• Adriano Alves-Marreiros
  • 14/04/2024
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Nem esquerdista nem Direitista: Stuart é Stuartista...

Adriano Alves-Marreiros

Estes são meus princípios. 

Se você não gosta desses:

Tenho outros...

Groucho Marx (o Marx do bem...)

        Sabe aquele moleque interesseiro que, de repente, vem cheio de elogios pra você, muitos até injustos?[1]  Acho que todo mundo conhece alguém assim.  Menos ele próprio, que se acha o próprio diplomata, um grande estadista?  Paul Stuart era assim...

E, ano após ano, foi crescendo, não em graça e sabedoria, mas em cinismo e EUforia.  Na escolinha, sua cor preferida já era a que agradava a maioria da turma e, por isso, era uma nova cor a cada ano.

No ginásio, já falavam mais de esporte e, como ele já não era mais tão infantil, já não mudava sua torcida com a maioria da turma: era Vasco, Flamengo, Fluminense ou Botafogo dependendo do grupo de quem ele precisava.  Dizia que preferia o Senna ou o Piquet, dependendo da pessoa, só após ficar calado em alguma discussão, observando quem preferia cada piloto.  Chegou mesmo a assistir o primeiro tempo de uma final com uma torcida e o segundo com a oposta, usando desculpas de compromisso e atraso, só pra ficar bem com coleguinhas colorados e gremistas...

E com os professores então?  Concordava e ia bajular, no final da aula, todos, bons e ruins, fossem nobres conservadores ou doutrinadores militantes: não queria ficar mal com nenhum.

Como diz o João Guilherme, era como o chuchu: tinha gosto de camarão ou de carne dependendo de quem estivesse mandando no guisado...

Então, décadas passaram, a fim de  encurtar a crônica, e hoje ele se tornou profissional de alguma área de que não recordo – talvez Ciências Ocultas e Letras Apagadas – e, agradando sempre todo mundo, acabou eleito presidente de um desses conselhos que se espalham pelo país e que, se fosse bom, ninguém dava de graça.  Uma dessas organizações não governamentais que nem eram organizadas nem não governamentais porque sempre queriam financiamento do governo.  (Cá entre nós: passara anos sendo apoiador das diretorias, fossem de ideologias opostas, inimigas, isso não importava: nunca fazia oposição).

Lembro que um dia, do nada, ainda um mero diretor, ele fez uma proposta para essa ONG declarar  um apoio público a uma causa.  Sei lá... Acho que era pra fazerem uma campanha contra a legítima defesa, ou a favor de não se corrigir erros de português, ou para limitar a liberdade de expressão, uma dessas modinhas que, vez por outra, ressurgem por aí e que hoje te deixam bem na fita com o establishment e seus súditos...  Até estranhei... não muito... mas ele nunca fora de falar daquele assunto, em mais de trinta anos que o conhecia, e chego até a lembrar de alguma dessas raras vezes em que ele tomara uma posição: e fora em sentido contrário...

Foi então que alguém veio me perguntar: “Que proposta absurda!  Esse seu amigo Paul Stuart é esquerdista?”.  Respondi: “Ele não é meu Amigo...”.  “Ah, mas Você o conhece há muitos anos.  Ele é esquerdista ou não?  Para de enrolar!”.  “Conheço Stuart há muitos anos e posso de dizer que ele não é esquerdista...”.  “ Como assim?  Ele não pode ser de Direita!”.  “Stuart nunca foi esquerdista, repito.  E nem de Direita!  Stuart é Stuartista!  Sempre foi...

Sempre tive o dom do silêncio: sempre falei coisas que calavam repentinamente a rodinha animada que discutia algo...  Isso se confirmou novamente...  E é melhor prosseguirmos em silêncio: Há um tantão de gente que cai em sua conversa... 

E tem o establishment, que não cai, mas acha os stuarts muito úteis...

Os egoístas vivem cheios de EUforia. Todas as outras pessoas vivem cheias dos egoístas.

 Millôr Fernandes

Crux Sacra Sit Mihi Lux / Non Draco Sit Mihi Dux 
Vade Retro Satana / Nunquam Suade Mihi Vana 
Sunt Mala Quae Libas / Ipse Venena Bibas

(Oração de São Bento cuja proteção eu suplico)

*      Por Adriano Alves-Marreiros, que também anda cheio...

**     Publicado em 15 de fevereiro de 2022 no Tribuna Diária.

[1] Pede logo o que você quer!!! – eu dizia...