Adriano Alves-Marreiros
Estes são meus princípios.
Se você não gosta desses:
Tenho outros...
Groucho Marx (o Marx do bem...)
Sabe aquele moleque interesseiro que, de repente, vem cheio de elogios pra você, muitos até injustos?[1] Acho que todo mundo conhece alguém assim. Menos ele próprio, que se acha o próprio diplomata, um grande estadista? Paul Stuart era assim...
E, ano após ano, foi crescendo, não em graça e sabedoria, mas em cinismo e EUforia. Na escolinha, sua cor preferida já era a que agradava a maioria da turma e, por isso, era uma nova cor a cada ano.
No ginásio, já falavam mais de esporte e, como ele já não era mais tão infantil, já não mudava sua torcida com a maioria da turma: era Vasco, Flamengo, Fluminense ou Botafogo dependendo do grupo de quem ele precisava. Dizia que preferia o Senna ou o Piquet, dependendo da pessoa, só após ficar calado em alguma discussão, observando quem preferia cada piloto. Chegou mesmo a assistir o primeiro tempo de uma final com uma torcida e o segundo com a oposta, usando desculpas de compromisso e atraso, só pra ficar bem com coleguinhas colorados e gremistas...
E com os professores então? Concordava e ia bajular, no final da aula, todos, bons e ruins, fossem nobres conservadores ou doutrinadores militantes: não queria ficar mal com nenhum.
Como diz o João Guilherme, era como o chuchu: tinha gosto de camarão ou de carne dependendo de quem estivesse mandando no guisado...
Então, décadas passaram, a fim de encurtar a crônica, e hoje ele se tornou profissional de alguma área de que não recordo – talvez Ciências Ocultas e Letras Apagadas – e, agradando sempre todo mundo, acabou eleito presidente de um desses conselhos que se espalham pelo país e que, se fosse bom, ninguém dava de graça. Uma dessas organizações não governamentais que nem eram organizadas nem não governamentais porque sempre queriam financiamento do governo. (Cá entre nós: passara anos sendo apoiador das diretorias, fossem de ideologias opostas, inimigas, isso não importava: nunca fazia oposição).
Lembro que um dia, do nada, ainda um mero diretor, ele fez uma proposta para essa ONG declarar um apoio público a uma causa. Sei lá... Acho que era pra fazerem uma campanha contra a legítima defesa, ou a favor de não se corrigir erros de português, ou para limitar a liberdade de expressão, uma dessas modinhas que, vez por outra, ressurgem por aí e que hoje te deixam bem na fita com o establishment e seus súditos... Até estranhei... não muito... mas ele nunca fora de falar daquele assunto, em mais de trinta anos que o conhecia, e chego até a lembrar de alguma dessas raras vezes em que ele tomara uma posição: e fora em sentido contrário...
Foi então que alguém veio me perguntar: “Que proposta absurda! Esse seu amigo Paul Stuart é esquerdista?”. Respondi: “Ele não é meu Amigo...”. “Ah, mas Você o conhece há muitos anos. Ele é esquerdista ou não? Para de enrolar!”. “Conheço Stuart há muitos anos e posso de dizer que ele não é esquerdista...”. “ Como assim? Ele não pode ser de Direita!”. “Stuart nunca foi esquerdista, repito. E nem de Direita! Stuart é Stuartista! Sempre foi...
Sempre tive o dom do silêncio: sempre falei coisas que calavam repentinamente a rodinha animada que discutia algo... Isso se confirmou novamente... E é melhor prosseguirmos em silêncio: Há um tantão de gente que cai em sua conversa...
E tem o establishment, que não cai, mas acha os stuarts muito úteis...
Os egoístas vivem cheios de EUforia. Todas as outras pessoas vivem cheias dos egoístas.
Millôr Fernandes
Crux Sacra Sit Mihi Lux / Non Draco Sit Mihi Dux
Vade Retro Satana / Nunquam Suade Mihi Vana
Sunt Mala Quae Libas / Ipse Venena Bibas
(Oração de São Bento cuja proteção eu suplico)
* Por Adriano Alves-Marreiros, que também anda cheio...
** Publicado em 15 de fevereiro de 2022 no Tribuna Diária.
[1] Pede logo o que você quer!!! – eu dizia...