Juliano Roberto de Oliveira
A esquerda é, por natureza, incoerente. Seus discursos são sempre contraditórios.
Quem não se lembra desta turba nos períodos de pandemia? Falavam em nome da ciência quando, a um só tempo, demonstravam total desprezo (como ainda o fazem) pelos pilares de ciências como a economia e a biologia. Se, por um lado, acreditam que a taxa de juros não é um preço e pode ser manipulada para fins eleitoreiros, por outro, acreditam que uma criança não pode ter seu sexo definido pela biologia (ele seria fruto de uma decisão pessoal e de uma construção forjada pela militância politicamente correta).
A mais recente demonstração de incoerência, que ganhou destaque nos últimos dias com a proximidade da posse do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, tem relação com a reação da esquerda à possível sobretaxação aos produtos brasileiros como forma de impedir o famigerado Lawfare praticado pelo STF e Lula.
Em artigo publicado pelo Jornal Gazeta do Povo, no último dia 16/01, lê-se que o governo Trump cogita a aplicação de penalidades comerciais a países que fazem uso de seu aparato jurídico para instrumentalizar perseguição a opositores políticos de direita e este seria o caso do Brasil.
Parece que o futuro presidente da maior democracia do mundo não viu com bons olhos o fato de que o ministro supremo se recusou a devolver o passaporte do ex-presidente Bolsonaro. Para Trump, há uma clara perseguição política a Bolsonaro que, como ele mesmo, seria vítima de um processo persecutório, fruto de um ativismo judicial que tomou conta do Brasil nos últimos anos.
“A pior maneira de o governo Lula iniciar sua relação com a administração Trump é instrumentalizar o governo contra um adversário político”, diz o artigo ao citar as palavras de alguém muito próximo ao presidente eleito que teriam sido ditas ao famoso Wall Street Journal - WSJ.
Não demorou para que pululassem nas redes sociais condenações verbais a Trump e aos bolsonaristas que, supostamente, estariam em flagrante contradição ao apoiarem esta medida de Trump.
Não entro no mérito das consequências econômicas da medida para fazer minha análise. Como apreciador da boa ciência econômica sempre serei frontalmente contrário a qualquer medida protecionista. Mas esta não parece ser uma iniciativa de cunho protecionista, ressalte-se. Parece ser uma medida que visa a frear os ímpetos tirânicos da elite governante que inclui políticos e juízes ora encastelados no poder (muito embora juízes de Suprema Corte não devessem fazer parte de uma elite governante. Mas estamos no Brasil e, no Brasil, juízes que deveriam falar nos autos, adoram dar entrevistas e antecipar decisões à grande mídia, juízes que deveriam se limitar à Carta Magna, tornaram-se popstars ao promover um processo salvífico de resgate à democracia. Todo este disparate, que não é objeto deste texto, já é bem conhecido de quem tem um mínimo de coerência intelectual).
Voltemos à questão da sobretaxação. Esquerdistas, histéricos, passaram, de repente, a defender um comércio livre entre Brasil e EUA. Acusam o bolsonarismo de boicotar o Brasil porque “seu político de estimação não foi eleito e está inelegível” (como amam esta palavra).
Como disse, não apoio qualquer medida protecionista, uma vez que medidas protecionistas são, sempre, contraproducentes. Não obstante, não posso deixar de ressaltar que, ao mesmo tempo em que dizem que o bolsonarismo deseja boicotar o próprio país, essa turma “preocupada” com o bem-estar da nação não faz uma mínima nota à crescente desvalorização do real frente ao dólar, fruto da irresponsabilidade fiscal de Lula e Haddad, que gera consequências prolongadas e um desarranjo irreparável nos negócios privados. Não há uma única nota ao fato de que temos, hoje, sob o governo Lula, gastos crescentes, num ritmo muito superior às receitas, que desembocam na necessidade de elevar nossas taxas de juros. A elevação das taxas de juros, aliás, tem sido atacada recorrentemente por Lula, Gleisi e CIA (durante a gestão Campos Neto, Lula e seu séquito misturaram causa e consequência para, propositalmente, atacar o BC e sua independência. Não à toa o mercado reagiu mal à indicação de um economista, com alguma proximidade com o executivo, para a presidência do BC, fato que contribuiu para esfriar ainda mais os ânimos do mercado). Some-se a isso o fato de que quando as receitas arrefecem, o governo muda as metas fiscais, o que torna o Brasil um lugar muito perigoso para quaisquer investidores.
Não poderia deixar de citar, ainda, o fato de que o processo de recivilização do país, ao qual se referiu o atual presidente do STF, o ministro Barroso, também tem considerável parcela de culpa na anarquia jurídica que faz patinarem os negócios. Canetadas, censuras, prisões e penas desproporcionais, alívio aos apaniguados, viagens nababescas sob patrocínio de empresas com causas na Corte Suprema, nada disso passa pela avaliação da turma canhota, mas seu peso para desestabilização do país é inquestionável.
Não venham, portanto, dizer que Trump é a maior ameaça ao Brasil. Não é Trump, não é Bolsonaro e não são os bolsonaristas. Nossa ameaça tem nome. Está no poder há anos e não mostra uma única sombra de inclinação a uma política econômica e fiscal de responsabilidade. O desastre brasileiro chama-se Partido dos Trabalhadores, muito bem representado por Lula e seus asseclas.
* O autor, Juliano Roberto de Oliveira, é Especialista Lean Manufacturing, Melhoria Contínua e Gestão de Custos, Professor de Economia e Finanças, Msc. Eng. de Produção