Hoje, mais uma vez , parte de mim morreu. Não morreu, foi executada. Meu nome é Fábio, tenho dois filhos e sou orgulhoso funcionário público.
A fortuna quis e permitiu que eu, hoje, depois do trabalho, voltasse para casa.
Outro Fábio, no Rio de Janeiro, meu xará, funcionário público e pai de dois filhos como eu, hoje não teve a mesma sorte. Ele jamais voltará para casa.
Cometeu o grave Crime de ser funcionário público que trabalha na área da Segurança Pública. Era Delegado de Polícia de raiz.
Os bandidos que o capturaram (os fatos ainda estão meio nebulosos), ao descobrirem de quem ele se tratava, não perdoaram e executaram-no sem nenhuma clemência.Os sanguinários sicários abreviaram a carreira de um jovem Delegado que estava em ascensão, tanto em sua vida profissional quanto pessoal.
O pior, no entanto, é que o enterro do Fábio não terá pompas e nem circunstâncias. Os Direitos Humanos não farão protestos. As principais avenidas do RJ não serão interrompidas por movimentos sociais, e ONGs não soltarão pombinhas brancas em nome da paz.
Afinal de contas ele era só um funcionário público cumpridor da lei.Quantos Fábios como eu terão que morrer para que este país desperte? Para que bandidos não assumam o papel de heróis e heróis não sejam mortos e enterrados no anonimato?
Muitos outros, infelizmente, até o despertar acontecer (se acontecer), ainda morrerão.
Em dias como hoje o cansaço e a tristeza tomam conta de mim. Sinto apenas um profundo lamento. Sinto o sofrimento dos filhos que jamais verão o pai outra vez e da viúva que terá que carregar o fardo de criá-los sozinha.
Não vejo mais saída para o Brasil.
Parafraseando Fernando Pessoa,cansaço, cansaço, cansaço...só o que eu sinto é cansaço.
Descansa em paz, Fábio!