• Luís Olímpio Ferraz Melo
  • 22/06/2016
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A “PRISÃO” DE SÉRGIO MACHADO


(Publicado originalmente em Diário do Poder)


A “delação premiada” do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, parece muito com o acordo feito no governo da Colômbia com o megatraficante colombiano Pablo Escobar (1949-1993) para que ele cumprisse as condenações criminais por tráfico de drogas. Escobar era naquela época um dos homens mais ricos do mundo, tinha grande poder político no seu país e, como imposição para se entregar e cumprir a pena, construiu o seu próprio presídio onde levava uma vida nababesca com todas as regalias possíveis e imaginárias, talvez até melhor do que se estivesse solto, pois lá a segurança era reforçada.

Machado conseguiu com o Ministério Público Federal brasileiro negociar a sua “prisão domiciliar”, pois se estima que a sua condenação será de 20 anos de reclusão, mas com a “delação premiada” tornar-se-á uma pena alternativa em que terá que usar tornozeleira eletrônica e logo estará livre novamente. Machado mora em Fortaleza, no bairro mais nobre da cidade, numa luxuosa mansão com piscina, sauna, quadra poliesportiva, etc. e poderá ainda conviver com 27 pessoas, incluindo um padre para tentar orientá-lo a não mais surripiar o dinheiro público. A mansão de Machado é o sonho de prisão de todo criminoso, pois não deve ser difícil e nem deprimente cumprir essa “prisão domiciliar”, lá podendo, inclusive, tomar bons vinhos da sua sofisticada adega...

O que chamou a atenção na “delação premiada” do nababo Machado foi que ele devolverá espontaneamente R$ 75 milhões referentes à sua parte nas propinas por ele arrecadada enquanto à frente da Transpetro — nem imagino quanto os outros receberam. Se Machado era apenas o “caixa” — alguns o chamam de “laranja” — dos caciques políticos de Brasília e tinha todo esse valor embolsado como sendo “seu”, é tentador imaginar que a corrupção no Brasil é bem maior do que se imagina, seja lá o que se imagina...

* Advogado e psicanalista