• Pedro Henrique Mancini de Azevedo
  • 15/01/2016
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O BOLSA EMPRESÁRIO E A ELITE

 

"No capitalismo de Estado, o domínio do Estado sobre a economia é acompanhado pela ampliação contínua dos lucros e do poder pelas organizações privadas." (Seymour Melman)

Dilma fez outro discurso. Mas acalmem-se. Dessa vez não ouvimos nada sobre estocar o vento ou alguma saudação a mandioca como em outras ocasiões. Mesmo assim, uma parte da sua fala, feita durante o café da manhã com os jornalistas, merece destaque. Dilma, ao ser questionada sobre corrupção, soltou mais uma vez a seguinte frase: "devemos punir pessoas, e não empresas". Essa frase é muito emblemática, principalmente por vir de uma pessoa que condena o lucro e acusa os defensores do livre mercado e da iniciativa privada de fazerem parte de uma elite que defendem os grandes empresários. Será mesmo?

Antes de mais nada, vamos deixar uma coisa bem clara. Os liberais não são a favor de empresas, são a favor do (livre) mercado. Há uma grande diferença nisso. Os liberais defendem, entre outras coisas, que as pessoas tem o direito de empreender em qualquer segmento econômico que desejarem, e que a iniciativa privada é mais eficiente do que o Estado. Mas o fato de defender a iniciativa privada não faz com que os liberais defendam privilégios para empresas. Na verdade, o que os liberais defendem é justamente o contrário - que o mercado seja livre e sem privilégios, para que apenas os mais eficientes sobrevivam. Dilma e a nova esquerda não acham isso. Eles acham que algumas empresas – por serem estatais ou amigas do governo – devem ter lugar cativo no mercado. Isso é que muitos chamam de Capitalismo de Estado, e que não tem nada a ver com o capitalismo de livre mercado que os liberais defendem.

O capitalismo de Estado lulopetista se deu através de um programa do BNDES chamado Programa de Sustentação de Investimentos, conhecido popularmente como Bolsa Empresário. Na teoria, o programa previa a concessão de créditos subsidiados para empresas, para que essas empresas pudessem iniciar projetos que impulsionassem o desenvolvimento social do país. Na prática, o que esse programa conseguiu fazer foi distorcer todos os indicadores econômicos destruindo a nossa economia, e ainda criar o maior esquema de corrupção da história mundial. Mas então, no final, todo mundo perdeu? É óbvio que não.

O que o capitalismo de Estado consegue fazer na verdade é oferecer um genuíno capitalismo para o governo e seus aliados - essa sim a verdadeira elite -; um capitalismo bem enfraquecido para a classe média; e um belo de um socialismo para a classe baixa. Não é exagero, pensem bem.

Os grandes empresários e os políticos se tratam no Sírio Libanês; matriculam seus filhos nas melhores escolas; possuem um forte esquema de segurança particular; e andam em jatinhos e carros de luxo. A classe média, por sua vez, tem que pagar duas vezes pela saúde, pela educação e pela segurança, já que além de pagarem impostos que o governo alega ser destinado a isso, ainda tem que contratar planos de saúde privados, encher suas casas de sistemas de segurança para não serem assaltados, e gastarem quase todo seu salário para matricular seus filhos em escolas privadas. Sem contar que ainda pagam pelos carros, gasolina e passagens aéreas mais caras do mundo. Já a classe baixa coitada, essa é a que mais sofre. Precisam aturar o SUS, o ensino e o transporte público, e a (falta) segurança que nunca chega aos seus bairros. Isso é o capitalismo de Estado – o governo escolhe quem desfrutará dos benefícios do capitalismo. E quanto mais se desce na pirâmide, mas socialista - leia-se miserável - sua vida fica. Não é sensacional?

Já o capitalismo de livre mercado não faz essa distinção. No livre mercado, o governo não intervém em nenhum setor; as empresas devem concorrer umas com as outras para que elas possam oferecer o serviço ou produto mais eficiente a um preço mais acessível. Não estou falando que no livre mercado todos irão utilizar os melhores produtos e serviços, mas todos terão maior possibilidade de acesso a eles e poderão escolher o que é melhor para si de acordo com suas condições financeiras. Uma marca de carro não te satisfaz, escolha outra; uma escola não te satisfaz, escolha outra; um plano de saúde não te satisfaz, escolha outro. Essa possibilidade de escolha é que faz as empresas quererem sempre agradar os seus clientes. Aqui no Brasil, você até pode fazer essa escolha, mas todos sabemos que a qualidade dos serviços é sempre a mesma. Isso porque o governo impõe barreiras de entrada para novos entrantes, reservando uma fatia de mercado para um conglomerado de empresas, que por sua vez retribuem a gentileza do governo com propinas e financiamentos de campanha. Não se enganem, isso não é livre mercado, é oligopólio. No final, as empresas ao invés de investirem em eficiência, investem em lobby em Brasília e com as agências reguladoras. E quem paga pelos péssimos produtos e serviços somos nós!

Antes de encerrar, vale aqui um parêntese. Não sou contra o financiamento privado de campanhas partidárias, muito pelo contrário. O que causa a simbiose entre governo e empresas, e consequentemente os grandes esquemas de corrupção, não é o financiamento privado, é a intervenção do governo na economia. O Estado cria dificuldades para vender facilidades. Por isso, não me entendam errado. Estou aqui demandando mais mercado, não mais Estado. Essa estatização do financiamento de campanhas é imoral e deveria ser ilegal. Fecho parêntese

Sendo assim, quando Dilma fala que as empresas não devem ser punidas, a mensagem que ela passa é que existe uma elite – que não é aquela que vai as ruas protestar contra seu desgoverno, como ela acusa – que está acima do bem e do mal nesse país. Não é a toa que bancos e grandes empresas ficaram milionários durante os governos petistas. Então, não acreditem nessa balela. Tem muita gente que ganha com esse capitalismo de Estado, e como diz o ditado popular "em time que se ganha, não se mexe". Se Dilma defende tanto esse modelo, é porque ela, o PT e seus apaniguados estão ganhando com isso. E se há algo que o brasileiro com o mínimo de intelecto já deve ter aprendido, é que se o PT está ganhando, o Brasil está perdendo.

* Pedro Henrique Mancini de Azevedo, MBA, PMP