(Publicado originalmente na Folha de Londrina)
"O especialista é um conspirador contra os leigos", dizia George Bernard Shaw. Se vivesse hoje em dia, o escritor irlandês talvez fosse mais longe: "O especialista é um conspirador contra a realidade". De fato, a teimosia dos especialistas atuais em negar o bom senso, a sabedoria perene e a evidência cotidiana é coisa de deixar o próprio Shaw sem palavras.
Há dois tipos de especialistas: o autêntico e o ideológico. O primeiro ajuda os cidadãos comuns que não dispõem de conhecimento em alguma área. Trata-se da pessoa certa na hora certa: o chaveiro quando você perde a chave; o dentista quando você está com dor de dente; o pediatra quando seu filho adoece; o contador na hora de pagar impostos; o bombeiro quando há fogo; o salva-vidas quando alguém está afogando; o tradutor quando você não entende um idioma; o engenheiro quando você quer construir uma casa. Abençoados sejam os especialistas que fazem parte da solução.
Mas há aquele outro tipo de especialista: o ideológico, o politicamente correto, antigamente chamado fariseu ou sofista. O cara que adora "problematizar". Traz os problemas, nunca as soluções. Mesmo quando aponta saídas, estas acabam por se tornar mais complicadas que o problema original. Como dizia minha mãe: "Fica pior a emenda que o soneto".
Como, então, diferenciar os especialistas em solucionar e os especialistas em problematizar? Em primeiro lugar, desconfie do especialista que se apresenta como especialista. O verdadeiro conhecedor não precisa usar essa denominação. Beethoven não é especialista em sinfonia, Sócrates não é especialista em filosofia, Fernando Pessoa não é especialista em poesia. O título muitas vezes funciona como disfarce para o palpiteiro.
Outra forma de separar o joio do trigo é verificar se as palavras possuem algum vínculo com a realidade mais óbvia. Se um especialista teima em dizer que pichação é arte, e a maioria esmagadora das pessoas entende que é vandalismo, o problema está com o especialista, não com as pessoas. O prefeito de São Paulo, João Dória, recentemente desmascarou palpiteiros midiáticos com uma simples frase: "Eu fui eleito pelo povo, não por especialistas".
O problema é que as universidades brasileiras, especialmente nos cursos de humanas, têm produzido especialistas cuja principal diferença em relação aos leigos é ter lido meia-dúzia de ideólogos esquerdistas. O resultado aí está: passam a ditar regra na mídia os doutores em pensamento mágico, os mestres em autoengano, os experts em mimimi e os PhDs em panfletagem travestida de ciência. Quando mais precisamos de um esclarecimento substantivo, mais eles oferecem clichês adjetivos. E com a mãozinha no queixo, em sinal de superioridade.
A realidade é coisa muito séria para ficar na mão dos especialistas que vendem sinceridade, mas entregam fingimento. Leigos do mundo, uni-vos!
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