• Luiz Carlos Da Cunha
  • 17/12/2014
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DESIGUALDADE E URBANISMO

O economista Francês Pikety em seu alentado tratado do capital, discorrendo sobre a economia moderna na fluência estética da língua francesa, converge em receituário para a solução do velho problema social da desigualdade: taxar a riqueza exageradaem prol dos mais pobres. Parece-me um resultado ingênuo. Marx em seu prolixo Das Kapital, interpretando a formação do capital como resultado da forma de produção capitalista, antevia o destino da evolução econômica na história, na tradução dialética da afirmação: “o capitalismo traz o germe da própria destruição- o proletariado”.

Não aconteceu. O proletariado articulado em poderosas associações sindicais enfrentando os donos dos meios de produção, sob um aparato judicial inarredável construído pela experiência, estabelece um equilíbrio de forças desconhecido em todo passado histórico. Ainda que o processo produza a concentração de renda que separa os mais ricos dos mais pobres, estes auferem crescentemente o poder de compra dos benefícios sociais do progresso. Um operário moderno tem a seu dispor confortos de vida superiores ao burguês do século XVI.

Esta correlação pode ser observada na geografia urbana, no desenho evolutivo da cidade. A partir do núcleo formador, a cidade vai se expandindo à figura de uma ameba,dilatando-se pelas lindes de menor resistência econômica da terra. Os imóveis mais depreciados vão sendo substituídos por investimentos de maior valor através da simplicidade da compra e venda, da transação livre entre as partes interessadas, quando ao final, os valores se acomodam ao sabor do mercado e da disposição livre dos parceiros. Pari passo os impostos são crescentes nos imóveis de maior valor, e decrescentes ao mais depreciados, enquanto os serviços que qualificam e definem os padrões civilizatórios vão sendo democraticamente estendidos a todos.

Claro que descrevo o processo teórico de urbanismo assentado em economias culturalmente e historicamente consagradas. Porque são estas que apontam o evoluir das cidades das mais primitivas e mais pobres, lentamente no elastério da desigualdade, a democratização do enriquecimento geral.


• Arquiteto e urbanista (PAlegre, 15 / 12/ 04)