A conhecida imagem do copo meio cheio, meio vazio pode ser a melhor representação de 2017. Dependendo do observador, foi o ano do recomeço. Ou do aprofundamento da crise.
Certo é que a tragédia brasileira não foi gestada por alienígenas. Resultou da soma de uma tremenda imperícia administrativa, um voluntarismo econômico irresponsável e um acirramento político que, de tempos em tempos, sacode o Brasil.
Do segundo trimestre de 2014 até o final de 2016 regredimos 8,2%. Por detrás do torvelinho que esmigalhou nosso PIB, a vida real produziu mais de 13 milhões de desempregados e quebradeira empresarial sem precedentes.
Inflação baixa, juros em queda, estatais em processo de saneamento animam. Dívida mobiliária ascendente e desequilíbrio fiscal rumo ao sufocamento orçamentário desalentam.
Ainda que oscilante, há uma chama de esperança para 2018 que pode ser avistada em tímidos, porém, importantes indicadores. O emprego começou a voltar, os investimentos passaram a ser desembrulhados como num prenúncio natalino.
Opção pelo atraso
Chegamos aonde chegamos porque nossos governantes, eleitos pelos brasileiros, escarneceram de lições econômicas consagradas. Lastreados em partidos carcomidos pela corrupção, perseveraram (perseveram) em desenterrar cânones desgastados.
Em vez de usar como molde países com desenvolvimento social consolidado, buscaram o padrão dos que fracassaram. Defenderam que toda a salvação vem do Estado forte, sufocaram o direito individual de acertar e errar, bloquearam a livre iniciativa.
Equilíbrio fiscal não existe como bibelô a enfeitar a mesa do ministro da Fazenda. Ele é o caminho seguro e retilíneo dos investimentos indispensáveis em saúde, educação e infraestrutura.
Dogmas políticos bagunçam a gestão pública. Economia em frangalhos acirra a luta política. Ambos se retroalimentam.
O retrocesso que vivemos tornou-se mais agudo diante da grandiosidade da corrosão partidária revelada pela Lava-Jato. A corrupção não era apenas mais uma característica do meio político como se presumia, mas a razão da existência de siglas concebidas para roubar.
O contraponto ao desânimo é a lei que, aos poucos, começa a ser aplicada para antes poderosos intocáveis. A corrupção revelou-se como uma infestação de ratazanas. Desta vez, porém, o raticida foi aplicado com inédita eficiência.
A escolha do futuro é nossa
Se nos propusermos a olhar a crise com equidistância veremos que a economia melhora lentamente. Ao mesmo tempo, constataremos que nosso recrudescente voo de galinha não alçará ares mais altos se reformas imprescindíveis, com a previdenciária e a tributária, não forem encaradas com um mínimo de desapego ideológico.
A política, cujo lado podre foi desnudado como nunca, pode degenerar numa nova leva de aproveitadores e ladrões. Pode, por outro lado, dar espaço a um modo novo de encarar a vida pública.
O copo não vai (e não deve) encher de vereda. Se quisermos alcançar o desenvolvimento sustentável, a igualdade de oportunidades e a fraternidade que uma nação precisa para avançar precisaremos ter a paciência e a persistência de ver gota a gota a água do copo chegar à borda.
Ao chegarmos a 2018, ano da maioridade do século 21, precisamos deixar o século 20 nos livros de história. Nossa principal resolução de Ano Novo deve ser apoiar as mudanças estruturais que alicerçarão nosso futuro, passo decisivo e imprescindível para conquistarmos uma economia saudável, caminho para o progresso e a prosperidade.
Escolher quem serão os timoneiros dos novos tempos é tarefa intransferível da cidadania. As escolhas que faremos em 2018 vão indicar a senda do retrocesso ou a do crescimento.
Mostrarão, enfim, se aprendemos com os erros do passado. Revelarão nossa opção entre a velha e a nova política, entre o velho e o novo Brasil. Como de outras vezes, a escolha será nossa.
* Foi CEO da Falconi, presidente do Banrisul e secretário de Planejamento do RS