• Genaro Faria
  • 23/08/2016
  • Compartilhe:

O GOLPE DO FUTURO

 

 Todo movimento comunista, ou se não for do agrado do leitor, socialista, ou ainda, progressista, é apátrida, supranacional. A propósito, seu hino é a Internacional Socialista, cantado com fervor ideológico em suas reuniões indevassáveis ao público. Seu método de tomada do poder é, porém, adaptável às circunstâncias e peculiaridades regionais e nacionais, sob à coordenação e supervisão de uma sociedade secreta, no caso da América Latina, o Foro de São Paulo, em cuja ata de fundação, por Fidel Castro e Lula, lê-se o seu objetivo: "... recuperar aqui o que foi perdido no leste europeu" (a extinta União Soviética).

 Uma vez superada a fase heróica das revoluções pela artificiosa "luta de classes", fantasia histórica de Karl Marx, o método revolucionário que nunca vingou pelo protagonismo de operários e campesinos previsto pelo filósofo alemão, adotou o que o fundador do Partido Comunista Italiano, Antònio Gramsci, propôs como "revolução cultural".

 Ora, o berço cultural de toda civilização desde os tempos mais remotos e em qualquer parte do mundo é a religião. Esta é a pedra angular que distingue, por exemplo, a civilização egípcia da chinesa, a indiana da europeia, a hebraica da greco-romana, a polinésia da africana subsaariana, a incaica da tupi-guarani e assim por diante. Ela foi, também, o traço distintivo entre os países da América do Norte e os das Américas Central e do Sul, extensões das religiões protestante e católica respectivamente.

 A religião é o berço das civilizações porque é, também, o fundamento da filosofia, da literatura, do teatro e das artes em geral e do códigos que regem a vida em sociedade sob o poder de um representante terreno. Logo, como "não se pode vencer senão aquilo que se substitui" (Friedrich Nietzsche), é a primeira e mais importante ocupação de um movimento revolucionário apagar uma religião para substituí-la por outra, nem que seja pela que venerou a "deusa Razão" dos jacobinos de Robespierre. Ou pelo "deus Estado" dos marxistas. É questão primacial para os revolucionários, nem que para tanto seja preciso "fazer o diabo". Ou se tornar um devoto satanista.

 No entanto, como ouvi minha avozinha materna ao puxar a orelha de um tio meu apanhado em flagrante delito de adultério, "o diabo ensina a fazer, mas não ensina a esconder". E dessa perversão do príncipe das trevas não se acautelaram os revolucionários petistas. O velhaco líder inconteste do partido dos trabalhadores que viajam de jatinho, hospedam-se em hotéis cinco estrelas do famoso circuito London/Paris/New York e recebem polpudos salários das sinecuras estatais esqueceu que o diabo é mais velho do que ele. E se deu mal. Havia uma pedra no meio do caminho. "E agora, José?", indagaria a ele Carlos Drummond de Andrade.

 Agora ele diz que é golpe dos parlamentares oportunistas, dos magistrados ingratos, de vira-casacas da plebe rude e ignara, do vice traidor e seu partido arrivista, da burguesia reacionária e... da CIA ressuscita da Guerra Fria como agência criminosa do imperialismo americano.

Não, Lula, não foram estes que lhe aplicaram um golpe implacável. Foi o tempo. Esse monopólio de Deus onde o diabo não entra nem espia em cima do muro. Os tucanos que o digam, aparentemente surpresos com a falta de cerimônia que seus antigos sócios exibem ao se adonarem do patrimônio que lhes seria comum.

Sim, não duvide, não foi ninguém senão o futuro seu cruel adversário, como tem sido, sempre e sempre, de quem não aprendeu a lição deixada por Sêneca: A maldade bebe a maior parte do cálice de veneno que produz.

A maldade e o tempo derrotaram você. Agora é tarde.