Adriano Alves-Marreiros
O bom cabrito não berra... (Ditado impopular)
Hoje li um artigo do Paulo Briguet sobre o Muro da Vergonha, digo, sobre o indefectível MURO DE PROTEÇÃO ANTIFASCISTA. Falava de uma foto em que aparecia seu nome em alemão e em que comemoravam seu jubileu 3 anos antes de sua queda. Hoje vivemos sob as mesmas definições de democracia e fascismo defendidas pelos mesmos criadores da República Democrática Alemã, a chamada Alemanha Oriental: de onde tantos tentavam fugir pulando o muro e eram... protegidos por guardas que os matavam, se preciso, só para não caírem nos intensos sofrimentos causados pelo... fascismo do lado ocidental do muro. E acreditam que os ingratos que ainda estavam vivos correram justo para o lado ocidental quando o muro caiu?!
Mais tarde, um novo Muro de Proteção antifascista se ergueu, por meio de editores e profissionais ideológicos de revistas, jornais e programas de rádio e TV. Mantendo a Sociedade protegida de qualquer idéia não “progressista”. E mais uma vez ele veio abaixo com as redes sociais e, em nova ingratidão, demonstrando a necessidade de tutela constante, a Sociedade criticou muito o... salvador “progressismo”.
Não podia ficar assim, era necessário não só dar uma lição aos ingratos, mas que houvesse “Editores da Sociedade” para que esta fosse protegida dos perigos da Verdade e da Liberdade, evitando a desordem... a “desordem informacional”. Um novo muro precisava ser levantado...
Deixe-me mudar de assunto, ou não...
Depois que constatei que quase ninguém liga pro que escrevo, tinha decidido parar, mas resolvi escrever ao menos mais esta crônica em homenagem aos meus 17 leitores que, talvez sejam os mesmos do Agamenon, talvez não sejam tantos. Se você não é originalmente um deles, talvez agora eu tenha 18 como na dedicatória do tal livro, cujas palavras faço minhas[1].
E quanto menos leitores eu tiver, melhor... Ontem eu soube que quanto mais leitores eu tiver, mais provável é que me prendam por um crime(?!) cujos autores são escolhidos, digo, definidos, depois de cometerem o crime: sim, segundo critérios pós-definidos. Depois que eu publicar é que algum julgador ou left-checker vai decidir se ele acha que tenho leitores o bastante, se o que eu disse deve ser considerado sério ou mero recurso retórico ou se é feiquinius ou verdade inconveniente. Até mesmo o que eu quis dizer será decidido depois. Aí vão decidir se o que foi dito atinge algum grupo protegível ou não. Na prática, decidirão se eu também faço parte dos protegedores ou protegíveis: se eu fizer, independente dos critérios, eu terei meio que um salvo conduto enquanto mantiver fidelidade ideológica. E deixarei de ser preso e cancelado por condutas que gerariam prisões e cancelamentos dos improtegíveis e dos protegíveis infiéis (que deixam de ser do grupo dos protegíveis). Assim, sempre se poderá ponderar que cada caso é um caso e que, por isso, é sempre justo o duplipensar. Viu? Um método perfeito, bem científico e que não tira sua Liberdade de Expressão: basta não falar o que for anteriormente ou posteriormente proibido. Na dúvida: cale-se. Afinal, você tem liberdade: MAS. Nunca esqueça que sempre pode haver mais (com i) mas (sem i).
Voltando ao assunto (ou seria prosseguindo?), e em resumo: um muro! Um novo muro que protegerá as pessoas das opiniões nocivas e mais: protegê-las-á de emitirem opiniões que depois sejam consideradas retroativamente nocivas. É perfeito! E a um preço irrisório: custará apenas as suas Liberdades...
É mais eficiente que o ferro e concreto dividindo Berlim, mais eficiente que fronteiras, mais eficiente que o Oceano que nos separa dos outros continentes e mais: em breve cercará o mundo todo, cercará cada um de nós, protegendo-nos, para sempre, de nós mesmos: afinal de contas, se não pudermos nos expressar, não poderemos cometer condutas que nos levem à prisão e seremos LIVRES!!!
Eu sou free
Sempre free
E sofri demais
(Banda Sempre Livre)
(...) a chegada dos “fascistas” abriria caminho para a libertação dos presos comuns (o que incluía estupradores, assaltantes e traficantes e até mesmo desertores), anistiados por Stalin.
Mas quem eram os fascistas, afinal? Eram os presos políticos enquadrados no artigo 58 do Código Penal de 1926.
Segundo observou Soljenítsin, não havia debaixo da cúpula celeste conduta, desígnio, ação ou inação que não pudesse ser punido pela mão pesada do art. 58. De seus catorze parágrafos nenhum era interpretado “de maneira tão ampla e com tão ardente consciência revolucionária como o décimo
– A propaganda ou agitação que contenham um apelo ao derrubamento ou enfraquecimento do Poder Soviético...
Diego Pessi
Adriano Alves-Marreiros
Que também correria pro Ocidente...
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