• Igor Morais
  • 07/05/2015
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CADÊ OS EMPREGOS

Que a economia brasileira estava em um processo de desaceleração desde meados de 2014 e que isso iria atingir o mercado de trabalho em determinado momento, não há dúvida. A expectativa estava centrada na magnitude desse ajuste. A cada mês a realidade que se mostra configura um cenário perturbador. A divulgação da taxa de desocupação do mês de março da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), feita pelo IBGE, naquilo que entendemos como taxa de desemprego, é preocupante. O resultado de 6,2% é o maior, para meses de março, desde 2011, sinaliza que há 1,5 milhões de pessoas procurando emprego nas seis regiões metropolitanas onde a pesquisa é realizada e que não encontrou e é o pior início de ano desde 2006.

O número final em si já é motivo de preocupação, apesar de esperado por analistas. Mas há algo que precisa ficar claro. Esse reflete um resultado para apenas seis regiões metropolitanas, não contemplando todas as capitais do Brasil e nem cidades consideradas de menor porte, como Santos, Caxias do Sul, Uberlândia e por aí vai. O leitor já percebeu o problema. A atual taxa de desemprego não consegue captar o que está acontecendo nesses lugares. Como exemplo, vou analisar nesse artigo a indústria, um setor que emprega quase nove milhões de pessoas no Brasil. Sabemos que as indústrias estão, em sua maioria, fora dos grandes centros urbanos, em muitas dessas cidades de porte médio e totalizando 6,5 milhões de empregos, ou seja, 73% do setor. Como esse está em crise há vários anos, podemos deduzir que os empregos perdidos nessas regiões ainda não estão nas estatísticas e provavelmente não irão aparecer. Ou seja, a situação é pior do que os dados revelam. Outro ponto que corrobora com a tese de que “estamos pior do que se imagina” é que uma parte significativa de trabalhadores ainda recebe o seguro-desemprego, e isso limita a busca por uma nova colocação. Lembre-se que o indicador de desemprego reflete a sequência de eventos: procurou emprego e não achou. Se achar, não é desempregado. Se não procurou, também não é desempregado.

Além disso, o contingente de trabalhadores que ficam em “disponibilidade” em casa, esperando a empresa melhorar para voltarem a atividade, não são contabilizados como desempregados. Mesmo assim, somente nos três primeiros meses de 2015 foram gastos R$ 10,7 bilhões com seguro-desemprego contra R$ 10,1 bilhões no mesmo período do ano passado. E olha que a partir de 1º de março o Governo começou a tornar mais difícil aos trabalhadores obter esse benefício. O que isso significa para a economia? A situação está ruim e pode ficar pior? É possível determinar um prazo final para esse cenário? Em primeiro lugar o impacto imediato de uma perda ou queda da renda é sobre o consumo, atingindo o comércio.

Os números só não são piores, por dois motivos. Primeiro que a pesquisa do setor não capta o comportamento dos micro e pequenos negócios, também concentrados nas regiões menores. Em segundo, devido o amortecedor de renda que é o seguro-desemprego. Mas, esse benefício tem prazo, portanto, espere por vendas em queda, em especial para produtos supérfluos. Sim, com a queda da renda podemos ter um aumento da inadimplência e mais restrições de crédito a frente, realimentando o ciclo restritivo. Qual seria o prazo final para esse cenário? Como essa parcela da população que solicitou o seguro desemprego recentemente deve ter o benefício por um determinado período, é natural imaginar que, em meados do ano, provavelmente entre julho e agosto, os números do mercado de trabalho mostrem uma piora na situação.

Portanto, é possível sim que a situação fique pior quando se trata de dados do mercado de trabalho até agosto ou setembro de 2015. E quando é que termina essa crise? A notícia boa é que não há mal que perdure. Um dia realmente ela irá passar. Os números mostram que iniciamos o processo de desaceleração em julho/agosto de 2014. Considerando um ano inteiro perdido, como o de 2015, a chance da economia começar a sair dessa crise no primeiro trimestre de 2016 aumenta isso porque poucas foram as situações no qual o Brasil atravessou um ciclo tão extenso de crise como deve ser o atual. O que pode fazer com que essa previsão não se concretize é a piora na situação política ou um novo choque negativo de preços, câmbio ou então externo e que pode realimentar um novo ciclo de queda na confiança, vendas, produção e com impactos sobre o mercado de trabalho. A questão é que tal como colocado o plano macroeconômico de enfrentamento da atual situação, a economia ficará moribunda por vários meses. É um pacote a conta gotas. Não há robustez no controle de gastos e o Banco Central faz mudanças pontuais nos juros, sem penalizar os bancos públicos, que continuam a expandir moeda. E mais problemas podem aparecer. Com menor número de pessoas com carteira assinada, o INSS arrecada menos, o Governo recolhe menos impostos e gasta mais com benefício social e reduz o funding do BNDES. Está faltando sim mais energia, por parte do Governo, no enfrentamento dessa crise. Acontece que até essa ficou cara nos últimos meses.

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