(Originalmente publicado em igorcmoraes.com.br)
O que mais surpreende na cena política no Brasil atualmente é a baixa sensibilidade aos efeitos econômicos de ações equivocadas que foram feitas no passado. Não só pelo reconhecimento da falência do modelo “Estado provedor”, ou da situação de “bem-estar social” onde o principal vetor é o setor público com sua infinita capacidade de conceder benefícios com os recursos privados, mas pela inépcia de diversos segmentos da sociedade em visualizar a saída desse mostro devorador de riqueza que criamos. Qual será a consequência econômica e social desse modelo onde o Estado representa mais do que o PIB da indústria?
Onde 15% da população recebem benefícios da Previdência Social e o gasto com juros da dívida, apenas em 2015, será maior do que a soma do que foi gasto nos anos de 2013 e 2014? A conta na economia realmente não fecha. Posso abreviar para o leitor e dizer que, em resumo, estamos diante da maior e mais longa crise que o Brasil já experimentou. E é nesse momento que aquela frase faz todo sentido: “nunca na história desse país”. A confusão econômica que foi criada nos últimos anos é tão grande que fica difícil imaginar o Brasil de amanhã, do mês seguinte e, quem dirá, do próximo ano. As fórmulas macroeconômicas que são úteis para desenhar trajetórias futuras de crises e impactos sociais, ajudando na boa gestão das políticas públicas, não funcionam no Brasil. Não há como prever o comportamento do Banco Central na condução da política monetária e muito menos do Governo no que diz respeito a política fiscal. Estamos carentes de “certeza”, a palavra mais importante para investidores que querem gerar emprego e riqueza. Com essa falta de solução política, a economia entra, definitivamente, nesse trimestre, no que quero aqui denominar de segundo mergulho.
Explico melhor. Não é de hoje que os economistas estudam os movimentos cíclicos de países, regiões, setores e etc. Períodos recessivos seguidos de crescimento são processos naturais, se diferenciando apenas no que diz respeito a duração ou magnitude. Experimentamos crises um pouco mais longas, outras mais curtas. Algumas mais intensas outras mais brandas. Tudo depende da complexidade econômica regional e da capacidade dos gestores públicos em administrar esses ciclos de crescimento e recessão. Desde 2013 que o Brasil visualiza um processo de desaceleração combinada da produção, consumo e investimento. Mas isso só passou a ser mesmo considerada uma recessão na segunda metade de 2014. Naquele momento, a perspectiva era de que seria uma crise rápida, bastando o Governo fazer bom uso da Política Fiscal e Monetária, leia-se, segurar um pouco os gastos, aumentar os juros e conter o apetite dos bancos públicos. Com essa combinação, poderíamos trazer a inflação ao equilíbrio e permitir a continuidade de um novo ciclo de crescimento após seis a oito meses de ajuste. Mas, no meio do caminho existia uma eleição presidencial e não é preciso muito para entender que esse diagnóstico feito por um economista, não teria aplicabilidade em um país com um Banco Central “dependente” da vontade política. Postergarmos o ajuste alguns meses. Até aí tudo bem, ainda haveria tempo para corrigir a trajetória da economia.
Passada a eleição, primeiro veio a política monetária, com aumento dos juros, na expectativa de que, na sequência, o Governo desse continuidade anunciando e realmente implementando um ajuste fiscal forte. Esse não veio e pior, entramos em uma crise política que paralisou o país por vários meses. Aliás, ainda está paralisado. É exigir muito da ciência econômica que apenas um pouco de aumento dos juros seria suficiente para resolver os desequilíbrios macroeconômicos acumulados nos últimos anos. Perdemos a janela de oportunidade de combate à crise ainda no primeiro trimestre desse ano. Sabe aquele momento onde os custos de ajuste são menores e não é necessário fazer muito para garantir credibilidade? Bastava ser crível nas ações que foram anunciadas. Tal como na educação de uma criança. O que vemos agora é que essa inépcia terá um custo muito maior para a sociedade. A inflação ficou solta, exigindo mais da autoridade monetária.
Ninguém mais acredita em propagandas do Governo, exigindo ações que sejam mais enérgicas e que realmente tenham efeito. Agora os investidores estão esperando o resultado para apostar, seja na ampliação das fábricas, construção de novas ou para entrar em programas de concessão. E consumidores ficaram sem norte em meio ao aumento contínuo do desemprego e da perda de poder aquisitivo. Assim, entramos no segundo mergulho do ciclo do que outrora seria apenas uma crise natural para tomar contornos de uma depressão. Infelizmente em matéria de política econômica, não é dar tempo ao tempo, sentar e torcer para que as coisas se ajeitem. A solução de problemas conjunturais requer ação imediata, para que os mesmos não se tornem estruturais pela via social. Esse segundo mergulho que se inicia será realmente doloroso.
* Economista