(Publicado originalmente em Zero Hora)
Em poucos meses elegeremos um prefeito, e já se assanham na mídia pré-candidatos que, pela biografia conhecida, seriam incapazes de administrar um sanduiche. Mas miram Porto Alegre, uma capital que já foi referência nacional na racionalidade e eficiência do transporte público urbano, na pavimentação e iluminação de suas ruas e avenidas, na limpeza periódica de seus passeios, praças e jardins. Nas podas programadas de árvores, no trânsito ordenado por guardas civis, na segurança pública exercida por policiamento militar em colaboração com vigilantes noturnos civis, e o mais que sua população perdeu. Tudo isso, é verdade, ficou guardado no baú do saudosismo, ficou velho e não há mais como desfrutar porque já passou. Mas o que há de novo, e ainda não passou, pois que a realidade não disfarça, é a ausência de vocação dos administradores contemporâneos. E que não raro se mostram indiferentes à nossa tradição de “cidade sorriso” – lembram dela? -, pois que a maltrataram ao ponto de torná-la mal-encarada, suja e perigosa.
Administradores desdenhosos e incrédulos até na possível inteligência dos cidadãos, obrigados a ouvir explicações do gênero “ ... queremos que a transparência absoluta continue imperando...porque tudo que está na esfera pública tem de ter conhecimento público”(sic). Explicações dadas pelo nosso burgomestre a propósito da matéria em que este Jornal denunciou que a limpeza das “bocas de lobo”, tarefa de responsabilidade do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), na verdade abrira mais uma “boquinha” para as terceirizadas desonestas e mal fiscalizadas. Os constantes alagamentos, a cada chuvarada, não bastaram a que ditas autoridades desconfiassem de que “algo” estava entupido. E que está longe o tempo em que os bueiros serviam só para escoar águas da chuva, que hoje até por eles escorrem “maracutaias”. Foi necessário que uma reportagem investigativa particular realizasse um serviço público de verificação e comprovação que cabia exclusivamente ao Município.
Mas, voltando ao tema eleitoral. Num pleito local, o mínimo que se deve evitar é a estupidez da fragmentação pelo embate partidário que divide o país. E que têm como único objetivo manipular o eleitor submisso à cultura ideológica da luta pela conquista e permanência no poder. Quem sabe seja a oportunidade de retornar ao bom debate, centrado apenas nos princípios éticos e programáticos. Antes será preferível escolher quem, ao juízo de cada um, ao menos consiga bem administrar o nosso sanduiche.