• 04/08/2016
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ATUALIZAÇÃO DO QUADRO DA ESQUERDA LATINO AMERICANA
Rodrigo da Silva, editor do Spotniks


Daniel Ortega, o ex-guerrilheiro socialista da Frente Sandinista de Libertação Nacional, acaba de dar um golpe no Parlamento da Nicarágua, concentrando todo poder para si. Há agora um único partido oficial no país e todos os deputados que foram eleitos em 2011 pelo principal partido de oposição, o Partido Liberal Independente (PLI), foram destituídos dos seus cargos. Daniel Ortega é amigo pessoal de Lula (foi na Nicarágua, no primeiro aniversário da revolução sandinista, que Lula conheceu Fidel) e denunciou há poucos meses um golpe no Brasil.

 

Nicolás Maduro, o líder socialista venezuelano, passou os últimos meses ameaçando dissolver o Congresso. Seu poder é absoluto. Maduro acaba de assinar um decreto que dermina que qualquer empregado pode ser obrigado a trabalhar em tarefas de agricultura como forma de combater a crise alimentícia no país. A Anistia International denunciou a medida, traçando paralelos inevitáveis com a escravidão. Nos últimos anos, diversos líderes de oposição do país são presos ou forçados ao exílio. Maduro foi eleito com apoio do PT e do PSOL. Há poucos meses, ele denunciou um golpe no Brasil.

 

Fidel Casto, o líder socialista cubano, completa amanhã dez anos longe do poder, após declarar sua renúncia por motivos de saúde. Fidel entregou à presidência do país ao seu irmão, Raul. Há 57 anos, Cuba é governada pela mesma família. Não há partidos de oposição no país. De acordo com a Human Rights Watch, o governo cubano reprime todas as formas de dissidência política. Segundo a Repórteres sem Fronteira, o país representa o pior caso de liberdade de imprensa em todo continente e está entre os doze piores no mundo (Cuba tem o segundo maior número de jornalistas presos no planeta; só perde para a China, que politicamente também é controlada por um partido comunista). Fidel apoiou a eleição de Lula e Dilma e há poucos meses também denunciou um golpe contra a democracia no Brasil.

 

Evo Morales, o líder socialista boliviano, viu em fevereiro a população de seu país rejeitar através de um referendo sua tentativa de concorrer pela terceira vez à presidência da Bolívia. É a sua grande derrota política até aqui. Na última eleição, em 2014, organizações sociais, indígenas e sindicais ameaçaram chicotear quem não votasse no Movimento para o Socialismo, o seu partido. Evo, aliás, ameaçou atacar o Brasil com as forças armadas caso Dilma fosse destituída do cargo. Ele diz que há um golpe por aqui.

 

Cristina Kirchner, a última presidente de esquerda da Argentina, viu seu partido perder as eleições presidenciais para a oposição e é agora suspeita de ter ligações com o assassinato do promotor Alberto Nisman. No dia 19 de janeiro de 2015, Nisman iria ao Congresso realizar uma denúncia contra Cristina. Um dia antes, no entanto, foi encontrado morto com um tiro na cabeça, em seu apartamento, em Buenos Aires. Cristina defende Lula e Dilma e diz que há um golpe no Brasil.

 

Michelle Bachelet, a líder do Partido Socialista do Chile, está envolvida numa onda de escândalos de corrupção que também alcança seu filho mais velho, Sebastian Davalos, e sua nora, Natalia Compagnon. Em maio, denúncias apontavam para o envolvimento do ministro do Interior, Rodrigo Peñailillo, em um esquema de doação ilegal a campanhas eleitorais. O esquema é bem parecido com o que ocorreu no Brasil. Bachelet amarga a maior rejeição da história de seu país: 72% dos chilenos a rejeitam. Em abril, ela disse que Dilma era uma "mulher honesta e responsável" e uma "ótima presidenta".