brasil, desde a fundação do Partido Comunista Brasileiro em 1922, há trabalho midiático para difusão de ideias socialistas e comunistas. Primeiramente com a formação intelectual que tem como marco a ascensão de Leônidas de Rezende, professor da Faculdade Nacional de Direito (atual UFRJ), defensor das ideias marxistas e importador das leituras de Marx para o ambiente acadêmico. Leônidas foi um dos fundadores do primeiro jornal declaradamente de esquerda do Brasil, o jornal "A Nação", no ano de 1923 que em 1927 tornou-se um órgão oficial dentro do Partidão, como também é chamada a legenda.

Posteriormente, formou-se uma nova geração de intelectuais socialistas com nomes como Roland Corbsier, Nelson Werneck Sodré, Álvaro Vieira Pinto, Fernando Henrique Cardoso, Francisco Weffort, Celso Furtado, Sérgio Buarque de Hollanda, Antônio Cândido e Ignácio Rangel. Uma parcela desses intelectuais usa, como exemplo de se levar o Brasil ao socialismo, o exemplo soviético, de criação da chamada intelligentzia, um grupo de pensadores que buscaria explicar o socialismo para a população.

No ano de 1952, é criado o Clube de Itatiaia, onde os pensadores debateriam o desenvolvimento nacional e as formas de como se atingir resultados. Do grupo, nasce o ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), órgão vinculado ao Ministério da Educação e Cultura (MEC) criado pelo decreto No 37.608/1955, do então presidente Café Filho. O ISEB nasce com uma mescla de intelectuais das mais diversas correntes políticas, do comunista Nelson Werneck Sodré ao liberal Roberto Campos. Porém, os intelectuais ligados ao pensamento socialista foram hegemonizando o ISEB, sobretudo após o governo de Juscelino Kubitschek realizar a internacionalização da economia brasileira. E em 1958, o grupo liderado por Hélio Jaguaribe e Roberto Campos é expulso da composição do instituto, fazendo com que o corpo diretor tenha apenas pensadores de esquerda.

A partir da saída do grupo liderado por Hélio Jaguaribe, saem publicações do instituto com um viés marxista, como as coleções "Cadernos Brasileiros", "Revista Civilização Brasileira" e "História Nova", em parceria com o Centro de Popular de Cultura (CPC), criado pela União Nacional dos Estudantes (UNE) em 1961. Tal grupo foi criado para divulgar a chamada arte popular revolucionária, promovendo o caráter didático e coletivo das artes, bem como o engajamento político do artista.

Entre os membros do CPC estavam Oduvaldo Vianna Filho, Dias Gomes, Cacá Diegues, Nara Leão e Geraldo Vandré, artistas que nunca esconderam suas posições políticas. As peças teatrais produzidas pelos membros da instituição fizeram muito sucesso nos anos 1960, catapultando tais nomes no cenário cultural brasileiro da época. No livro "Em Busca do Povo Brasileiro", de Marcelo Ridenti é mostrada toda a história do CPC e desses artistas de esquerda, na busca de conquistar as classes médias e populares para apoiarem o socialismo.

Com a tomada do poder pelos militares em 1964, o ISEB e o CPC foram fechados sob acusação de serem difusores do comunismo. Intelectuais ligados ao ISEB foram morar em outros países, como França e Chile. Mas muitos membros do CPC ficaram Brasil e conquistaram cada vez mais sucesso no meio cultural mesmo com a censura, como Dias Gomes e Oduvaldo Vianna Filho. E em 1969, Dias Gomes é convidado por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, também conhecido como Boni, que a época era chefe de programação e produção da Rede Globo para escrever novelas para a emissora.

Da sua fundação em 1965 até 1969, a Rede Globo comprava folhetins colombianos, mexicanos, cubanos e argentinos para serem exibidos na emissora, porém a audiência era baixa e Boni tinha sido contratado pela emissora com a intenção de catapultar a audiência da emissora. O chefe de programação estabeleceu o atual modelo do horário nobre da emissora, com três novelas (18h, 19:30h e 21:00h), com um noticiário local e o Jornal Nacional intercalando as novelas.

A partir da chegada de Dias Gomes e Boni na emissora carioca, a Rede Globo passou a liderar nos índices de audiência em todo o país. E a novela "O Bem Amado", escrita por Dias Gomes em 1973 teve índices de audiência altíssimos no Brasil. O sucesso da novela foi tão estrondoso que abriu o mercado brasileiro de novelas para o exterior, com a exibição em 30 países do folhetim.

A novela é uma crítica a classe política da época, representado na figura do protagonista Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), que tentava inaugurar o cemitério da cidade fictícia de Sicupira de qualquer forma, criticando sobretudo as obras do chamado "Milagre Econômico", realizadas durante o governo Emílio Garraztazú Médici. As críticas militares vieram a direção da emissora da vênus platinada, mas o dono da emissora Roberto Marinho, não fez nenhuma resistência ao trabalho de seus dramaturgos. Marinho dizia em reuniões com lideranças governamentais que "dos meus comunistas, cuido eu".

Aliado a não-resistência dos veículos de mídia, havia também a chamada "estratégia da panela de pressão", criada pelo General Goldbery do Couto e Silva. O governo da época pautava-se em combater a esquerda revolucionária, representada pelas guerrilhas, deixando o debate de ideias em um segundo plano, entregando de bandeja toda a atividade intelectual para a esquerda brasileira.

Depois do sucesso de "O Bem Amado", outras novelas com mensagens de esquerda foram exibidas, como "O Espigão" (1974), "Roque Santeiro" (1985), "O Rei do Gado (1996)", "Mulheres Apaixonadas" (2003), "Avenida Brasil (2011)", "Babilônia" (2015), para dar alguns exemplos. Nas novelas da Globo, como mostra Leandro Narloch em artigo a Veja, observa que sempre os grandes vilões de novelas são pessoas de alto poder aquisitivo em uma grande sede pelo poder, na eterna busca da demonização da riqueza.

Para se entender o problema atual e para buscar a sua resolução, é necessário entender como chegamos até este estágio. A liberdade econômica e a liberdade individual tem sua importância em uma sociedade livre, mas a cultura tem a sua própria, pelo fato de moldar a classe política. Se estamos no estado atual no Brasil, muito se deve a hegemonia cultural de esquerda que predominou pelos últimos 50 anos, e teve como seu marco os governos do PT nos últimos 13 anos, governo que sofreu impeachment devido a conhecida incompetência das gestões socialistas. Está em jogo, agora, a guerra cultural, e, como Ludwig von Mises dizia: "Ideias e somente ideias podem iluminar a escuridão".

Referências bibliográficas

RIDENTI, Marcelo. Em Busca do Povo Brasileiro. São Paulo, UNESP, 2014.

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1999.

PÉCAUT, Daniel. Os Intelectuais e a Política no Brasil: entre o povo e a nação. São Paulo, Ática, 1992.

NARLOCH, Leandro. Os ricos segundo as novelas e os intelectuais de esquerda. Disponível emhttp://veja.abril.com.br/blog/cacador-de-mitos/os-ricos-segundo-as-novelas-e-os-intelectuais-de-esquerda/.

QUINTELA, Flávio. Mentiram (e muito) pra mim. São Paulo, Vide Editorial, 2015.