Adriano Marreiros
Tenho que aproveitar enquanto ainda há algum resto de Liberdade.
Bandeira idolatrada
Altiva a tremular
Onde a liberdade
É mais uma estrela
A brilhar!
Fibra de herói: Barros Filho e Guerra Peixe
Estou fora de data, mas precisei escrever urgente. E tenho que aproveitar enquanto ainda há algum resto de Liberdade.
Curto Rock, curto Jazz, curto Blues. Os dois últimos eu conheço e ouço menos do que deveria e, pra conhecer e ouvir mais, fui à Redenção, ontem de manhã, com Nanda, para ouvir um pouco. E sim, conheço os... perigos da Redenção...
Encontramos lá o Átrio e a Rachel, como combinado, curtimos boa música e resolvemos ir almoçar uma boa carne, antes que nos proíbam. No caminho pro nosso carro, Nanda vê umas bijuterias interessantes num quiosque e me pergunta qual eu achava mais bonita. Como costuma ocorrer, sugeri uma e, logo, ela disse preferir outra.
Háháhá, devia ter feito psicologia reversa... Antes, porém, que ela comprasse, a senhora que nos atendia ofereceu uma realmente bela: era de um verde e amarelo lindos, Imperiais, bem Bragança e Habsburgos. Creio que até uma Imperatriz usaria...
Imediatamente disse: “Leva este, Nanda: é das cores da Bandeira!!”. A tal senhora fez cara de nojo. Engraçado... sei como é essa turma do Bonfim, tanto que mencionei conhecer os perigos, mas eu não tinha falado nadinha de política. E mais, não defendi sequer os verdadeiros valores – não tinha defendido a vida dos inocentes desde a concepção, não tinha defendido a punição de bandidos, não tinha defendido a Liberdade de expressão, não tinha defendido a posse de armas pelas pessoas de bem, não tinha criticado as agências de left checking, não tinha criticado grandes episódios de corrupção, não tinha defendido valores judaico-cristãos: nada disso! Nada! Eu só tinha elogiado as cores por serem as da Bandeira de nosso país.
Mas não me intimidei – Vô Josino já dizia que “cara feia pra mim é fome” – e complementei o que estava dizendo: “É o verde e amarelo da Bandeira, do Brasil e mais, em tons imperiais. Parece o que nossos Imperadores usavam”. À medida que eu elogiava, mais ela fechava a cara, mas, como não queria perder a venda, embalou o produto e passou o cartão, chegando a ensaiar um pretenso projeto de sorriso, um sorriso amarelo, mas de uma amarelo feio, anêmico, não belo como o do colar e da Bandeira: e olha que nem mostrou os dentes.
Pegamos então o carro e fomos encontrar Átrio e Rachel na Texas Fumaçaria, que adoro por dois motivos: primeiro porque tem no nome o Estado americano[1] mais admirável, onde o cidadão está acima do Estado, onde os valores são mais cultivados, onde a Bandeira nacional americana é amada e respeitada. Segundo, por causa daquele sanduiche maravilhoso de Brisket que não tem mais em lugar nenhum.
Entre uma e outra lambuzada de um sanduiche que não se pode comer impunemente (de terno, nem pensar) meus pensamentos me levaram à lembrança do torpe e asqueroso regime nazista. Se não me engano, eles nunca chegaram a mudar oficialmente a bandeira da Alemanha, mas, na prática, em qualquer ocasião, só usavam a do partido. Mas, mesmo que eu esteja enganado: o fato é que substituíram a Bandeira de uma Nação pela bandeira de um partido... e impuseram o partido único, uma única opinião, desarmamento civil, o genocídio étnico e de opositores e outros horrores.
É esse tipo de perigo que mais me preocupa quando lembro daquele esgar de nojo.
Não temais ímpias falanges,
Que apresentam face hostil:
Vossos peitos, vossos braços
São muralhas do Brasil.
Vossos peitos, vossos braços
Vossos peitos, vossos braços
São muralhas do Brasil.
Hino da Independência.
D. Pedro I e Evaristo da veiga
* O autor é mestre em Direito, membro do Movimento Contra a Impunidade (MCI) e do Ministério Público Pró Sociedade (MP Pró Sociedade), autor de “2020 D.C., Esquerdistas Culposos e Outras Assombrações” e de “Hierarquia e Disciplina são Garantias Constitucionais”.
** Publicado originalmente no portal Tribuna Diária, em https://www.tribunadiaria.com.br/ler-coluna/1565/gente-com-nojo-da-bandeira.html