A frase do título em tela é um excerto, quase ipsis litteris, de um manifesto proferido pela cantora e compositora Ana Carolina. No início refere-se ao que se aprendia na infância: não roubarás; meu filho devolve o lápis de cor e a régua do teu coleguinha de aula; não mintas; se afasta das más companhias — e assim por diante. Hoje, aduz, o que se vê na política são cuecas e malas cheias de dólares, fraudes, lavagem de dinheiro, propinas, compra de votos, roubalheiras e o escambau — todos viajando na bagagem nacional da hipocrisia e da impunidade. À colação, revela o que há de mais sórdido. Obsceno. Indecente.
Em outro nível de reflexão, assevera o escritor João Ubaldo Ribeiro: a esperteza é moeda mais valorizada do que o dólar. Não dá para deixar jornais em caixas nas calçadas para que alguém os compre, deixando os demais onde estão! Pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam dos órgãos públicos por não limparem os esgotos. Fazem "gatos" para roubar luz, e água e TV a cabo — elevando a conta dos outros. Passageiros jovens de um ônibus fingem que dormem para não dar lugar para os mais idosos ou para mulheres grávidas. Finaliza com a asserção que pouco adianta apenas mudar os governantes porquanto, na sequência, se repete a desonestidade e a impunidade institucionalizadas.
Assim, o que se observa é que a coleção de escândalos nacionais contemporâneos resulta de um mínimo de disciplina e uma imensa falta de compostura social — questão que vem de longe, diriam, entretanto mais e mais aparecem a ponto de alguns setores acharem que a corrupção passou a ser socialmente aceita. Absurdo!
O protesto da cantora finaliza com algo assim: "Mas minha esperança é a última que morre! Mais honesta ainda vou ficar, só de sacanagem!"
Por fim, o talento do referido escritor lembra que somos nós e os governantes que têm que mudar. "Estou seguro que vou encontrar um dos responsáveis por isso tudo: começo olhando-me no espelho."
É por aí, saudoso João Ubaldo.
*Economista e ex-prefeito de Porto Alegre.