O banco Santander, utilizando cerca de R$ 800 mil em isenções fiscais da lei Rouanet, realizou em Porto Alegre uma “mostra” – Queermuseu- em que, sob o pretexto de estimular a chamada “diversidade cultural”, especialmente entre crianças e jovens (como explicitava a página do departamento dito “cultural” do banco), foram exibidas peças – apelidadas de “arte alternativa” – que retratavam cenas de pedofilia, zoofilia, homossexualismo infantil, racismo, bestialismo, tortura e ataques blasfemos a símbolos cristãos em geral, especialmente aos da religião católica. Para começo de conversa, todos esses comportamentos são, sem meias palavras, crimes devidamente tipificados em nosso Código Penal.
O evento provocou imediatamente forte reação de protesto, que se manifestou principalmente nas redes sociais e que culminou por levar o banco, após milhares de correntistas encerrarem suas contas, ao seu cancelamento. Imediatamente, os falsos paladinos da “liberdade de expressão” – que, hipocritamente, em sua maioria, são os mesmos que defendem regimes políticos que não permitem a liberdade que dizem defender, bem como alguns “libertários de fraldas” -, colocaram as bocas em seus desafinados trombones, emitindo grunhidos raivosos de “censura”, “cerceamento da liberdade de expressão artística”, “fascismo” e outros chavões comumente usados como xingamentos do mesmo gênero, embora a maioria dos que os usam nem saibam o significado dessas palavras e expressões. São meros papagaios repetidores de chavões, cujo comportamento beira a vigarice e o sectarismo.
Não vou entrar no mérito da qualidade artística das obras, uma vez que as avaliações de pinturas, esculturas e da arte em geral são sempre subjetivas. Tampouco vou questionar se o objetivo da arte é retratar beleza, simplesmente chocar, ou usá-la como meio de doutrinação. Mas não posso deixar de entrar no mérito moral da questão e começo afirmando que, sob esse ponto de vista, o evento não passou de um lixo fétido e asqueroso, de uma imundície catinguenta e nauseabunda, de um refugo fedorento e repugnante. E que a reação de boa parte dos defensores da mostra assemelha-se a uma inusitada relação adulterina entre Karl Marx e Hans-Hermann Hoppe que deixaria perplexo até mesmo o libertário Murray Rothbard, que não era maluco nem caduco.
Usar o argumento da liberdade sempre é um prato feito para os fiéis de ambas as seitas, inclusive para os que dela desconfiam, no sentido de que todos, sem exceção, sempre se dizem favoráveis a ela ou mesmo a rejeitam nos campos da economia e da política, mas que, em termos morais, comportam-se como relativistas extremados. Por isso, devemos sempre analisar que conceito de liberdade cada um desses que se declaram seus defensores tem em mente. Nunca devemos nos esquecer que liberdade e virtude devem ser indissociáveis, o que significa, simplificando um pouco as coisas, que só faz sentido falarmos em liberdade se a essa liberdade estiver associada alguma obrigação, que é a de respeitar os direitos de terceiros. Se por liberdade entendermos simplesmente fazer o que nos dá na veneta, então podemos justificar qualquer tipo de crime, dizendo, por exemplo, “Fulano matou, ou estuprou, ou roubou” simplesmente porque “teve vontade de fazê-lo”.
Deveria ser evidente, então, que o conceito de liberdade relevante é o que chamamos de liberdade situada, que leva em conta que todos nós temos que nos deparar e lidar com costumes, tradições, leis, objetos, pessoas e tudo o mais que nos rodeia e de que não podemos escapar, a não ser que optemos, voluntariamente, por sermos seres solitários, como um Robinson Crusoé, e não os seres solidários que o convívio social exige. Assim, nossa liberdade é condicionada por tudo o que existia antes de nós, ou seja, é uma liberdade situada. Estamos limitados por nossa natureza, por muitos condicionantes, como nossas próprias habilidades ou talentos, inteligência, inclinações e debilidades, por nosso ambiente de trabalho e pelas pessoas com quem convivemos ou com quem trocamos algo, mesmo que a troca seja virtual, como o caso de uma compra pela Internet.
Escrevi que isso deveria ser evidente, mas, infelizmente, não o é. Por que digo tudo isso? Será que defendo a censura de eventos como promovido pelo banco, sua proibição sumária, a prisão de todos os envolvidos, pintores, curadores e até o presidente do banco? É rudimentar que não, mas a patrulha gramsciana, reforçada por quem pensa que liberdade é simplesmente poder fazer o que se deseja sem preocupar-se com os demais, confunde desonestamente censura – que é sempre de viés autoritário – com boicote ou protesto, que expressam sempre a vontade livre de se gostar ou não gostar de qualquer coisa e de ter liberdade para manifestar a opinião. Infelizmente, alguns libertários, inocentemente e por falta de estudos, engrossam esse caldo, ao assumirem que a liberdade é alguma divindade com poderes para ditar valores morais.
O que sucede, contudo, é que, quando boicotamos algo, estamos simplesmente nos abstendo de manter alguma relação, seja ela comercial ou pessoal. Como escreveu Helio Beltrão,
“O boicote é 100% liberal, ao contrário do que uns neófitos liberais desavisados têm propagado. A real democracia se dá pelo 'voto' a cada transação, ou seja, a cada compra e pelo prestígio a determinadas relações sociais, OU, por abster-se, pelo não-voto, a tais compras ou relações sociais. Esta é uma forma tolerante e civilizada de influenciar comportamento, e representa um divisor de águas entre liberais e não-liberais”.
A crítica, por sua vez, envolve uma avaliação minuciosa e a conseqüente formação de um juízo; o patrulhamentoconsiste no ato ditatorial de fiscalizar as ações dos outros; a proibição é tornar impraticáveis, mediante legislação, determinadas ações e, por fim, a censura – que é indefensável sob qualquer ponto de vista - ocorre quando um funcionário do Estado tem o poder de julgar se determinadas ações devem ser permitidas ou não. A crítica e o boicote são características de qualquer sociedade aberta; o patrulhamento, especialmente o ideológico – que é uma atitude moralmente viciada, porque se escora no vício da intolerância – é, contudo, tolerável, no sentido de que não deve ser motivo de proibição.
A censura, obviamente, é característica dos regimes totalitários. É um termo que pressupõe alguma ação do Estado. Nenhuma ação privada pode ser denominada de censura! No âmbito privado, ninguém pode silenciar indivíduos ou suprimir uma peça ou publicação: somente o governo pode fazê-lo. E a liberdade de expressão individual inclui o direito de não concordar, não ouvir e não financiar os próprios antagonistas.
No caso Queermuseu o que ocorreu, cristalinamente, não foi nem censura, nem patrulhamento e nem proibição, mas uma crítica e o conseqüente boicote por parte dos que se sentiram ofendidos pela exposição das peças. Quem chama de censura ao boicote que aconteceu revela profundo desconhecimento das diferenças a que aludi linhas acima e, sobretudo, mostra o deplorável vício moral conhecido como “um peso, duas medidas”: se alguém mostrar que não concorda com o que defendem, é desqualificado por ser um “censor”; mas, quando são eles que promovem algum boicote, quem se manifestar contra é também desqualificado como “inimigo da liberdade”, “fascista”, “ultraconservador”, etc., etc., etc.
O caso da Alezzia, ocorrido em dezembro de 2016, é apenas um exemplo dessa última afirmativa. Essa empresa, que produz e vende móveis, foi alvo de ataques por parte da militância das ativistas feministas, por causa por de uma campanha de marketing que mostrava uma modelo usando um maiô, o que motivou diversas avaliações negativas na página da empresa.A empresa respondeu com uma campanha: se até o último dia do mês de janeiro de 2017 as avaliações negativas atingissem certa escala, uma das feministas ganharia um voucher no valor de 10 mil reais para gastar na loja virtual, mas, se a avaliação positiva da empresa ficasse acima dessa escala, a Alezzia doaria o mesmo valor a uma instituição beneficente. O resultado é que avaliação positiva passou a aumentar incessantemente. Os ataques das ativistas acabaram provocando efeito oposto ao pretendido: em apenas um dia, a página da empresa ganhou 10.230 novos seguidores, um aumento de 95% em relação ao número anterior. A ação das feministas, contudo, não pode ser criticada pelo simples fato de ter acontecido, porque foi um protesto legítimo, embora saibamos quais são seus reais motivos.
Outro exemplo da hipocrisia desse comportamento de duas medidas para o mesmo peso aconteceu em Pernambuco, quando sete cineastas retiraram seus filmes do festival Cine PE em protesto contra a exibição do documentário O Jardim das Aflições, sobre a obra de mesmo nome de Olavo de Carvalho e o filme Real – O Plano Por Trás da História, de Rodrigo Bittencourt. Após a direção do evento ter negado seu pedido de retirada desses dois filmes, esses cineastas de mão única simplesmente disseram que seu protesto era contra filmes de “direita”. Arthur Leite, diretor do curta Abissal, declarou abertamente que não imaginava “que a direção do festival fosse claramente dar espaço a filmes claramente alinhados a uma direita extremista”. Mais uma vez, um protesto legítimo, embora de uma estultice sem limites. Houve repercussão grande repercussão, mas "O jardim das aflições" foi consagrado o melhor filme da 21ª edição do festival Cine PE, saindo premiado tanto pelo júri quanto pelo público.
Os motivos que levam a esse comportamento patológico da esquerda são mais do que conhecidos e não vou me estender aqui sobre eles. Devem ser estudados no campo da filosofia política e – para não voltarmos em demasia no tempo – são derivados de Marx, de Nietzsche, que na segunda metade do século XIX baixou “medida provisória” decretando a “morte de Deus”, pela Escola de Frankfurt (Horckheimer, Habermas, Adorno, Marcuse e Fromm, entre outros), já no século XX e, naturalmente, de Gramsci. A mensagem de todos eles foi bem clara: para a implantação do comunismo é necessário: (a) abster-se de impô-lo pelas armas; (b) destruir os valores morais judaico-cristãos, que sempre foram o pilar da civilização ocidental e (b) promover a ocupação de todos os espaços nas áreas da linguagem, da educação e da cultura.
Esses quesitos vêm sendo implantados com paciência e competência inegáveis, há pelo menos cinco décadas, mas se intensificaram tanto que passaram a gerar reações por quem não aceita o socialismo-comunismo como formas de se organizar uma sociedade honrada e ordeira. Para citar um exemplo, ficamos com a nota dirigida ao presidente do Santander pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, um protesto bastante firme e digno de menção.
Mas nem só de comunistas vive o lado dos ativistas. Há alguns libertários, em geral bastante jovens e empolgados com a fascinante ideia de um mundo livre, mas que carecem de vivência e de estudos, que vêm reforçando esse time, o que é de se lamentar. A respeito deles eu diria como meu saudoso pai, que “escutaram o vento soprar, mas não sabem de onde vem o ruído”. Sim, sabem que Estado (coerção) e liberdade são antitéticos, mas não atinam que a liberdade não pode ser absoluta, que precisa ser subordinada a valores morais que devem gerar as leis no sentido hayekiano de normas de justa conduta. E, sem que ao menos se deem conta disso, estão contribuindo para fortalecer a agenda politicamente correta da esquerda, que tanto desejam – acertadamente – combater. A eles, só há um conselho: continuem defendendo a liberdade, mas, antes, procurem saber qual liberdade querem defender e estudem, mas estudem bastante.
O objetivo dos ativistas vigaristas é, mediante a destruição dos valores do judaísmo e do cristianismo, desmontar todos os princípios milenares da civilização ocidental, como regras de conduta moral, religião, família, liberdade, respeito aos semelhantes, substituindo-os pela introdução de supostos conflitos entre sexos, cor da pele, heterossexualidade e homossexualidade e outros, que nada mais são do que toda a agenda nefanda da ditadura politicamente correta.
Quem escreve estas linhas é alguém que vem há muitos anos fazendo o possível e o impossível para defender os princípios, valores e instituições de uma sociedade virtuosa, a saber: os princípios da dignidade da pessoa humana, do bem comum, da solidariedade e da subsidiariedade, os valores da verdade, da liberdade e da justiça e as instituições do Estado de Direito, da economia de mercado e da representatividade do cidadão. Sem princípios morais sólidos, o homem deixa de ser humano: bestializa-se. Exemplos claríssimos dessa bestialização do homem são a referida mostra Queermuseu, a peça O Evangelho Segundo Jesus Rainha do Céu, promovida pelo Sesc em Jundiaí (onde um juiz a proibiu) e São José do Rio Preto, em que Jesus é retratado como uma transexual e muitos outros.
Chegou, enfim, o tempo de reagir contra o verdadeiro bombardeio ao qual estamos sendo permanentemente submetidos pelos ativistas de esquerda. Pode-se sentir que isso já está acontecendo e de modo crescente. As perspectivas são boas. Pede-se, contudo, aos leftlibs que, se não quiserem ajudar, que ao menos não atrapalhem...
Finalizo repetindo que nesses casos do Queermuseu e da peça do Ses, estamos tratando de crimes, como ridicularizar a fé alheia, expor crianças à pornografia, incentivar zoofilia, pedofilia, homossexualismo infantil, tortura e racismo. E crimes não são praticados para serem discutidos ou para gerar “reflexões”, mas para serem punidos!
* Publicado originalmente em www.ubirataniorio.org