Percival Puggina

 

         Refiro-me ao misterioso caso de “um certo sítio em Atibaia”. Aliás, esse foi o título de artigo que escrevi em 16 de novembro de 2018. Nele, relato as peripécias de um desconhecido rapaz, de nome Fernando, que sonhava com ter um confortável sítio na Serra de Itapetinga para afetuosos encontros familiares. Um dinheirinho daqui, outro dali, juntou o suficiente para adquirir uma propriedade. Antiga e mal cuidada, demandava novos investimentos. Fernando, porém, tinha a têmpera dos vencedores. Para empreitada, ninguém melhor do que a maior empreiteira do Brasil.

Requisitado, Marcelo Odebrecht deslocou gente de suas hidrelétricas, portos e plataformas de petróleo, subiu a serra e assumiu a encrenca: casa, alojamento, garagem, adega, piscina, laguinho, campinho de futebol. Tudo por Fernando e para Fernando. A cozinha, porém, não correspondia, às expectativas do exigente rapaz. E veio para Atibaia a segunda maior empreiteira do Brasil. A poderosa OAS de Leo Pinheiro encarou a sofisticada engenharia de forno e fogão. E então, ooops! Telefonia ruim, sinal de internet fraco! A Oi, conhecida por sua dedicação aos clientes, acionada, correu para instalar uma torre na serra e atender à demanda do desconhecido cliente Fernando.

Quando tudo estava pronto, surge Lula, como retirante – com mulher, filhos, netinhos e se instala para ficar. Anos mais tarde, já no curso de um processo penal, a Polícia Federal foi inspecionar o estabelecimento e não encontrou um palito de fósforos que pudesse ser atribuído ao desafortunado e desalojado Fernando. Do pedalinho ao xarope para tosse, incluindo adega, santinha de devoção, estoque de DVD, fotos de família, era tudo de Lula.

O ex-presidente foi condenado pela juíza Gabriela Hardt a mais de 11 anos de prisão e o TRF-4 aumentou a pena. Nos três anos seguintes, o STF foi desencadeando uma sequência de mudanças de “convicção” que cortou a água da Lava Jato. Acabou com a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância, deixou de lado as anteriores rejeições a pedidos de habeas corpus em favor do réu, Curitiba deixou de ser o juízo natural para o caso de Lula, afirmou a suspeição de Sérgio Moro, declarou nulas as provas do processo e a juíza de Brasília, Pollyana Coelho Alves, por óbvia falta de provas (!), encerrou o caso.

Dava ou não dava para fazer uma série da Netflix contando estes fatos que transitam acriticamente nos grandes noticiários, para os quais é preciso que os críticos do STF nunca tenham razão?

 

  • 24 Agosto 2021

Percival Puggina

 

         Matéria na Gazeta do Povo deste sábado 21 de agosto informa que 24 sites e pessoas físicas tiveram pedidos de quebras de sigilo oriundas da CPI da Covid; outros 15, por determinação do TSE, sofreram a suspensão de recursos provenientes de monetização nas redes sociais; 14 são alvo de ações do STF. É a blitzkrieg contra a direita. O “cala-boca” está bem vivo e sendo imposto a muitos.

Isso não dá o que pensar? Da CPI não se poderia esperar algo melhor. Afinal, todos que merecem atenção da comissão são medidos pela régua da maioria dos seus membros: dinheiro, em tese, é mal havido. “Aí tem!...”.

Suponho que as iniciativas do TSE estejam, todas, relacionadas à questão das urnas eletrônicas. A seita dos adoradores de urnas sem impressora não admite dissidência nem discriminação. Como esse grave crime ainda não foi tipificado por lei federal, o órgão administrativo que organiza a eleição brasileira não impede os descrentes de descrer, mas suprime o direito de receberem o que lhes é devido como remuneração pelo ganho das plataformas graças ao trabalho deles. Em outras palavras, têm direito à própria opinião, mas sobrevivam por outros meios.

As ações do STF são o caso mais grave porque decorrem de uma leitura inusitada e oblíqua do Regimento Interno da Corte. Leitura tão oblíqua quanto necessário para colocar nas mãos de um de seus ministros poderes que nenhum outro magistrado teve antes na história do país.

Tudo feito a serviço de uma suposta democracia, usada para sufocar a liberdade, contando com o alvoroço comemorativo de nossa outrora respeitável “grande mídia”.  

  • 21 Agosto 2021

.Percival Puggina

 

         Leio na Revista Fórum (1)

O ministro Luis Felipe Salomão, corregedor-geral do Tribunal Superior Eleitoral, TSE, determinou nesta segunda-feira (16) a suspensão do financiamento por monetização de canais e perfis bolsonaristas que difundem fake news sobre o sistema eleitoral.  Salomão apontou que “de fato existe uma rede vasta, organizada e complexa para contaminar negativamente o debate político e estimular a polarização”.

 “A suspensão dos pagamentos das plataformas de redes sociais às pessoas e páginas indicadas (itens “a” e “b” do pedido), que comprovadamente vêm se dedicando a propagar desinformação, afigura-se razoável e efetiva porque, em tese, retira o principal instrumento utilizado para perpetuar as práticas sob investigação, qual seja, o estímulo financeiro”, afirmou.

“Não pode o Judiciário ser leniente quando a desestabilização da democracia e das instituições vem sendo recorrentemente feita, valendo-se de práticas ilícitas”, destacou. Por outro lado, o ministro aponta que não está impedindo a livre manifestação, mas apenas “retira a possibilidade momentânea de aferição de lucro por meio de desinformação”.

Comento

O TSE cria os próprios fantasmas! A partir dos próprios procedimentos. O que esperam seus ministros que os pagãos da nova religião nacional pensem e digam, condenados como estão a crer e a calar?

A leitura da determinação transcrita acima não disfarça a violência de atacar pequenos canais digitais, alguns dos quais correspondem a atividades de pessoas físicas, cujo trabalho se sustenta na pequena monetização obtida das plataformas de redes sociais. Revela um preconceito contra a atividade privada ao designar como “lucro” o mero rendimento do trabalho humano. Mostra um subjetivismo descomunal em considerar que os canais desmonetizados “estimulam a polarização”, como se não existissem polos naturais à atividade política! Ou é a divergência que não se aceita?

Os “fantasmas” do TSE (e do STF) são pequenos duendes de jardim diante dos poderosos grupos de comunicação do país, cujo conivente silêncio sobre tais atos é, por si só, uma imensa desinformação, sem a qual tais medidas teriam outra repercussão. Ou não? Como entender que não haja um único grande veículo para dizer que nossas cortes superiores veem arroubos autoritários em toda parte sem jamais olharem para si mesmas?

O Estado brasileiro está se tornando um estado confessional que exige fé cega em suas Cortes Superiores.

  1. - https://revistaforum.com.br/politica/tse-bloqueia-financiamento-canais-fake-news/
  • 17 Agosto 2021

 

 

Percival Puggina

 

Não é de hoje que se comentam as intromissões do senhor Yang Wanming e o uso que faz do twitter para emitir opiniões que, no caso dele, jamais podem ser consideradas apenas pessoais. A caminho para se tornar a nação mais poderosa do mundo, a China não esconde sua riqueza nem a atenção que dá a seus próprios interesses geopolíticos.

O embaixador chegou ao Brasil depois de passar dois anos no Chile e quatro na Argentina. E vejam no que deu. Aqui, já está escudado  pela esquerda brasileira, que vibra com as “tiradas” do embaixador na rede social. Seria excessivo afirmar que também esteja escudando nossas esquerdas, que não escondem seu entusiasmo por bandeiras vermelhas?

Na última sexta-feira, noticiada a prisão do deputado Roberto Jefferson, o embaixador foi ao twitter e escreveu: “Lindo dia para o Brasil” e uma sequência de aplausos. A prisão de adversários tem a cara do regime chinês.

De uns tempos para cá o embaixador chinês vem ficando parecido com aqueles malwares, não por acaso também chamados cavalos de troia, que se infiltram nos computadores e causam erros de funcionamento. Nossas instituições já os tem em demasia e por conta própria, dispensando acréscimos externos; mas são certamente  estes descuidos de manutenção que nos tornam mais vulneráveis às presumíveis intromissões do embaixador do poderoso Xi Jinping.

  • 15 Agosto 2021

 

Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico

 

SOCIEDADE ANÔNIMA DO FUTEBOL

Na última 6ª feira, 6, o presidente Jair Bolsonaro sancionou um projeto de lei que PERMITE a transformação de clubes de futebol em empresas, criando a figura da -Sociedade Anônima do Futebol- (SAF). Com a lei, os clubes de futebol que optarem por se transformar em empresas poderão se capitalizar através da emissão de títulos de dívida, como debêntures (debêntures-fut). Mais: terão um prazo de seis anos, prorrogáveis por mais quatro anos, para quitar suas dívidas. 

DESCONHECIMENTO GERAL DAS REGRAS DO FUTEBOL

Como se sabe, o futebol, na escala de importância para o povo brasileiro, figura em primeiríssimo lugar. Tudo que vem depois é considerado como resto e como tal tem importância irrelevante. Ainda assim, por incrível que possa parecer, uma coisa é FATO: o FUTEBOL é, muito provavelmente, o único ESPORTE que é PRATICADO, DIRIGIDO, ASSISTIDO, COMENTADO, NARRADO e, não raro, APITADO, por quem simplesmente DESCONHECE AS REGRAS DO JOGO. 

GOL ANULADO

Partindo desta premissa -VERDADEIRA-, tudo leva a crer que, da mesma maneira que as REGRAS DO FUTEBOL são desconhecidas, o mesmo vai acontecer com a LEI QUE PERMITE A TRANSFORMAÇÃO DOS CLUBES DE FUTEBOL EM EMPRESAS. Com isso, as interpretações sobre o que está na SAF serão tão ruins e equivocadas como acontece durante os jogos, quando narradores e comentaristas falam, e repetem, por exemplo, que houve -GOL ANULADO-.

POUCO IMPORTA ONDE A BOLA FOI PARAR

Ora, o que não existe em futebol é GOL ANULADO. O que realmente acontece é simples: se houve uma infração, o que menos importa é onde a bola foi parar, se dentro ou fora do gol. Assim, da mesma forma como não cabe dizer que o GOL FOI ANULADO, também não existe TIRO DE META ANULADO, ESCANTEIO ANULADO, LATERAL ANULADO, ou qualquer outra coisa que venha a ser ANULADA. Vejam que em caso de uso do VAR, os lances considerados duvidosos não anulam os eventuais gols, pois o que prevalece é o que aconteceu antes da bola entrar.

SAIR DO AMADORISMO

Feito este registro, sugiro que antes de se manifestar contra ou favor desta importante lei, o melhor, ou indispensável, é que tratem de ler, e estudar as vantagens que o texto oferece para o bem do futebol. É preciso que os clubes que atuam no futebol deixem de lado as ADMINISTRAÇÕES AMADORAS (sem fins lucrativos) e passem a encarar a atividade de forma PROFISSIONAL com regras idênticas que valem para as SOCIEDADES ANÔNIMAS EM GERAL.

 

  • 12 Agosto 2021

Percival Puggina

 

Leio no Estadão de hoje (03/08),

"Investigado em dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal, por acusação de interferência política na Polícia Federal e por suspeita de prevaricação diante de denúncias de corrupção na compra de vacinas, o presidente Jair Bolsonaro agora é alvo direto do Tribunal Superior Eleitoral, e não uma, mas duas vezes. Sem falar da CPI da Covid..."

Parei por aí com o saudável intuito de zelar pelo meu bem próprio estar físico, mental e espiritual.

Observe a estratégia usada pela pessoa que criou a matéria e veja como conteúdos dessa natureza se propagam entre os veículos em múltiplos círculos concêntricos que se interpenetram criando um ambiente social depressivo e nebuloso.

Não acho bom, mas não me oponho a que os grandes grupos de comunicação, ou seus jornalistas, divulguem o que bem entenderem, cuidem de seus próprios interesses, disseminem suas ideias e persigam seus propósitos políticos. Cabe ao público fazer o próprio cardápio informativo e analítico, com liberdade de escolha. A situação sai dos devidos eixos, porém, quando conteúdos divergentes passam, como está acontecendo entre nós, a ser tratados como criminosos e se tornam objeto de censura.

Observe que o trecho da matéria do Estadão transcrita acima relaciona meras acusações lançadas contra o presidente com o destampado intuito de "acusá-lo" de ser acusado!  

Já me disseram que na Coreia do Norte também é assim.

  • 03 Agosto 2021