Sob o ponto de vista econômico, inovação é encontrar novas formas de fazer mais com menos. Alcançar novas maneiras de resolver problemas, necessidades e desejos funcionais, emocionais e/ou sociais dos consumidores com melhores ou mais baratas opções e soluções. Schumpeter denominou a inovação como um processo de destruição criativa, a essência da transformação econômica. Produtores desejam inovar em processos, produtos e serviços para continuarem prosperando, enquanto consumidores anseiam por melhores soluções e preços mais baixos.
Quem não quer inovar? Líderes empresariais e políticos entoam entusiasticamente discursos e retóricas colocando em relevo o papel da inovação para o atingimento de crescimento e a prosperidade nacional. (De fato, assim é!). Soa moderno, inteligente, progressista e popular!
Fico me questionando porque não há o mesmo entusiasmo quando trata-se de comércio internacional?! Óbvio, a falsa retórica da garantia de empregos nacionais, demagógica e populista, acaba exercendo forte impacto, em especial, emocional na massa dos trabalhadores menos qualificados.
Muitos ainda não se deram conta - ou não querem admitir - que o comércio internacional e a inovação são muito semelhantes. Ambos são maneiras de fazer mais com menos. Evidente que o comércio internacional é extremamente positivo para o crescimento econômico, como também seguramente para o bem-estar da maioria da população. É o caminho para a criação de prosperidade para todos.
Que indivíduo-consumidor não deseja acessar produtos e serviços de melhor qualidade, a preços mais acessíveis, e mesmo bens que não são produzidos no país, ou aqueles que não são ofertados de maneira mais eficiente e competitiva? Isso melhora a vida de todos!
Tristemente, por essas bandas, a coisa não é bem assim... Na nossa tradição estatista, patrimonialista e intervencionista, certamente se ouvirão vozes - falaciosas - que se colocarão do lado da manutenção do emprego de trabalhadores verde-amarelos. Hipocrisia. Tudo fica mais caro no Brasil e há subsídios vergonhosos para setores que são protegidos da concorrência internacional.
Evidente que naqueles setores em que não somos eficientes, parte dos trabalhadores ficarão sem seus empregos. Contudo, e verdadeiramente, essa é somente uma parte, mais imediata, de toda a história.
A outra parte, frequentemente omitida, é que numa análise dinâmica e mais alongada, toda a população ganhará em poder de compra para utilizar em suas próprias vidas. Setores afetados, ou se capacitarão ou deixarão de existir. Todo o dinheiro que os cidadãos alocam nestes setores ineficientes, a partir das importações, passarão a ser gastos em outras atividades na economia nacional. Novos negócios surgirão e outros se expandirão, a fim de absorver o trabalho e o talento daqueles trabalhadores que tiverem seus empregos impactados pelo comércio. Claro que existe um período de transição e um processo de ajuste que leva um determinado tempo para acontecer.
O apelo populista é como um céu nebuloso, impedindo as pessoas de enxergarem que, no longo prazo, haverá efetivamente um aumento no padrão de vida da população. Novos processos, produtos e serviços para adquirir e desfrutar. Isso inclui, inclusive, mais recursos para gastar em educação e lazer. O comércio internacional é o caminho compulsório para o crescimento e o alcance de maior produtividade!
Ainda assim, a pergunta que se impõe é: como ficarão alguns trabalhadores que perderão o emprego naqueles setores ineficientes e que não serão realocados em outros setores econômicos? A realidade é que alguns trabalhadores menos qualificados (atividades puramente manuais e mecânicas) realmente ficarão sem empregos. Para esses, não há dúvida de que programas de proteção social, tais como o Bolsa Família, serão fundamentais. Porém, parece-me preferível beneficiar a maioria da população, realizando transferências de renda para esses trabalhadores afetados.
As pessoas anseiam e merecem reconhecimento e dignidade. Alguns, por certo, descobrirão novas aptidões e outras oportunidades em suas jornadas de vida. No entanto, outros deverão ser auxiliados.
Seria justo prejudicar a grande maioria da população, empreendendo medidas protecionistas para "salvar" tais empregos? Não estaríamos assim, obrigando a população a gastar seus recursos em produtos e serviços de pior qualidade e preços mais altos? Não estaríamos, similarmente, eliminando a possibilidade do surgimento de novos setores, empresas e novos postos de trabalho se concretizarem?
Na economia digital, na era da revolução 4.0, esse é um dos grandes desafios - abissal! Não há estrada pavimentada que não seja por meio da educação! É preciso obrigatoriamente capacitar as pessoas com novas competências e habilidades necessárias para o enfrentamento nesse novo contexto. (Só "questões humanas" não resolvem os problemas técnicos"!). Isso requer profunda reestruturação no setor educacional, a fim de preparar pessoas para pensar criticamente e adquirir recursos e capacidades para se ajustarem aos processos existentes e, em especial, àqueles inovadores que virão.
O papel da "reciclagem profissional", creio, deve ser exercido pelo Estado e pela iniciativa privada, conjuntamente. Parece-me necessário aprofundar a formação de indivíduos por meio de mais e melhores escolas "técnicas", que empreguem as novas tecnologias da informação em seus respectivos campos específicos.
Enfim, o caminho é pela abertura econômica, progressiva, com competição gerando mais inovações, mais produtividade e novos empregos. Abertura comercial e da concorrência são condições fundamentais para incorporação de tecnologias sem as quais não haverá aumento de nossa participação nas cadeias globais de valor e em produtividade. Ou se deseja o isolamento do país a lógica global e ao mundo?
Para o bem-estar de todos, rompendo com benesses exclusivas de grupos de interesses, uma ampla abertura será o aspecto catalisar e indutor do crescimento e das demais reformas que o país necessita para competir e prosperar, impelindo o urgente foco em melhorias educacionais, tributarias e de infraestrutura.
Por que será que não se escutam inflamados discursos e narrativas em prol de uma ampla abertura comercial? Não nos esqueçamos que no duro terreno da política, o que temos é sempre uma "disputa de narrativas"...
Alex Pipkin, PhD