• Genaro Faria
  • 17/11/2015
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DÊ PRESENTE A UM ADULTO NESTE NATAL

 

Faz mais de dez anos que eu vou à agência central dos correios para bancar o Papai Noel. Pego ali, aleatoriamente, umas cinco cartas que levo para casa e, no dia seguinte, lá me vou comprar o presente que aquela criança anônima da periferia pediu para alegrar seu Natal.

Que tolice! Volta e meia nós caímos nessa ratoeira: "Ouro para o bem do Brasil"; "Orós precisa de nós"; "Criança esperança"; "Dedico meu milésimo gol às criancinha pobres do Brasil" (Pelé). Explode coração! Quantas emoções!

Agora que eu entrei para o clube do cotonete - só entra quem tiver a cabeça branca - tudo vai ser diferente. Vou dar meu Natal para os pobres. Isso mesmo, o Natal inteiro. Desde a árvore, as bolas douradas, os sinos, até o anjo que anuncia com uma flauta a esperança de um futuro melhor. Como fez Dilma na campanha eleitoral do ano passado.

Vou radicalizar minha solidariedade. Nada de enviar um presentinho, menos para o menino inocente do que para mim mesmo. Para lavar as mãos de minha consciência.

Darei um telefonema a esses promotores de campanhas tão meritórias para pedir que me informem o endereço da sede do PT. Não quero constranger nenhuma família de "excluídos" com um presente dado por um burguês, reacionário, fascista. Conservador. Não vou mais me intrometer, inadvertidamente, nessa seara que é um monopólio do PT. Esse partido que é tão apaixonado pelos pobres que os multiplica. Quanto mais pobres, melhor.

Minha única dúvida - já que eu sou um cara muito desconfiado - é se o PT será capaz de distribuir tantos presentes até o Natal. Mesmo convocando sua militância. Os voluntários da pátria. E que os comissários, diante dessa avalanche de tantos outros que pensem como eu, acabem se aturdindo. Recusem os presentes como uma tentativa de suborno, coisa que repelem veementemente, devolvendo o agrado com um bilhete malcriado ao benfeitor. E me chamem de golpista imperdoável. Lá vou para o paredón dos infames, erguido pela diligente patrulha ideológica.

Não, pensando bem, neste Natal, eu vou presentear com meu coração os adultos que vivem nas ruas, sem título de eleitor nem filiação sindical. Os esquecidos. Com um copo de café com leite, um sanduíche de queijo e presunto e um abraço, agachado na calçada para me nivelar a eles, lembrando que o Menino nasceu numa manjedoura para nos igualar como filhos de Deus. E nos elevar no mistério que reflete a semelhança da imagem humana de Deus na imagem divina do homem: Cristo.