• Roberto Rachewsky
  • 10/03/2015
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A REVOLUÇÃO BRASILEIRA

 

Há décadas ouvimos sempre a mesma sentença, o Brasil é o país do futuro. Temos honrado fielmente esse título, outorgado por Stefan Zweig, escritor austríaco que optou por adotar nosso país como sua residência até acabar com a própria vida, desanimado com o futuro da humanidade.

Ser o país do futuro pode ter dupla interpretação.

Pode ser como o nosso, sempre correndo atrás de um pretenso desenvolvimento, sem nunca alcançá-lo efetivamente ou sempre chegando depois de quase todos os demais.

Imaginamos que a vontade e a marcha do tempo serão suficientes para nos colocar no primeiro time de nações. Porém acabamos, pela nossa própria inépcia, mantendo o futuro, entendido como o desenvolvimento pleno e desejável, sempre à frente e distante.

Temos sido governados por personagens que, com sua retórica populista e demagógica, nos tratam como se fôssemos mulas, aquelas nas quais se amarra uma cenoura à frente para estimulá-las a seguir adiante, irracional e resignadamente, perseguindo uma isca, um objetivo, que jamais alcançarão.

Ser o país do futuro pode significar também, por outro lado, ser uma nação de vanguarda, inovadora nas ciências e na tecnologia. Criativa e crítica na cultura e na educação. Libertária e resolvida nas relações sociais e políticas. Interdependente e cooperativa nas relações internacionais. Desenvolvida e empreendedora nas atividades econômicas e empresariais.

Essas características descrevem um país de futuro pródigo e desejável, fundado em princípios que privilegiam a todos por promover o indivíduo como um fim em si mesmo.

Uma sociedade do futuro pode ser uma referência, um marco de avanços sociais e econômicos consistentes que transformam conhecimentos e demandas diferentes em riqueza, distribuída justamente, de acordo com o que cada um contribui e em conformidade com a capacidade que cada um tem de bancar.

A divisão do trabalho, base para o aprimoramento empresarial e laboral, e a cooperação voluntária, essencial para a satisfação mútua, submetidas a uma ordem livre e espontânea que chamamos de mercado, levarão a sociedade à riqueza, fazendo com que o futuro nos encontre antes do que imaginamos e mais preparados para aproveitá-lo.

Não é por outra razão que vemos países chegarem ao futuro antes do que nós, senão porque seus mercados são mais livres e suas instituições protegem com mais veemência e estabilidade os que neles interagem livre e espontaneamente.

O grande problema do Brasil é que ainda não fizemos nossa revolução capitalista. O capitalismo, sistema que preza a liberdade, a cooperação, a competitividade, a propriedade privada, é a porta para um futuro melhor a qual jamais ousamos abrir.

O Brasil nunca adotou o capitalismo como sistema de organização econômica e social, por aqui jamais passou o liberalismo, seja na sua versão clássica ou, como chamam os estatistas, neo.

Não faz parte da doutrina libertária defender um Estado que existe para restringir o empreendedorismo, a contratação particular entre indivíduos, o uso da propriedade privada em suas diversas formas; nem para estabelecer proteções, cotas, subsídios, incentivos para uns, privilegiados, em detrimento de outros, oprimidos.

O verdadeiro capitalismo requer a separação absoluta entre o Estado e a economia, do mesmo jeito, que o laicismo requer a separação entre o Estado e a igreja. O liberalismo permite que o indivíduo seja autônomo e que qualquer associação seja decorrente de sua livre e legítima vontade.

Num sistema capitalista, é vedado ao Estado, como é a qualquer indivíduo isoladamente, utilizar o poder de coerção para, em detrimento de alguns, beneficiar a si ou a outros.

Vivemos sob a égide de uma economia regida pelo Estado, sempre autocrático, por demais castrador, e invariavelmente perdulário.

Sofremos com instituições que desprezam os direitos individuais e que, portanto, não garantem nem o interesse público nem o interesse privado legitimamente, sendo de forma contumaz, pervertidas para benefício escuso de pequenos grupos de interesse que se alternam cíclica e constantemente.

É como se estivéssemos amarrados a um pêndulo ideológico que oscila de um lado para o outro, ora tocando o fascismo, ora o socialismo. Por aqui, as revoluções que se sucedem tem conseguido instituir apenas o statu quo. Nossos revolucionários acabam completando giros de 360 graus e terminam seguindo no mesmo sentido e direção para onde rumavam aqueles que lhes antecederam.

Porém, não custa lembrar, a porta do futuro sempre esteve ali, a nossa frente, fechada, esperando para nos surpreender, de acordo com a chave que usarmos para abri-la. A chave que abre a porta para um futuro melhor está ao nosso alcance, basta reconhecê-la.

Nada mais do que a liberdade, o direito de propriedade e o direito à vida é necessário para abrir a porta que nos conduzirá à busca da felicidade, força-motriz que pretende e permite um futuro melhor.