A catastrófica qualificação dada pelo Ministro Miguel Rossetto ao chamar de “golpismo” o anseio que exsurgiu das manifestações populares de milhões de brasileiros que tomaram as ruas ontem, para defender o “impeachment”, sintetiza a radiografia do atual governo de Dilma Rousseff: insustentável. Para piorar, o Ministro Eduardo Cardoso, não bastasse ter recebido há poucos dias em seu gabinete, a portas fechadas, os advogados das empreiteiras envolvidas na operação Lava-Jato, destaco, sem a presença do Procurador-Geral da República Rodrigo Janot, nem tampouco do Juiz Sério Moro, produziu uma verdadeira gaiatice ao anunciar que o governo irá apresentar um pacote de medidas contra a corrupção.
Ora essa, assemelhar o “impeachment” ao golpismo!
Ora essa, o governo vai apresentar um pacote de medidas!
Golpismo, Ministro, é o “Petrolão” e o financiamento público de campanhas, apenas para os partidos que compõem a base governista, com dinheiro da Petrobrás. Golpismo é tornar um costume a corrupção e o superfaturamento de contratos de engenharia na referida estatal, para poder captar os valores que fluíram e confluíram num duto de um “petróleo” tão especial, que beneficiou apenas a poucos. Golpismo é avocar o triste exemplo de Hugo Chávez e criar uma campanha publicitária da Petrobrás intitulando-a de “superação”, onde se tenta assemelhar o contexto histórico da fundação da estatal, com o contexto político do país agora. Golpismo é ludibriar o povo, com o que se prometeu não fazer às vésperas das eleições e, logo que iniciado o mandato presidencial, de forma trêfega, fazer o que se dizia combater, deslegitimando a motivação dos votos que elegeram a atual Chefe do Poder Executivo. Golpismo é o cidadão brasileiro ter de assistir um Ministro do STF trocar de turma como quem “troca de turma” no colégio, apenas para ficar mais próximo dos seus amigos, como fez o Min. Dias Tóffoli, diga-se de passagem, ex-advogado do PT, para agora integrar a turma que irá julgar os réus da operação Lava-Jato. Seria isso um “exemplo” de imparcialidade? Ou uma “lição” do que se entende por suspeição e impedimento? Não, isso sim é golpismo.
E o pacote de medidas? Que Brasil continua a ser este que tem de receber anúncio de pacotes, como quem recebe a ligação de que há uma bomba para explodir? Por que a insistência em noticiar “um pacote”, de forma tão genérica, quando se pode especificar e detalhar que medidas serão estas? É por que ainda elas ainda não existem? Ou é para o povo, através de cada cidadão brasileiro, preparar o bolso para pagar novamente a conta, através do aumento de impostos e tarifas, como costuma acontecer. Tememos que seja seguir o exemplo da Venezuela que na semana passada autorizou Nicolás Maduro, tal como havia autorizado Hugo Chávez, a governar através de decretos.
É demais. É demais não, é dose.
Um país que tem o movimento de apoio ao governo vestido de vermelho (a cor de um partido) e não as cores verde, amarelo e azul (cores da bandeira nacional) é o retrato da falta de legitimidade perene do governo que aí está. Ademais, se o povo defendesse tanto o governo de Dilma, não seria lógico que deveria utilizar as cores do país de sua própria governante?
Mas, não. No Brasil as manifestações populares, mais uma vez opõem, em lados diametralmente opostos, não apenas as cores que as representam, mas os sentimentos e os anseios dos movimentos pelo “impeachment” e o de defesa do governo. Collor pediu que os brasileiros usassem verde amarelo e testemunhou um povo de luto usando preto. Dilma tenta se abrigar no vermelho do PT, mas testemunha uma nação vestida em verde, amarelo e azul.
Ao iniciar o mandato presidencial e praticar todas as medidas que disse que não praticaria, ludibriando o povo, ao praticar os crimes continuados e os crimes permanentes desde o mandato anterior, os quais se arrastam no tempo de um mandato a outro, e que vieram à tona na operação “Lava-Jato”, Dilma perdeu completamente a legitimidade para governar.
É hora do “impeachment”, tentar sustentar o contrário, isso sim é golpismo.
* Advogado
www.pedrolagomarcino.wordpress.com