• Cesar Leite
  • 16/05/2024
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A força da água perde para a força da solidariedade

Cesar Leite

       Os dias no Rio Grande do Sul estão sendo marcados por eventos trágicos e inéditos para a nossa geração: as inundações de proporções épicas que assolam o estado. Além dos números que traduzem a magnitude do desastre – mais de 2 milhões de pessoas diretamente afetadas, 447 dos 497 municípios atingidos,  em torno de 600 mil pessoas desabrigadas e uma dolorosa perda de vidas, na maior abrangência territorial de uma tragédia que se tem notícia – a história dessa catástrofe está sendo escrita pela força da natureza e, principalmente, pela capacidade espetacular e comovente de união e solidariedade do povo gaúcho, brasileiro e, em muitos casos, mundial.

Rodeados de águas, estamos presenciando uma manifestação incrível de compaixão e vontade de resolver cada nova situação e necessidade que aparece. Pessoalmente, na condição de quem está envolvido na linha de frente de várias iniciativas de mitigação da tragédia, posso dizer que são milhares de demandas e contextos e que nada parece impossível para esta gente brava e aguerrida.

Jet skis, barcos, botes e caiaques se tornaram instrumentos de resgate de pessoas e animais, enquanto as doações garantiam o suporte básico para os  desabrigados Nos mobilizamos de forma inédita e ágil, formando um verdadeiro mutirão de doações e ações voluntárias. Roupas, alimentos, água potável, itens de higiene, colchões, medicamentos, equipamentos de salvamento e toda sorte de itens para amenizar o sofrimento das vítimas.

A resposta imediata e contundente demonstra a pujança do espírito do nosso povo que recusa a se curvar diante das adversidades. A mobilização popular em conjunto com os vários instrumentos públicos de suporte e o braço amigo dos demais estados do nosso Brasil, estão sendo impulsionados por um sentimento genuíno de empatia e conexão a quem está precisando, transcendendo as diferenças e unindo a todos em um propósito comum: reconstruir e seguir em frente.

Diante disso, é fundamental manter a chama da solidariedade acesa e traduzi-la em ações efetivas e inteligentes. A superação dessa tragédia exige liderança, capacidade técnica (inclusive de quem já venceu este tipo de situação),  gestão transparente e eficiente dos recursos, união dos poderes e agilidade na ação, além da participação plural e ativa de toda a sociedade civil.

O caminho para a reconstrução será longo, custoso e árduo. A magnitude dos danos exige um esforço colossal, tanto em termos de recursos quanto de planejamento e capacidade de técnica de execução. Existem vários cálculos sendo feitos que estimam, neste momento,  que vamos precisar de R$30 bilhões para reparos emergenciais, outros R$20 bilhões para obras mais robustas e adicionais R$ 50 bilhões para uma reconstrução completa e resiliente, totalizando pelo menos R$ 100 bilhões por uma perspectiva preliminar do que precisaremos reconstruir e construir juntos.

É hora de unirmos forças, conhecimentos e expertise para reprincipiar o Rio Grande do Sul, não apenas repondo tijolos e estruturas, mas também fortalecendo a economia, a infraestrutura e os mecanismos de prevenção para evitar que eventos semelhantes se repitam, como muito foco no humano. Por outro lado, a tragédia que nos atinge também pode apresentar oportunidades de desenvolvermos um futuro inovador, diversificado, abrangente, seguro e próspero para o nosso amado estado.

As enchentes de 2024 são um marco trágico em nossa história, mas também podem ser pensadas como um testemunho eloquente da força do nosso povo. Quando a força da solidariedade vence a força da água, abrem-se espaços para desenvolver e construir juntos uma nova e vencedora realidade.

*      Enviado pelo autor. Publicado originalmente em https://dynamicmindset.com.br/