• Francisco Ferraz
  • 04/12/2014
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MAIS DE UMA DEZENA DE ESTRATÉGIAS SOBRE A MESA


 A eleição presidencial deste ano foi muito menos conclusiva que a eleição de 2010.
Narecém-disputada eleição,a presidente da república ganhou com uma diferença muito menos expressiva do que na de 2010. Além disso, o governonão enfrentava uma crise econômica da gravidade da atual e, nem o governo do PT passava por uma crise política como a resultante das revelações da rede de corrupção na Petrobrás.
Tampouco a eleição presidencial de 2010 deixara o rastro de intensa hostilidade política que a campanha de 2014 deixou. Por fim, o outro saldo importante da campanha eleitoral deste ano foi o aparecimento de uma oposição forte, determinada e qualificada, com um líder consagrado nas urnas, pelo resultado de sua votação e pelo seu desempenho na campanha.
O quadro político do país apresenta-se, neste final de 2014, como muito mais complexo e indefinido do que há 4 anos.
Há como indica o título do artigo, mais de uma dezena de estratégias em jogo sobre a mesa, o que equivale a dizer que há mais de dez atores políticos de primeira linha, em condições de influir decisivamente sobre a configuração do tabuleiro político, onde o jogo será jogado.
Por outro lado, há também situações em andamento e em desenvolvimento que condicionam a iniciativa de ação dos principais players.Quais são esses?
Num primeiro plano a Presidente da República, o lider da oposição senador Aécio Neves, o juiz Sérgio Moro, o PMDB especialmente Michel Temer, Eduardo Cunha, o ex presidente Lula, o STF, a nova equipe econômica, o PT, o novo senado e a nova câmara dos deputados.
Há ainda muitos outros players que neste momento podem parecer secundários, mas que podem afetar posições dos principais.
Há o TCU, os empresários investigados, a CPMI, os partidos políticos da base, da oposição, governadores de estados, investigações sobre a Petrobrás e o governo em andamento no exterior, reações da população ao preço a pagar pela recuperação econômica, novas e mais graves descobertas produzidas pelas investigações.
A qualquer momento, um fato novo provocado por um dos players – principais ou secundários – pode fazer com que as peças já dispostas no tabuleiro tenham que se mover.

Por enquanto todos esperam por sinais para avançar suas peças. Em condições menos complexas os principais atores – especialmente governo e oposição – criam os eixos organizadores da política, em relação aos quais os demais players se alinham.
Na atual situação, contudo, nem mesmo esses dois polos básicos do sistema político se atrevem a oferecer aos demais, os eixos estruturantes do jogo político.
Nem a presidente sabe ainda o quanto o governo Dilma II poderá ser semelhante ao Dilma I e, nem a oposição sabe ainda o quão agressiva poderá ser sem se afastar do sentimento médio da população.
Para Dilma as condições de governabilidade dependerão da não ocorrência da ‘tempestade perfeita’, a combinação de:
• Agravamento da crise econômica;
• Evolução da crise política a ponto de atingi-la;
• Revolta da população com o preço da recuperação.
Para a oposição a intensidade de sua atuação dependerá em grande medida das dificuldades do governo nessas três áreas: econômica, política e popular.
Outros players, como o PMDB de Temer e de Eduardo Cunha, evitam comprometer-se incondicionalmente (como fizeram em 2010), sem antes avaliar como Dilma evitará a tempestade perfeita e, enquanto pairarem incertezas graves o preço de sua adesão será evidentemente elevado.
Neste período de curto prazo quem dá as cartas é o juiz Sérgio Moro, embora eticamente não se afaste de sua posição técnica no desempenho de sua função jurídica.
É dele, da PF, da Procuradoria, dos depoimentos dos diretores da Petrobrás e dos empresários investigados que poderão surgir fatos novos que alterem este quadro políticoainda muito indefinido, e forcem o aparecimento dos eixos organizadores da dinâmica política democrática.

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