• Carlos I.S. Azambuja
  • 10/02/2015
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INTELIGÊNCIA ISRAELENSE

(Por um lapso faltou-me publicar o primeiro artigo desta importante série de autoria do historiador Carlos I. S. Azambuja)

O Serviço de Inteligência é a batalha das mentes e cérebros e a função dos equipamentos é ajudar o ser humano em seu desafio conceitual. Mas na integração do homem e da máquina o fator humano é decisivo, mormente no Serviço de Inteligência” (Meir Amit, diretor do MOSSAD de 1963 a 1968)


Trinta e dois séculos após Moisés ter acatado a ordem de Deus, escolhendo 12 eminentes israelitas para se infiltrarem na Terra Prometida, o Estado de Israel foi criado, em 1948, e Ben Gurion, seu primeiro presidente, fez exigências rigorosas a seus agentes secretos: que fossem motivados pelo patriotismo; que representassem os melhores aspectos da sociedade israelense; que obedecessem ao postulado singular de comedimento; e que se lembrassem que defendiam uma democracia e não um Estado monolítico. Nesse sentido, Israel é um país singular sob muitos aspectos, um dos quais tem sido o total apoio de seus cidadãos aos Serviços de Inteligência, considerados entre os melhores do mundo.

Os Serviços de Inteligência de Israel, assim como os de outras nações, são um reflexo de suas sociedades, das quais trazem seu poder de inspiração. Cada país possui uma estrutura de Inteligência moldada à sua própria imagem, refletindo a índole e as características culturais da Nação.

O que está no centro dos Serviços de Inteligência de Israel, diferenciando-os dos demais serviços de qualquer outra Nação, é a imigração. Desde a sua formação a comunidade de Inteligência de Israel empenhou-se em proteger os judeus em todo o mundo e ajudá-los a emigrarem para sua Pátria bíblica.
Quem pode imaginar a CIA, por exemplo, com a tarefa de proteger cada possuidor de passaporte dos EUA através do mundo?

A tarefa de defender não apenas o Estado, mas também “todo o povo de Israel” é a missão precípua dos Serviços de Inteligência de Israel: MOSSAD (Inteligência Externa, criado em1951), AMAN (Inteligência Militar, criado em 1949), SHIN BET (Segurança Interna, criado em 1948), Serviço de Ligação (para a Imigração Judaica, criado em 1958), LAKAM (com a funçãoprimária de resguardar o programa nuclear secreto e obter dados científicos e tecnológicos noexterior, criado em 1957) e Departamento Político do Ministério do Exterior, criado em 1948.
Desde sua criação, o Estado de Israel vê-se cercado por um círculo de nações árabes hostis. Todas essas nações, todavia, possuem minorias étnicas e religiosas e Israel sempre pôs em prática o desenvolvimento de amizades com essas minorias, que sofrem, como Israel, em maior ou menor grau, com a ascensão do nacionalismo e radicalismo árabes. A idéia por trás dessa tática pode ser resumida em uma frase: “os inimigos do meu inimigo são meus amigos”.

Qualquer força que lute ou se oponha ao nacionalismo árabe é considerada por Israel uma aliada em potencial: a minoria maronita no Líbano, os drusos na Síria, os curdos no Iraque e os cristãos do Sul do Sudão, todos sofrendo o jugo das maiorias muçulmanas de seus países. Oconceito de manter contato com todos eles tornou-se conhecido para as lideranças israelenses como “a aliança periférica”.

Desde 1951, quando foi criada, a agência externa, o MOSSAD, possui acordos de cooperação com a CIA. Mas a grande abertura dos altos escalões dos Serviços de Inteligência ocidentais para com o MOSSAD decorreu de uma vitória conseguida na Europa em 1956, quando os israelenses conseguiram superar a CIA, o MI6 inglês, franceses, holandeses e outros Serviços de Inteligência ocidentais que buscavam o texto de um discurso: o discurso secreto pronunciado por Nikita Kruschev no XX Congresso do PCUS, em fevereiro de 1956, que praticamente sepultou a era Stalin ao relatar, pela primeira vez, os horrores dos gulags, dos julgamentos encenados, dos assassinatos e das deportações de populações inteiras.

A partir de então, a reputação do MOSSAD tornou-se uma lenda.
Em suas memórias, Isser Harel, que dirigiu o MOSSAD de 1952 a 1963 e o SHIN BET de 1948 a 1952, escreveu: “Fornecemos a nossos equivalentes americanos um documento que é considerado uma das maiores realizações na história da espionagem: o discurso secreto,completo, do 1º Secretário do PCUS”. Harel, entretanto, não revelou como conseguiu o discurso.

Como qualquer outro país, o MOSSAD possui agentes secretos trabalhando nas embaixadas, sobcobertura diplomática. Onde não é possível estabelecer relações oficiais ou estas são cortadaspor divergências políticas, os diplomatas alternativos do MOSSAD desempenham tarefas quenormalmente não são da competência dos Serviços de Inteligência. Especificamente, na África, a CIA forneceu milhões de dólares para financiar as atividades clandestinas de Israel, pois sempre foram consideradas do interesse geral do Ocidente.
De acordo com o conceito periférico do primeiro diretor do MOSSAD, os vínculos sigilosos de Israel com a Etiópia, Turquia e Irã nunca deixaram de existir. Tanto Israel quanto o Irã ajudaram a revolta dos curdos contra o governo do Iraque; agentes do MOSSAD no Iêmen do Sul ajudaram os realistas a combater os egípcios; no Sul do Sudão aviões israelenses lançaram suprimentos para os rebeldes cristãos; e, no fundo da África, o MOSSAD operou num lugar tão distante como Uganda, em outubro de 1970, ajudando Idi Amin a depor o presidente Milton Obote.

Em todos os países há Estações do MOSSAD, sempre operando sob a cobertura diplomática,dentro das embaixadas.

O chefe da Estação, todavia, não comunica suas atividades ao embaixador e remete seus relatórios diretamente para o MOSSAD, em Tel-Aviv. Suas missões incluem ligações oficiais com os Serviços de Inteligência do país-anfitrião, mas também operam suas próprias redes, sem o conhecimento do país-anfitrião. A ênfase em atividades semi-diplomáticas concentra-se basicamente em dois continentes: África e Ásia.

O sucesso do SHIN BET em controlar os territórios tomados em junho de 1967, na Guerra dos Seis Dias (margem ocidental da Jordânia, Sinai e Faixa de Gaza do Egito, e as colinas de Golan) teve um preço: a sociedade israelense passou a ser julgada no mundo exterior pelo que se podia observar a respeito de sua política de segurança. A subversão e os atentados com os homens e mulheres-bomba foram e vêm sendo esmagadas, mas a boa vontade para com Israel no resto do mundo diminui, graças, fundamentalmente, à mídia. Em vez de admirado por grande parte da opinião política internacional, o Estado judaico tornou-se abominado para muita gente.
O SHIN BET, forçado pelas circunstâncias passou a ser encarado como uma força opressora de ocupação. Teve que aumentar seus efetivos, os critérios de recrutamento foram facilitados e o perfil social de seu pessoal mudou.

Os novos agentes baseavam sua atuação mais na força doque na inteligência. A natureza diferente da missão também determinou novos métodos. Numaépoca em que dois mil árabes era detidos para interrogatórios, em que carros explodiam e hotéis e aviões passaram a ser alvo dos terroristas, o essencial era extrair informações tão rápido quanto possível. O fator tempo – aliás, como em todas as guerras sujas - passou a ser o elemento mais importante e a ação rápida passou a exigir a brutalidade. Isso também ocorreu no Brasil na guerra suja dos anos 70.

Em 23 de julho de 1968, um Boeing 707 da El AL, num vôo de Roma para Tel-Aviv, foi seqüestrado e aterrisou na Argélia. Os seqüestradores eram três árabes, militantes da Frente Popular pela Libertação da Palestina. Esse foi o primeiro e último seqüestro bem sucedido de um avião israelense. A partir daí Israel introduziu um esquema de segurança radicalmente novo em seus aviões de passageiros, colocando homens do SHIN-BET, armados, em cada vôo, viajando em poltronas comuns, disfarçados de passageiros, tornando a EL AL a empresa mais segura do mundo.

O mundo, no entanto, só tomou conhecimento dessas medidas quando um desses agentes respondeu a um ataque terrorista, em Zurique, em fevereiro de 1969, na pista do aeroporto de Kloten. Em 1968, Meir Amit, diretor do MOSSAD desde 1963, foi surpreendentemente substituído pelo general Zvi Zamir, sem experiência anterior no Serviço de Inteligência. Segundo as especulações, ele havia sido substituído por ser eficiente demais. Os líderes do Partido Trabalhista, então no Poder, não desejavam um chefe do Serviço de Inteligência que fosse forte demais...

Dados bibliográficos:

Noticiário da imprensa nacional e internacional e livro “Todo o Espião é um Príncipe”, Imago Editora, 1991, de Dan Ravin e Yossi Melman.