Percival Puggina

02/01/2010
Sempre pensei que as sociedades econômica, social e culturalmente mais desenvolvidas fossem dotadas de uma capacidade de análise superior e, portanto, menos sujeitas à influência dos demagogos. Lula tornou evidente que isso não é assim. O reconhecimento que ele obtém na comunidade internacional mostra duas coisas: 1ª) a máquina publicitária da esquerda vem trabalhando em favor do companheiro Lula porque descobriu ser ele um ícone mais palatável do que seus dois competidores: o velho e fracassado Fidel Castro e o doido de pedra Hugo Chávez; 2ª) aquela sua retórica de botequim (pasmem!) é tão convincente nas margens do Sena quanto nas barrancas do São Francisco. Acabamos de assistir fato grave, que escapou à percepção da mídia nacional e internacional. Ou, se não escapou, foi sepultado sob a pá de cal do silêncio obsequioso ou adquirido. Em fevereiro de 2009, a brasileira Paula Oliveira, residente da Suíça, denunciou às autoridades daquele país ter sido agredida por skinheads, grupo de subcultura que, em certos locais, a Suíça é um deles, desenvolve tendências nazistas. Tão logo tomou conhecimento do relato da moça, nosso presidente subiu nas tamancas e declarou à imprensa que o governo não pode aceitar e não vai ficar calado diante de tamanha violência contra uma brasileira no exterior. E acrescentou ? conforme revista Veja, edição de 18 de fevereiro de 2009: a) que a embaixada brasileira fora acionada; b) que no Brasil nós vivemos em paz, recebemos estrangeiros desde que Cabral aqui colocou os pés e os tratamos bem; c) que nós queremos ?é que eles respeitem os brasileiros lá fora como nós os respeitamos aqui, como nós os tratamos bem aqui. Poucos dias depois dessa algaravia, ficamos sabendo que a moça se automutilara. Tudo fora uma farsa e Lula fechou a boca sobre o assunto. No último dia 16, aliás, saiu decisão suíça a respeito do caso, condenando Paula a pagar custas judiciais e periciais do processo e lhe impondo uma multa condicional (que será cobrada se ela incorrer em segundo crime). ?E daí?? perguntará o leitor. Pois é. E daí que antes de encerrar-se o ano, não uma moça, mas cerca de 80 brasileiros foram atacados no Suriname por um grupo de descendentes de quilombolas. Catorze saíram feridos, sendo dois em estado grave. Na confusão que se seguiu ao ataque, uma brasileira que estava grávida perdeu o bebê. Não me lembro, em muitas décadas, de incidente tão grave, envolvendo brasileiros no exterior. E o que fez nosso presidente ante o ocorrido com quase uma centena de conterrâneos nossos no país vizinho? Subiu nas tamancas? Botou a boca no trombone? Pediu respeito aos brasileiros? Falou sobre como nós os tratamos bem por aqui? Nada. Apenas telefonou ao secretário-geral da ONU para relatar o caso. Esses dois episódios somam-se a dezenas de outras evidências dos parcos critérios do governo Lula em questões internacionais. Sua diplomacia é conduzida mais ou menos como o partidão tocava a UNE nos anos 60. _______________________________________________________________________________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.

Percival Puggina

29/12/2009
BANDO DE IRRESPONSÁVEIS Governo projetava déficit nominal zero para 2010, mas rombo cresceu de R$ 36,4 bi para R$ 137,9 bi em 12 meses Foi para o arquivo a expectativa de a equipe econômica atingir o déficit nominal zero em 2010, último ano do segundo mandato do governo Lula. De outubro de 2008 para outubro passado, o déficit nominal cresceu 278%, de R$ 36,4 bilhões para R$ 137,9 bilhões. Em proporção do Produto Interno Bruto (PIB), o índice saltou de 1,27% para 4,61% do PIB no período. Em meados do ano passado, com a arrecadação batendo recordes e a crise global ainda restrita a um problema em bancos financiadores do setor imobiliário dos EUA, a equipe econômica anunciou, mais de uma vez, a intenção de levar as contas a atingir em 2010 o déficit nominal zero, isto é, com receitas suficientes para cobrir todas as despesas públicas, inclusive gastos com juros da dívida. Em novembro de 2008, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, chegou a dizer que a meta - ainda que informal - poderia até ser atingida antes de 2010.

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27/12/2009
O presidente Lula da Silva foi escolhido Homem do Ano pelo jornal francês Le Monde, depois que o governo brasileiro confirmou a compra de R$ 52 bilhões em equipamentos militares da França. Especificando: são 36 aviões caça Rafale da francesa Dassault a um custo de 4 bilhões de euros, que equivalem a R$ 12 bilhões. Além disso, Brasil e França firmaram acordo para fornecimento de quatro submarinos à Marinha brasileira. O valor dos submarinos é de 6,6 bilhões de euros, cerca de R$ 20 bilhões, e inclui três submarinos convencionais Scorpéne e um submarino nuclear. No pacote também foi incluída a compra de 50 helicópteros franceses, ao custo de 1,899 bilhão de euros, ou seja, R$ 6 bilhões. O serviço de manutenção do antigo porta-aviões Foch, agora Minas Gerais, a ser prestado pelos franceses, além da aquisição de mísseis anti-aéreos, Exocet e anti-carro devem somar outros 15 bilhões. O presidente Lula da Silva foi escolhido Homem do Ano pelo jornal francês Le Monde, depois que o governo brasileiro confirmou a compra de R$ 52 bilhões em equipamentos militares da França. Especificando: são 36 aviões caça Rafale da francesa Dassault a um custo de 4 bilhões de euros, que equivalem a R$ 12 bilhões. Além disso, Brasil e França firmaram acordo para fornecimento de quatro submarinos à Marinha brasileira. O valor dos submarinos é de 6,6 bilhões de euros, cerca de R$ 20 bilhões, e inclui três submarinos convencionais Scorpéne e um submarino nuclear. No pacote também foi incluída a compra de 50 helicópteros franceses, ao custo de 1,899 bilhão de euros, ou seja, R$ 6 bilhões. O serviço de manutenção do antigo porta-aviões Foch, agora Minas Gerais, a ser prestado pelos franceses, além da aquisição de mísseis anti-aéreos, Exocet e anti-carro devem somar outros 15 bilhões.

Percival Puggina

26/12/2009
FARC assassinou o governador colombiano seqüestrado O presidente Alvaro Uribe anunciou em um pronunciamento que o governador de Caquetá, Luis Francisco Cuéllar Carvajal, que havia sido seqüestrado, na noite de segunda-feira, foi encontrado morto: Lo degollaron, miserablemente lo asesinaron, disse bastante emocionado. *** Pergunto, eu: e o nosso governo, nada diz? Quando Uribe, nesse mesmo pronunciamento, insistiu na necessidade de ser reconhecido o caráter terrorista das FARC, estava implicitamente falando para Lula, para Marco Aurélio Garcia et caterva, companheiros desses bandidos. Eles nada dirão. Mas saltaram com agilidade felina quando a Colômbia bombardeou o reduto terrorista das FARC em território equatoriano e matou o companheiro Raúl Reyes, o segundo homem da narco-guerrilha.

Percival Puggina

25/12/2009
?Como é possível que Papai Noel não exista?? As dúvidas sobre o bom velhinho se instalaram em minha mente a partir de um fiapo de conversa ouvida certa ocasião em que meus pais e tios, lá na nossa Santana do Livramento, acertavam detalhes para o Natal que se aproximava. ?Se não existe estou mal arrumado?, fiquei pensando com meus suspensórios (no final dos anos 40 crianças usavam suspensórios...) ?porque esses aí é que não vão me dar todos os brinquedos encomendados?. Para uma criança, poucas coisas são tão reais e visíveis quanto o Papai Noel. Por isso, me pareceu fantástica a possibilidade sinalizada naquela conversa dos adultos. Preferi atribuí-la a alguma desinformação deles. ?Adulto acredita em cada coisa... É capaz até de acreditar que Papai Noel não existe?. E ponto final. Dezembro é um mês extraordinário. De janeiro a novembro as crianças pintam e bordam. No último mês do ano todas têm um comportamento exemplar. A mais leve insinuação de que Papai Noel vai ficar sabendo é capaz de converter um capetinha aos padrões de conduta dele exigidos. Aliás, se Papai Noel subsistisse no imaginário infantil por mais alguns anos, os índices de repetência nas séries iniciais do primeiro grau seriam bem inferiores. E se os adultos reconhecessem em Deus metade dos poderes e do senso de justiça que as crianças atribuem ao Papai Noel o mundo seria muito melhor. As crianças crêem no bom velhinho e quando lembradas de sua crença vivem como se ele de fato existisse. Com Deus é ao contrário. Ele existe, mas as pessoas, mesmo as que nele creem, tendem a viver como se não existisse. E, com isso, nos afastamos da fonte da felicidade e do bem. O Natal não é apenas uma bela história. Ele é, principalmente, um drama real, convivido nas duas cidades, a de Deus e a dos homens: Deus se faz homem para estabelecer uma ?nova e eterna Aliança? com a humanidade que ama. Pensando nisso, ocorreu-me fazer dois registros aos adultos que me leem neste tempo de Natal. De um lado, é preciso, sim, ser como as crianças para entrar no Reino dos Céus. Alguém duvida? De outro, é inevitável a perda das fantasias infantis. Mas se de fato valorizarmos o Natal, se percebermos que o Menino Jesus de Belém é o mesmo Cristo de Jerusalém, estaremos deixando o Reino do Faz de Conta para nos tornarmos construtores do Reino dos Céus. Cristo, aliás, anunciou que ele já está entre nós. Na real, só por isso faz sentido dizer ?Feliz Natal!?.

Percival Puggina

25/12/2009
É comum representar-se a virada da folhinha com o desenho de um bebê que chega para suceder o ancião que se retira. Sai o ano velho e entra o ano novo. O ano velho sai trôpego e fatigado; o novo ano chega enrolado em fraldas. O tempo é convenção e relatividade. Meia hora na cadeira do dentista dura muito mais do que meia hora numa roda de amigos. Para o vovô, um ano é muito menos do que para seu netinho. Lembro bem que, na minha infância, era de uma eternidade o tempo decorrido entre dois natais. E fazia sentido que fosse assim porque um ano é vinte por cento do tempo de vida experimentado por uma criança de 5 anos. Minha mãe, por outro lado, tão logo terminava um ano, começava a se preocupar com o natal vindouro ?porque, meu filho, logo, logo é Natal outra vez?. Um ano, para pessoa de mais idade é pequena fração de seu tempo de vida. A vida familiar e a vida social se fazem, entre outras coisas, do cotidiano encontro da maturidade com a juventude. Imagine-se um mundo onde só haja jovens; ou onde, pelo reverso, só existam anciãos. Imagine-se, por fim, a permanente perplexidade em que viveríamos se a virada da folhinha nos trouxesse, com efeito, um tempo novo, flamante, que nos enrolasse nas fraldas da incontinência urinária, com tudo para aprender. Felizmente não é assim, nem deve ser visto assim. E o importante, em cada recomeço, é ali chegarmos com a experiência que o passado legou. Aprender com a própria vida, aprender com a história e, principalmente, aprender com a eternidade. Quem aprende com a eternidade aprende para a eternidade. Aprende lições que o tempo não desgasta nem consome, lições que não são superadas, lições para a felicidade e para o bem. Por isso, a maior e melhor novidade do ano novo será sempre a Boa Nova, que infatigavelmente põe em marcha a História da Salvação, cumprindo o plano de amor do Pai. Bem sei o quanto é contraditório com a cultura contemporânea o que estou afirmando. E reconheço o quanto as pessoas se deixam cativar pela mensagem do materialismo, do individualismo e do hedonismo. Mas é preciso deixar claro que tal mensagem transforma o mundo num grande seio onde, a cada novo ano, se retoma a fase oral e se trocam as fraldas da imaturidade. _______________________________________________________________________________________________________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.

Percival Puggina

24/12/2009
TUDO CONTRA A FAMÍLIA A mídia moderninha, antifamília, anticasamento, antiteísta e antiigreja age de modo subreptício, sempre instilando o seu veneno. Até em matérias como a do nascimento do filho da Gisele Bünchen e Tom Brady. A notícia de ZH sobre o assunto informava o nascimento de Benjamim, ?fruto do relacionamento dela (Gisele) com o jogador de futebol americano Tom Brady?. Perceberam? Os dois casaram como deviam, na igreja, ?de papel passado?, mas para a redatora da ?importante matéria? o bebê não é filho de um casal e membro de uma família, mas ?fruto de um relacionamento?, meio assim como se tivesse sido feito nas macegas.

Percival Puggina

20/12/2009
Lembrei-me de Woody Allen. Num dado momento do filme Manhattan, a namorada que o abandona cobra-lhe um sinal de indignação. Mas Woody, em tom desanimado, se proclama incapaz disso. E conclui: ?Em compensação, desenvolvo tumores?. É para evitar tumores que escrevo este artigo. Trata-se de uma questão de saúde. Ou desabafo aqui ou vou para a quimioterapia. A coisa foi assim. No dia 3 de dezembro, ZH publicou matéria sobre o caso da vice-diretora que mandou um aluno repintar estragos feitos por ele em paredes da escola. O texto, que eu lia em voz alta para a família, informava que a professora, ao fim e ao cabo, tivera de pagar multa de meio salário mínimo. Nesse ponto, meu neto interrompeu-me com a exclamação que dá título a este artigo: ?Eu não acredito!?. E enfiou o nariz no jornal para confirmar o que escutara. Tinha razão ele. De ouvir contar, ninguém acreditaria. Era preciso botar o dedo na notícia que o jornal estampava como chaga aberta. A informação saiu no dia 3 e já no dia seguinte 347 leitores haviam expressado sua indignação no clicRBS. Penso que tais protestos da comunidade deveriam ser lidos, também, pelos que expuseram a professora à persecução penal. O povo entendeu perfeitamente o caso: a) a família, primeira e principal educadora, havia descumprido seu papel; b) a escola, segunda educadora, exercera, e bem, sua função; c) levar pequenas questões disciplinares de milhares de colégios para serem resolvidas nas promotorias de justiça ou nas delegacias de polícia, conduta que foi prescrita à moça e à escola, inverte as precedências (e tem uma lógica que me escapa); d) o Estatuto da Criança e do Adolescente não deveria ser usado para coibir a esse ponto o exercício da função educadora; e) agir, em pequenas infrações de estudantes, como foi recomendado ao caso (registrar BO e intimar alunos à delegacia para possíveis medidas socioeducativas!) é muito mais agressivo e menos educativo do que o procedimento adotado na escola. Depois de tudo que transborda deste caso, não nos surpreendamos com policiais que viram as costas a um adolescente infrator e com professores que fogem dos alunos para não apanhar. Afinal, vivemos no país onde as leis habitam as estrelas e a realidade ocupa o fundo do poço da permissividade. Nesta terra dos processos lentos e sonolentos, onde o caso Mensalão rola desde 2005 (e mal começou a andar), a professora de Viamão, que educou, que defendeu o patrimônio público, que fez cumprir o regimento escolar, cuja conduta foi apreciada por todos, acabou posta de joelhos. Em dois meses (só em Cuba se julga e fuzila em menos tempo) teve de enfrentar a Justiça. E desistiu de obtê-la! Não foi dito, mas todos entenderam o recado: ?Que isso não se repita, professores!?. Impuseram-lhe condenação pública, expedita e exemplar. ?Eu não acredito!?, exclamou meu neto, em uníssono com a população gaúcha. O Estado precisa retomar o apreço e o respeito pelas naturais autonomias da sociedade. Se o Estatuto da Criança e do Adolescente pode ser interpretado como foi, pobre Estatuto! Se o Ministério Público cumpriu seu dever, triste dever! Aplicaram à professora multa ridícula. Fizeram de conta que não a condenavam. Mas a condenaram. Encerraram o processo e dormiram em paz. E a indisciplina ganhou um extraordinário suporte institucional. ZERO HORA, 20/12/2009

Percival Puggina

19/12/2009
Estamos sendo convocados à indignação. De novo? De novo. Indignemo-nos, pois! Fiquemos todos muito, mas muito irados! Sapateemos nossa revolta! Não funcionou? Pintemos o rosto, ponhamos um nariz de palhaço, toquemos sineta, sopremos apitos, façamos um buzinaço. Nada? Deitemo-nos no chão e tenhamos um chilique, que aí a coisa vai. Não foi? Mas que diabo, seu! Deve ter gente que ainda não se indignou tanto quanto deve. Temos que ficar todos assim tipo ?pedavida?, entenderam? Será, mesmo, que quando todos estivermos encolerizados, prá valer, o Brasil começará a tomar jeito? Perdoem-me por decepcioná-los. Isso não vai acontecer. As vidraças do poder são as mais prováveis e únicas vítimas das tais indignações coletivas, cuja face mais visível é a selvageria da massa. Essas coisas terminam em quebra-quebra e trem incendiado. Não me obriguem a escolher entre a selvageria da massa e as falcatruas do poder. Não estou reprovando um sentimento mais do que natural. Não é isso que estou fazendo. Aliás, comungo desse sentimento. O que estou indicando é a inutilidade de uma pauta que se esgota em excitar a cólera, em convocar à raiva, sem levantar os olhos para, um pouco além, identificar as causas dos fenômenos que nos contrariam e afrontam. Sentimentos assim são normais, mas raramente fazem algo que preste para a boa política. Aliás, observe que existem partidos que vivem do conflito. Qualquer conflito. Jogam, umas contra as outras, as classes sociais, as etnias, as sexualidades, as religiões, as instituições. Tudo serve, desde que possa acender o estopim das malquerenças. A boa política se faz no viés oposto. Ela não existe para gerar conflitos, mas para resolvê-los. Ela nasce do amor e do espírito de serviço; do reconhecimento da igual dignidade de todos; do respeito aos valores naturais, à verdade e ao bem. Quem estiver realmente interessado em dar um jeito no Brasil, precisa não apenas indignar-se com os crimes que contempla, mas identificar os fatores que os favorecem. Duas evidências avultam nessa análise: as principais causas dos problemas que vemos são de natureza institucional e a sua solução, em um Estado que queira ser democrático e de direito, é inequivocamente política. Portanto, desfazer da política é reforçar as causas da corrupção. Desacreditar dela é apostar na violência, no arbítrio e servir à mentalidade totalitária. A corrupção é um escândalo e a impunidade, outro. Mas só ficar brabo não muda coisa alguma! Pergunto: o que são os mensalões e os muitos mecanismos de compra de apoio parlamentar, o aparelhamento partidário das administrações, os comissionamentos nas obras públicas, se não consequências de um sistema de governo que precisa desses cargos para formar base de apoio e de um sistema eleitoral que impõe campanhas milionárias e estimula a representação dos grupos de interesse? É claro que instituições melhores e sistemas eleitorais mais racionais, mais modernos, tampouco são imunes à corrupção. Mas os modelos que adotamos a estimulam por todos os meios. Exigem-na como decorrência da sordidez de seus mecanismos! Nesse caso, a simples e cotidiana indignação fica, de fato, patética. ___________________________________________________________ * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.