VIVENDO DE ILUSÃO
Silvio Natal
A cerimônia de abertura dos jogos Rio-2016 foi espetacular e o mundo não poupou elogios ao evento, calando os que prognosticavam um fiasco. A nota destoante foi a esdrúxula vaia dedicada ao presidente interino Michel Temer, que, de forma minimalista, limitou-se, discretamente, a declarar abertos os Jogos Olímpicos. Fico a me perguntar: por que o azedume ? Será porque o interino (ainda) não acabou com a penúria de quase 12 milhões de desempregados ? Quem sabe será porque não reverteu – nestas poucas semanas de sua interinidade – os mais de 3 pontos percentuais negativos do PIB em 2016 ? Ou quem sabe porque não zerou o déficit monumental deixado pelo PT nas contas públicas ?
Ora, quem jogou nosso país na lama em que está - crise social, moral, ética, política e econômica - foi o desgoverno de Dilma Rousseff, a “presidenta” que incidiu em crime de responsabilidade fiscal e, por isso, está em vias de ser afastada (definitivamente) da presidência da República. Ir à abertura dos jogos com o espírito de vaiar justamente aquele que não tem responsabilidade alguma pelo atual estado de coisas por que passa o País é patético. Michel Temer, além de nada ter a ver com o peixe, tampouco é algum tipo de David Copperfield ou ‘Dynamo’ - famosos mágicos.
As pessoas, parece, não querem ter no comando do País alguém minimamente sério; estão, sim, à espera de algum ilusionista que lhes transporte, com uma varinha mágica, para o mundo do faz de conta. Esquecem-se que foi exatamente em razão desse tipo de alienação que chegamos ao fundo do poço onde estamos.
O QUE SIGNIFICA A VAIA A MICHEL TEMER?
Percival Puggina
06/08/2016
O grande Nelson Rodrigues afirmou certa vez que brasileiro vaia até minuto de silêncio. Nunca vi, mas não me surpreenderia. O estádio de futebol não é muito diferente de um coliseu romano. Quem ali se exibe expõe-se a que os dedos indicadores se virem para baixo. Em 2013 coube a Dilma coletar pesada, prolongada e reiterada soma aritmética de vaias e insultos na abertura da Copa das Confederações. Ao seu lado, Joseph Blatter exclamou incomodado: "Onde está a educação?". Na recente cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, a mais prolongada vaia coube a Carlos Nuzman, presidente do COB, no exato momento em que referiu de modo elogioso as gestões das três esferas de administração ali atuantes: município, Estado e União. Conseguiu reunir um pacote cheio de desagrados. Por fim, sobrou para Temer, quando, em meia dúzia de palavras, literalmente agarrou-se ao microfone para proclamar que os jogos estavam abertos.
Não havia como ser diferente. Temer só encantaria o público se fizesse um gol de bicicleta do meio do campo. Como chefe de Estado, nem pensar. E é sobre isso que eu creio ter algo a dizer quanto à vaia de ontem. Fatos assim, diante de um público internacional, produzem manifestações de surpresa. A conduta é tomada como falta de educação, de respeito. Não que tenhamos muito respeito e educação por aqui, mas esses casos merecem considerações mais amplas. O problema é bem mais grave do que bons ou maus modos.
Países cujas instituições são concebidas com maior racionalidade separam as funções de chefe de Estado das funções de chefe de governo e as delegam a pessoas diferentes. O chefe de governo representa a maioria do momento e conduz suas políticas. Como tal, agrada e desagrada, vai para a chuva e para sol. Leva vaia e aplauso. Tem maioria, assume. Perde a maioria, cai. É a figura mais notória na arena do Coliseu político, objeto dos veredictos da turba. Isso é assim, independente do nível cultural e de educação das pessoas. O chefe de Estado, ao contrário, exerce a representação formal da nação. Eram chefes de Estado, no exercício de função típica, os que vieram à cerimônia de ontem acompanhando suas delegações. São símbolos acima das divergências partidárias, são Poder Moderador, podem dissolver parlamentos e convocar novas eleições. Mundo afora, nos países onde essa função existe, o titular que assim se conduz é recebido com reverência e aplauso. Daí a visível surpresa dos estrangeiros em relação a essas vaias próprias do presidencialismo que compartilhamos com as repúblicas ibero-americanas, em suas instabilidades, frustrações e incapacidades de aprender mesmo quando os fatos nos esmurram a face.
Se o que expus parece uma minúcia, uma questão sutil, saiba que nela está quase toda a diferença entre estabilidade política e convulsão. Cento e vinte e seis anos de rupturas e instabilidades institucionais clamam por um basta a esse sistema! Aquela vaia a Michel Temer significa que este país tem um problema institucional.
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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
ATUALIZAÇÃO DO QUADRO DA ESQUERDA LATINO AMERICANA
Rodrigo da Silva, editor do Spotniks
Daniel Ortega, o ex-guerrilheiro socialista da Frente Sandinista de Libertação Nacional, acaba de dar um golpe no Parlamento da Nicarágua, concentrando todo poder para si. Há agora um único partido oficial no país e todos os deputados que foram eleitos em 2011 pelo principal partido de oposição, o Partido Liberal Independente (PLI), foram destituídos dos seus cargos. Daniel Ortega é amigo pessoal de Lula (foi na Nicarágua, no primeiro aniversário da revolução sandinista, que Lula conheceu Fidel) e denunciou há poucos meses um golpe no Brasil.
Nicolás Maduro, o líder socialista venezuelano, passou os últimos meses ameaçando dissolver o Congresso. Seu poder é absoluto. Maduro acaba de assinar um decreto que dermina que qualquer empregado pode ser obrigado a trabalhar em tarefas de agricultura como forma de combater a crise alimentícia no país. A Anistia International denunciou a medida, traçando paralelos inevitáveis com a escravidão. Nos últimos anos, diversos líderes de oposição do país são presos ou forçados ao exílio. Maduro foi eleito com apoio do PT e do PSOL. Há poucos meses, ele denunciou um golpe no Brasil.
Fidel Casto, o líder socialista cubano, completa amanhã dez anos longe do poder, após declarar sua renúncia por motivos de saúde. Fidel entregou à presidência do país ao seu irmão, Raul. Há 57 anos, Cuba é governada pela mesma família. Não há partidos de oposição no país. De acordo com a Human Rights Watch, o governo cubano reprime todas as formas de dissidência política. Segundo a Repórteres sem Fronteira, o país representa o pior caso de liberdade de imprensa em todo continente e está entre os doze piores no mundo (Cuba tem o segundo maior número de jornalistas presos no planeta; só perde para a China, que politicamente também é controlada por um partido comunista). Fidel apoiou a eleição de Lula e Dilma e há poucos meses também denunciou um golpe contra a democracia no Brasil.
Evo Morales, o líder socialista boliviano, viu em fevereiro a população de seu país rejeitar através de um referendo sua tentativa de concorrer pela terceira vez à presidência da Bolívia. É a sua grande derrota política até aqui. Na última eleição, em 2014, organizações sociais, indígenas e sindicais ameaçaram chicotear quem não votasse no Movimento para o Socialismo, o seu partido. Evo, aliás, ameaçou atacar o Brasil com as forças armadas caso Dilma fosse destituída do cargo. Ele diz que há um golpe por aqui.
Cristina Kirchner, a última presidente de esquerda da Argentina, viu seu partido perder as eleições presidenciais para a oposição e é agora suspeita de ter ligações com o assassinato do promotor Alberto Nisman. No dia 19 de janeiro de 2015, Nisman iria ao Congresso realizar uma denúncia contra Cristina. Um dia antes, no entanto, foi encontrado morto com um tiro na cabeça, em seu apartamento, em Buenos Aires. Cristina defende Lula e Dilma e diz que há um golpe no Brasil.
Michelle Bachelet, a líder do Partido Socialista do Chile, está envolvida numa onda de escândalos de corrupção que também alcança seu filho mais velho, Sebastian Davalos, e sua nora, Natalia Compagnon. Em maio, denúncias apontavam para o envolvimento do ministro do Interior, Rodrigo Peñailillo, em um esquema de doação ilegal a campanhas eleitorais. O esquema é bem parecido com o que ocorreu no Brasil. Bachelet amarga a maior rejeição da história de seu país: 72% dos chilenos a rejeitam. Em abril, ela disse que Dilma era uma "mulher honesta e responsável" e uma "ótima presidenta".
MORO SOLTOU A MULHER DE JOÃO SANTANA
Percival Puggina
Muita gente se aborreceu com a notícia. Afinal, a dupla trabalhou para o PT com o nosso dinheiro. Foi regiamente remunerada para impingir ao Brasil esse governo, e agora, mediante delação premiada se desenha para ambos um futuro longe das barras e cadeados da prisão que fizeram por merecer.
É o que muitos pensam e é o que tenho lido por aí. No entanto, delação premiada é assim mesmo. Quem tem a informação ou a prova que falta para acertar no andar de cima, é recompensado pela revelação que seu conhecimento proporciona.
A delação premiada não é como água morro abaixo. É como fogo, morro acima.
CPI DA FUNAI: QUADRILHA IDEOLÓGICA E CONSPIRAÇÃO
Percival Puggina
No dia 19 de julho, o presidente do STF, pessoalmente, talvez com pouca coisa para fazer, acatou liminar da Associação Brasileira de Antropologia para impedir a quebra de seus sigilos bancário e fiscal, que fora aprovada pela CPI da FUNAI e do INCRA. Outros organismos sobre os quais se acumularam seriíssimas evidências durante os trabalhos da CPI também ingressaram com mandados de segurança em vista do mesmo fim: querem evitar que a Comissão tenha acesso às suas contas.
Segundo o site "Sem medo da Verdade", o presidente da CPI, deputado Alceu Moreira, afirmou existirem "40 laudas de documentos que mostram a necessidade de quebra de sigilo porque há recurso público sendo destinado a essas ONGs sem nenhum tipo de averiguação e, que não chegam aos índios".
Segundo o parlamentar, "a Comissão irá buscar junto ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a prorrogação do prazo da investigação, que havia sido encurtado pelo então presidente da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA). "Parece que querem enrolar o processo para que no último dia da CPI, 17 de agosto, não se viabilize a divulgação desse grande escândalo nacional", adicionou o deputado.
O simples desejo de ocultar à CPI e ao conhecimento público informações sobre o uso que fazem dos recursos oficiais já deveria ser motivo para o STF negar atenção aos apelos dos investigados. Por que não franquear as informações? Há muito tempo se sabe que os organismos referidos atuam em favor de uma causa política e ideológica. E há muito tempo pesam sobre eles as graves suspeitas que levaram à abertura da CPI e ao achado dos indícios que levaram a CPI a determinar a quebra do sigilo e a busca de provas.
É importante que se entenda, igualmente, que uma CPI federal tem amparo legal para determinar a quebra, "individualizado o investigado e o objeto da investigação, mantido o sigilo em relação às pessoas estranhas à causa e limitada a utilização de dados obtidos somente para a investigação que lhe deu causa" (jusbrasilcom.br). Obviamente também em relação a esse ato parlamentar cabe recurso ao STF, conforme solicitado pelos atingidos.
O que não deveria caber era o provimento do recurso. Concedido por quem concedeu, fica tudo muito parecido com um esquema de proteção à quadrilha ideológica que aparelhou completamente o Estado brasileiro e, não satisfeita, produziu a constelação de ONGs que nele e dele se beneficiam enquanto operam pela causa comum.
CONTINÊNCIA DOS ATLETAS BRASILEIROS À BANDEIRA ENLOUQUECE A ESQUERDALHA
Percival Puggina
Penso ter sido nos Jogos Pan-Americanos de Toronto (2015) que, pela primeira vez, atletas brasileiros militares adotaram a reverente atitude de prestar continência à bandeira do Brasil quando erguida em solenidade de entrega de medalhas. À época, o respeitoso gesto suscitou uma celeuma que, agora, ressurge com a proximidade dos Jogos Olímpicos. Onde ressurge? Por parte de quem?
Será necessário responder? Quem tem calafrios de horror diante de manifestações patrióticas? Quem entra em dispneia ante as cores verde e amarela? Quem se tapa de vermelho nas manifestações de rua? Pois é.
Há poucos dias, o prefeito Fernando Haddad proibiu a FIESP de iluminar externamente seu prédio na Avenida Paulista com aquela linda imagem da bandeira nacional. Para petistas e demais esquerdistas moldados nas várias bigornas ideológicas é perfeitamente natural a apropriação partidária do Estado. Consideram absolutamente adequado que um professor use o salário que a sociedade lhe paga para trabalhar em sala de aula a favor do seu partido. Nenhum inconveniente percebem quando "enfeitam" um canteiro do Palácio da Alvorada com a bandeira do PT, ou quando usam as provas do ENEM para exigir de todos os estudantes brasileiros respostas que coincidam com seus conceitos e versões político- ideológicos. O partido sequer se constrange com a prisão, pela operação Lava Jato, de boa parte de seu comando e de três sucessivos tesoureiros, por haverem feito uso partidário e privado dos recursos nacionais. Mas ai de quem erguer o braço direito para emocionada continência ao símbolo de seu país numa solenidade de entrega de medalhas! Punho esquerdo cerrado e erguido certamente receberia aplausos. Mas todo repúdio à mão direita em reverente saudação à nossa bandeira.
Para o senador Lindbergh Faria, a continência seria um ato político. Quem confunde amor ao Brasil com política certamente faz política com desamor ao Brasil e obtém, como resultado, isso que seu partido apresentou ao país.