O estamento político que Raymundo Faoro identificou como um patrimônio de famílias privilegiadas, donatárias do poder, foi terceirizado. Quase não se lê mais os sobrenomes daqueles que figuravam nas mais altas instâncias da política. O que se vê é esse estamento deixar de brilhar nas colunas sociais. E ganhar as manchetes das crônicas policiais. A política fixou seu domicílio nas páginas que eram frequentadas pelo crime, pelo submundo. Ser político passou a ser o antônimo de homem público. E sinônimo de cafajeste.
E não foi à toa. O capítulo da nossa história que os políticos escreveram no presente não merece que o futuro lhe dedique um livro que nos orgulhe. Ao contrário, sobre ele nossos estudiosos vão se debruçar perplexos e envergonhados.
Mas não será assim que nós aprendemos, com os nossos erros?
A História não economiza essa lição nem é de outro modo que nós deixamos infância e a adolescência.
Muito menos a Biologia. O útero é o órgão de músculos mais poderosos do ser humano, muito mais que o coração, porque é do ventre da mulher que a vida rompe a escuridão para se iluminar. E essa a primeira e mais misteriosa revolução que experimentamos.
É de uma revolução assim que nosso país está carente. Para a vida. Que ao mesmo tempo é drama, aprendiz de seus tantos tropeços,dos amores desfeitos em cicatrizes que lhe penduram um retrato da pessoa amada na parede da alma. E nos acalma. Porque a vida é amor. E o amor não se extingue.
Sim, o Brasil está carente de uma revolução. Precisamos fazer com que os políticos sejam homens públicos. Que eles nos representem. Que façam o jogo do poder com competência – o que envolve artes e artimanhas necessariamente – mas com o objetivo de defender seus mandatários. E não sejam como advogados que traem os interesses de seus clientes.
Está claro que o Brasil precisa mesmo de uma revolução. E como está! Uma revolução em que os intelectuais, artistas, jornalistas e juízes resistam ao poder estatal descomunal em face um simples cidadão marginalizado pela arrogância de governantes que desprezam a lei. Estamos carentes dessa elite que, historicamente, arrostou o poder. E triunfou, conquistando, assim, o carinho e a admiração que transcendem seu talento excepcional.
Por último, mas não por menos, ao contrário, principalmente, o Brasil precisa recuperar a maior revolução de todos os tempos. A revolução que precisou sacrificar-se na cruz para nos dar à luz o que nosso intelecto não pode nos revelar. Um espelho da nossa imagem que se reflete no infinito.
Essa revolução é que nos trará de volta a dignidade humana que os ilusionistas solaparam e, por fim, sabotaram de nossa cidadania. E roeram o patrimônio nacional como um queijo que o Brasil esqueceu-se de guardar. Pois ninguém se levantou para afugentar os ratos.
Ora, um assalto assim não se pratica à luz do dia impunemente. Muito menos com louvores aos assaltantes. Nem mesmo numa democracia mais formal do que real. Como a nossa.
Neste ponto de exclamação é que concluo: O Brasil carece muito de uma revolução. Uma revolução em que o Estado, nossa criatura, esteja ao nosso serviço, seu criador. Que os políticos sejam nossos servidores e nós não sejamos seus serviçais. Que os intelectuais escrutinem nossa realidade e nos esclareçam, ao invés de pretender nos submeter à ideologia que toldam seu descortino. E que os artistas honrem a tradição libertária que rejeite qualquer moldura que possa cortar suas asas.
E como o sonho é um território comum a todo ser humano, não me esquivo de dizer que só faltaria ao Brasil voltar a ter uma Igreja católica, apostólica e romana. Não, cubana.