• Carlos I.S. Azambuja
  • 29/01/2015
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A INTELIGÊNCIA ISRAELENSE - ( II )

A primeira excursão de retaliação, no exterior, contra o terrorismo, foi realizada em 28 de dezembro de 1968, após o atentado no aeroporto de Atenas, dois dias antes. Comandos Sayeret – força especial subordinada ao chefe do Estado-Maior do Ministério da Defesa – foram enviados a Beirute, de onde haviam partido os terroristas. No Aeroporto Internacional de Beirute, um grupo, chegado de helicóptero, à noite, explodiu 13 aviões vazios da Middle East Arlines do Líbano e outras empresas árabes. O Ministro da Defesa de Israel era, então, o general Moshe Dayan.

Em 1969-1970, durante a chamada Guerra de Atrito, em que disparos aleatórios de artilharia mataram milhares de egípcios e israelenses, comandos Sayeret voltaram a realizar um golpe espetacular, explodindo um complexo de radar de fabricação soviética no lado egípcio do Golfo de Suez. Na noite de 26 de dezembro de 1969, os Sayeret, utilizando dois helicópteros, retiraram do Egito e transportaram para Israel uma estação completa de radar, com suas antenas giratórias e painéis de controle, pesando cerca de 7 toneladas.

A luta contra o terrorismo intensificou-se em 1972. Em 8 de maio desse ano, quatro palestinos seqüestraram o avião da SABENA que realizava o vôo 571 de Bruxelas para Tel-Aviv, quando do pouso previsto no aeroporto de Lod, em Israel. Mantendo 100 passageiros e tripulantes como reféns, exigiram a liberdade de 317 guerrilheiros palestinos presos em Israel. Às 04:22 horas do dia seguinte, 9 de maio, um comando Sayeret, disfarçado com os macacões do pessoal de manutenção, invadiu o Boeing e matou dois dos quatro terroristas, prendendo os outros dois. Um passageiro israelense morreu e 97 reféns foram libertados.

Muitas nações, depois, criaram suas próprias unidades de comando baseadas no modelo israelense. Alemanha Ocidental, Inglaterra e outros países enviaram agentes de segurança e comandos militares a Israel, onde receberam treinamento ministrado pelo Sayeret. Posteriormente, a Alemanha Ocidental criou uma força semelhante, denominada GSG-9.

O círculo vicioso da violência atingiu o auge nos Jogos Olímpicos de Munique, em 5 de setembro de 1972, quando sete terroristas árabes capturaram onze atletas israelenses na Vila Olímpica. Os terroristas disseram-se membros do Setembro Negro, uma ramificação da OLP, e passaram a exigir a libertação de 250 terroristas palestinos presos em Israel. O governo israelense manteve-se firme em sua política de nunca negociar com terroristas.

O governo alemão-ocidental não permitiu que Israel enviasse um comando Sayeret para cuidar do caso, que ficou entregue às autoridades locais, e Zvi Zamir, diretor do MOSSAD, que se deslocara para Munique, assistiu, da torre de controle do aeroporto militar da cidade, os reféns israelenses sendo mortos, já sentados e algemados nos helicópteros, na pista, em represália a um desastrado ataque de atiradores alemães mal equipados e mal adestrados.

Golda Meir, então na direção do Estado de Israel determinou pessoalmente que “aqueles que haviam matado deveriam ser mortos, onde quer que estivessem” (“vamos matar os que mataram”, disse ela), assumindo a decisão histórica, mas ultra-secreta, de assassinar todos os terroristas do Setembro Negro envolvidos, direta ou indiretamente, no planejamento, preparo e execução do massacre dos atletas olímpicos. A missão não previa a captura de ninguém. Tratava-se, pura e simplesmente, de levar o terror aos terroristas. Decisão muito semelhante, independente de ordens de quem quer que seja, foi adotada nos anos 70 por aquele grupo de militares e civis que, no Brasil, nas cidades e nos campos combateu o terrorismo, os seqüestros, os assassinatos seletivos, os assaltos e os justiçamentos.
Mike Harari, um dos veteranos agentes do Departamento de Operações do MOSSAD foi incumbido da tarefa de matar os que mataram.

O primeiro a morrer foi Adel Wael Zwaiter, em Roma, em outubro de 1972, apenas um mês após o Massacre de Munique. Nos 10 meses seguintes a equipe de Mike Harari matou 12 palestinos do Setembro Negro, em Paris, Roma e Nicócia, no Chipre. Além disso, dois comandantes do Setembro Negro – Muhammad Najjar e Kamal Adwan -, bem como o porta-voz da OLP, Kamal Nasser, foram mortos em suas casas, no centro de Beirute, em 10 de março de 1973, por um comando Sayeret, em uma operação organizada conjuntamente pelo AMAN e MOSSAD.

Em julho de 1973, no entanto, a equipe de Mike Harari cometeu um terrível erro, que pôs fim à operação. Em Lillehammer, pequena cidade da Noruega, foi morto um garçon marroquino, na noite de 21 de julho, confundido com Ali Hassan Salameh, oficial de operações do Setembro Negro na Europa e comandante da Força 17, uma unidade da OLP responsável pela segurança de Yasser Arafat. Seis agentes do MOSSAD foram presos pela polícia norueguesa e encontradas provas que ligavam o grupo aos assassinatos sem solução de palestinos em diversos países. Somente Mike Harari conseguiu escapar da Noruega.

Cerca de cinco anos depois, em 22 de janeiro de 1979, outra equipe israelense estacionou um carro cheio de explosivos à beira de uma estrada, em Beirute, e o detonaram, por controle remoto, no exato momento em que outro carro passava pelo local. O terrorista Ali Hassan Salameh e seu carro foram pulverizados.
Sabe-se que a CIA não ficou satisfeita com essa operação, pois Ali Hassam Salameh era a ligação secreta entre a OLP e a CIA. Esse fato comprova que os Serviços de Inteligência, assim como as nações, não têm amigos. Apenas interesses frios e objetivos.

O aspecto espantoso da história do LAKAM (Departamento de Ligação Científica) é que, apesar de todas as suas atividades de espionagem, as agências de Inteligência estrangeiras parece nunca terem tido conhecimento de sua existência. O LAKAM tornou-se parceiro da África do Sul em projetos clandestinos, inclusive a pesquisa nuclear e de mísseis.

A especialidade do LAKAM era adaptar – e não apenas copiar – as invenções de outros países. Assim, o míssil MD-660, fornecido pela França, gerou uma família de mísseis: primeiro, o Luz; depois, o Jericó.

Após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, o presidente Charles de Gaulle impôs a Israel um embargo de armamentos, recusando-se até mesmo a entregar munição, embarcações e aviões que Israel já havia pago. As cinco lanchas lançadoras de mísseis adquiridas pela pequena Marinha israelense antes do anúncio do embargo, ficaram retidas no porto de Cherbourg. O impasse diplomático para a entrega dessas embarcações foi resolvido quando o MOSSAD adotou a ação direta. Agentes secretos, que haviam verificado todos os pontos vulneráveis do estaleiro de Cherbourg, conduziram algumas dezenas de militares da Marinha israelense à França, em fins de 1969 e, na véspera do Natal, o grupo apossou-se das lanchas, levando-as para o porto de Haifa, em Israel, a uma distância de cinco mil quilômetros. A parte burocrática da operação, incluindo falsos contratos e outros documentos, foi resolvida por empresas do Panamá controladas pelo MOSSAD.

O LAKAM tinha o sentimento de tomar tudo o que precisava mas não conseguia obter através de negociações. O roubo, o suborno e outros esquemas ilegais sempre foram usados para obter tesouros valiosos que ninguém se dispunha a vender.

Uma dessas manobras ocorreu na Suíça, onde o Adido Militar de Israel, coronel Dov Sion – que por acaso era genro do general Moshe Dayan – recrutou um engenheiro suíço, Alfred Fravenknechet, que trabalhava em uma fábrica de motores para o avião francês Mirage.

Seis meses depois, Israel contava com um novo avião de guerra, o Nesher, que aproveitava um pouco da tecnologia do Mirage. A 29 de abril de 1975, Israel apresentou orgulhosamente o seu mais novo caça a jato, o Kfir, que tem extraordinária semelhança com o Mirage.

A reputação do LAKAM na comunidade de Inteligência israelense adquiriu proporções míticas na década de 70, e havia a convicção disseminada de que Israel alcançaria seu objetivo de entrar para o seleto clube nuclear através do reator de Dimona – montado em instalações ultra-secretas no deserto de Negev -, cedido pela França em 2 de outubro de 1957, através de um documento secreto assinado pelo Primeiro-Ministro Bourge-Maunnoury, 24 horas antes de ser substituído no cargo.

* Historiador

Dados bibliográficos: Noticiário da imprensa nacional e internacional e livro “Todo o Espião é um Príncipe”, Imago Editora, 1991, de Dan Ravin e Yossi Melman.