Rubem Sabino Machado
Lembro de um congresso em que eu não iria esperar, na abertura, a “palestra” de uma autoridade pernóstica famosa que tinha um certo fã-clube imerecido. Fiz muito bem em ir comer uma costela maravilhosa na Monjardim em vez de assistir a um chato afetado falando sempre no mesmo tom e arrotando uma falsa sabedoria. No dia seguinte eu soube que, não só me dei bem pela costela, mas também porque o fã-clube e os bajuladores esperaram por mais de duas horas o seu atraso, já que, mesmo sabendo do horário, tomou vôo que não o cumpriria.
Lembro também de um show de uma banda de sucesso, essa ao menos talentosa, marcado pras 21h na Portuguesa da Ilha, que eu abandonei à meia noite sem que tivesse começado: a banda sequer chegara.
Mas eventos não são os piores casos. O pior: é o atrasado do dia dia, ou melhor, do dia após dia, porque sempre atrasa... e sempre nos prejudica sem qualquer remorso... A pessoa, simplesmente, não se importa. Pior, ainda chega risonha como se fosse engraçado deixar as pessoas esperando.
Ah, mas atrasar é charmoso, cria expectativa. Sim, existe um charme em ser desagradável, e toda a expectativa de quem tem o que fazer depois e não sabe se o fará por causa do atrasado... Deixa eu te dizer: o mundo não gira por que você existe, na verdade, ele gira apesar do seu atraso, os fusos horários continuam lá e os relógios prosseguem girando, tudo pra registrar o seu atraso. Não! Você não é tão importante assim, mas é o suficiente para atrapalhar a vida de pessoas que confiaram em você. Resumindo: você é um traidor!
Ah, mas fulana também atrasa... Eu sei, vocês se merecem. Dois egoístas que não se importam com todas as outras pessoas que chegaram na hora ou que estão tentando chegar e vocês não permitem. Vocês nem percebem os olhares cúmplices das suas vítimas com lábios crispados na hora que vocês finalmente chegam, tentando fingir um sorriso pra esconder a raiva.
E se alguém for menos político, mais corajoso e comentar o atraso? Então você vai demonstrar seu total descaso fazendo algum comentário pretensamente espirituoso com aquele sorriso cínico que já comentamos. E tudo isso sem perceber que, no grupo, só os atrasados contumazes acham graça de verdade.
É claro que um relógio de pulso ajudaria a resolver o problema, mas ou você não usa ou o considera apenas uma pulseira bonita decorando seu braço, um mero acessório. Um acessório como o são todos aqueles que te esperam quando você novamente não chega na hora: e chega sorrindo, sem constrangimentos, como se os outros é que devessem ser recivilizados, como se os outros é que não tivessem amor, como se outros devessem ser censurados para não poderem fazer nenhuma reclamação, nenhum discurso de ódio contra o “iluminado” que se acha o cometa Halley da nova era, o insubstituível que está contra a maioria ignóbil e, com certeza, acima dela – Por que não deveriam esperar por você, oh luminoso Rei-Sol, a própria definição de iluminismo!?
* O autor é cronista fictício e tem que terminar esta crônica pra não atrasar...
In God we trust!