Percival Puggina

22/10/2013
QUE IMPRENSA MEDÍOCRE! Percival Puggina Ontem, enquanto o petróleo do campo de Libra ia a leilão, a imprensa dividia sua atenção ao meio. Justiça seja feita! Metade do tempo para uns gatos pingados protestando na rua e metade do tempo para o fato que estava em curso. Certo. É muito mais fácil narrar que aqui tem uma barreira policial e lá adiante estão os manifestantes do que analisar o leilão, o pré-sal, as questões políticas, financeiras e econômicas envolvidas. Um negócio de centenas de bilhões de reais, tratado com a superficialidade de um pires. Por que as grandes empresas ficaram fora? Por que só houve um licitante e, mesmo esse, controlado pela Petrobrás? Ficou evidente que se a Petrobrás não encorpasse o consórcio, não haveria leilão. E qual o efeito político do fracasso dessa tentativa? Qual o tamanho do custo e do risco, para a Petrobrás, dessa aventura? O pré-sal contém um óleo de dificílima extração e os custos de obtenção ainda são uma incógnita. A Petrobrás, quebrada, ainda criou uma dívida para com a União da ordem de uns R$ 6 bilhões, que terão que ser emprestados pela União à Petrobrás. Nem fazendo um desenho dá para entender a lógica da operação. Mas nada disso parecia interessar a mídia televisiva nacional.

Percival Puggina

19/10/2013
Uma pulga passeava, irrequieta, atrás da minha orelha. Dilma Rousseff ponteia as pesquisas. Mantido o panorama atual, vencerá sem dificuldade a eleição do ano que vem. Datafolha credita-lhe, nos vários cenários, o apoio bastante firme de 40% do eleitorado. A tal pulga ia para lá e para cá, desassossegada: como pode? Foi um feito de Lula, a primeira eleição da presidente. Guerrilheira que um dia sonhara tomar o poder pelas armas, Dilma haveria de receber esse poder - quem diria? - como um regalo de amigo. Coisa tipo - Lembrei-me de você!. Em 2010, Lula tomou-a pela mão e saiu a apresentá-la aos brasileiros. Muito prazer, Dilma Rousseff, dizia ela. Mas pode chamá-la de mãe do PAC, completava ele, pimpão. Assim, de mão em mão, de grão em grão, as urnas foram enchendo o papo e Dilma subiu a rampa catapultada pelo voto de 55,7 milhões de brasileiros. Agora, quando seu governo sacoleja no trecho final, deve estar mandando lavar, passar e engomar a faixa presidencial para nova entronização. Contar com quarenta por cento dos 140 milhões de eleitores brasileiros significa que Dilma inicia a nova campanha com um estoque equivalente aos votos que obteve no segundo turno de 2010. Pois bem, o que eu me proponho trazer à apreciação dos leitores é a explicação para esse fenômeno. Fácil, como se verá. O SUS, sabe-se bem, caminha para a perfeição. Todos são atendidos a tempo e hora, em condições adequadas. Não há bom médico, no mundo, que não queira trabalhar aqui. A longa espera nas emergências tem se revelado um excelente meio de integração social e formação de novas camaradagens. Os finais de turno não deveriam ser brindados com champanha? A marcação de consultas especializadas e cirurgias segue cronograma rigoroso. Pontual e mortal. Doravante, insatisfeitos, procurem Raúl Castro! Aposentados do INSS providenciam passaportes e trotam mundo afora, efetivando aquele direito que Lula oposicionista apontava como coisa normal à velhice dos povos civilizados. A Educação, seja na base, cumprindo papel de promoção social e cultural, seja no topo, alinhando o Brasil com a elite tecnológica do planeta, opera prodígios na transformação da nossa realidade. A Economia? É lunática: contabilidade nova, inflação crescente, PIB minguante, carga tributária cheia... E a segurança pública enfim promove, como nunca antes neste país, digamos assim, o encontro dos criminosos com as grades e do povo com a paz social. Corrupção? Tudo intriga, maledicência, coisa de quem não tem o que falar. Repare como Dilma esbanja carisma. Não é uma sedutora? Que discursos! Palavra fácil, empolgante! Ao final de cada locução, os auditórios se erguem e aplaudem-na em pé, seja em Itapira, seja na ONU. Durante estes anos como presidenta, não confirmou ela, plenamente, o que Lula assegurava a seu respeito? Observem como o governo foi bem gerenciado. Vejam o rigor com que se cumprem os prazos e se enxugam os gastos. O Brasil tem programa e cronograma, estratégias, previsões e provisões. Você duvida? Não prometera a presidente, aqui na terrinha, em 2010, que sua Porto Alegre teria, enfim, linha de metrô e nova ponte no Guaíba? Pois para desgosto dos incrédulos, as obras estão aí, novamente prometidíssimas! Basta que o Estado e o município, nos anos por vir, casem os bilhões que faltam. Um sucesso, o governo Dilma. Agora, se os motivos não se acham bem visíveis acima, então só resta procurá-los dentro das bolsas. ZERO HORA, 20 de outubro de 2013

Percival Puggina

19/10/2013
A SUTIL SEMEADURA IDEOLÓGICA DA GLOBO NA TERRA DOS BOBOS Percival Puggina Merece ser estudada a forma como os autores de novelas da Rede Globo vão promovendo doutrinação ideológica e desintegração moral. Esta última é mais facilmente identificável, ainda que pouco estudada. Já a doutrinação ideológica se manifesta em fatos como os que pude observar ainda que em brevíssimas observações, em várias apresentações dispersas. Naquelas em que o roteiro prevê a existência de uma empresa, esta é o cenário para toda vilania, toda sorte de disputas imorais, fraudes, insidiosos jogos de poder, estabelecimentos onde quem comanda vive no ócio, no luxo e nos romances. Jamais a empresa é um lugar de trabalho sério e nunca o empresário é um trabalhador como costumam ser os bons empregadores. Arre, gente mal intencionada!

Percival Puggina

18/10/2013
O Brasil já vinha entregue aos bandidos com ou sem toucas ninja. A eles têm sido concedidas todas as garantias. A nós, sequer a de legítima defesa. Convivemos com a dura realidade de estarmos trancafiados, impedidos de usar com liberdade e segurança os espaços públicos, e despendendo valores crescente em apólices de seguro e segurança privada. Em contrapartida, assistimos os criminosos entrarem nas delegacias por uma porta e saírem pela outra. Manietados, algemados, estão os policiais, retidos por normas de conduta incompatíveis com os riscos inerentes à função que exercem. Para os bandidos, o colo macio dos direitos. Para os policiais as agruras dos deveres e restrições incompatíveis com os meios disponibilizados. O Brasil já estava entregue, também, aos bandidos de colarinho branco, para cujas lavanderias de dinheiro flui parte significativa dos impostos que pagamos com o fruto do nosso trabalho. Estes bandidos, ainda mais do que os outros, sabemos todos, estão acolhidos por garantias de livre atuação. Tais garantias são proporcionadas pela mansuetude, pela fleuma, pela pachorra em que foi amarrado o nosso sistema judiciário. E onde, não raro, o sistema se amarra um pouco mais, por conta própria. Certo, Celso de Mello? Tudo isso era coisa irremediavelmente sabida e conhecida. O que ainda não tínhamos era a convivência com o vandalismo de motivação política. Esse é um novo flagelo que ingressa no cotidiano nacional pela mesmíssima porta dos demais. Nos últimos meses, hordas de safados dão-se o direito de sair quebrando o que encontram pela frente, do condomínio de luxo à carrocinha de cachorro-quente, incendiando o que lhes dá na veneta, destruindo e invadindo patrimônio público e privado. São brutamontes incivilizados, a serviço de canalhas da política e de pervertidos do mundo intelectual. Agem, aqui no Rio Grande do Sul, diante de policiais impedidos de intervir, barrados no cumprimento de seu dever. Desde então, só os vândalos troteiam pela capital gaúcha! São os novos donos da rua, atacando objetivos políticos e ideológicos. Entre eles, o edifício onde mora o prefeito. E a Brigada Militar, inerte, sob determinação de não intervir. As perguntas que se impõem são estas: 1ª) a quem tais ações beneficiam? e 2ª) quem convive bem com a ideologia da violência? Na resposta que der, o leitor vai encontrar duas coisas: uma ideologia para rejeitar vigorosamente e um grupo de partidos políticos aos quais não deve, em circunstância alguma, conferir voto e poder. No Brasil de hoje, estamos sujeitos às leis do bem e às do mal. Obedecemos a Deus e ao diabo! A Deus pelas boas leis feitas para o bem. Ao diabo pelas leis más e pelas que o próprio mal estabelece. As leis más, entre outras coisas, protegem os bandidos de suas vítimas e da polícia. As leis do mal nos são impostas pela inevitável exposição à criminalidade em suas múltiplas e renovadas formas. _____________ * Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.

Percival Puggina

11/10/2013
Vinte e cinco anos se passaram desde a promulgação da Constituição Federal. Um nada, na linha da história. Um vapt-vupt, na existência de cada um. No entanto, o leitor talvez se surpreenda ao saber que, segundo a pirâmide etária brasileira de 2010, apenas 31% dos cidadãos brasileiros de hoje tinham 18 anos ou mais naquela data. Portanto, sessenta e nove por cento sabem do processo constituinte de 1988 apenas por ouvirem dizer. E em questões de política e história recentes, saber por ouvir dizer, beber de solitária fonte, é das piores maneiras de ser informado. Surpreendeu-me a afirmação de Lula sobre a participação de seu partido na Constituinte. Segundo ele, se tivesse sido aprovada a constituição que o PT queria, o país seria ingovernável, porque nós éramos duros na queda e muito exigentes. Com efeito, o PT da Constituinte detestou tanto o texto final que votou contra. Não satisfeito, anunciou que sequer iria assinar aquela coisa. Denegrindo a carta e seus autores, os petistas espalharam pelo país seu escândalo ante o conservadorismo do texto. Por um triz os deputados do partido não rasgaram as vestes na Praça dos Três Poderes. E só após muitos apelos de Ulysses Guimarães, consentiram em acrescentar seu precioso jamegão à Carta Magna. De nariz torcido, claro. Quem lê estas linhas em 2013 deve estranhar o fato de o PT haver sido derrotado pela maioria em 1988. Pois mais ainda o surpreenderá saber que para aquela importantíssima legislatura o partido de Lula conquistou apenas 16 das 487 cadeiras existentes à época na Câmara. E não elegeu um único senador. Os parlamentares do PT, PCB, PCdoB, PSB e PDT, somados aos esquerdistas do PMDB, compunham pequena minoria naquele plenário. Mas o reduzido grupo, liderado por José Genoíno e Roberto Freire, com apoio da CNBB, produzia um alarido de proporções nacionais em favor de teses comunistas na ordem econômica, socialistas na ordem social, populistas quase sempre. E demagógicas em tudo. Dá para reconhecer o estilo? Poucos, hoje, terão ouvido falar do Centrão, o grupo de congressistas que se organizou para que houvesse um mimimum minimorum de racionalidade no novo texto constitucional, opondo-se às teses da esquerda radical, muito minoritária, mas muito organizada. Este último grupo dispunha, em seu favor, de notável suporte da mídia militante, que execrava o Centrão e o servia à opinião pública como Salomé, na bandeja das coisas odiosas, articuladas com as mais nefastas e malignas intenções. Abro parêntesis: é bom que se diga, a bem da verdade, que o Centrão não foi sempre majoritário e que as cisões eram frequentes no bloco diante das pressões desencadeadas de fora para dentro do plenário e das comissões. Fecho parêntesis. Assim, em 1988, a sensatez perdeu inúmeras partidas e o Brasil ganhou uma Constituição grávida de direitos, infértil de deveres. Nos anos seguintes presenciaríamos inesquecível surto inflacionário e depois, uma escalada tributária que persiste ainda hoje entre as mais altas do mundo. A intenção deste artigo, quando se comemoram os 25 anos da Constituição, é sublinhar o reconhecimento de Lula aos pecados de seu grupo no processo constituinte de 1988. Ao declarar que as propostas petistas tornariam o país ingovernável, ele admite ter sido bom que não hajam vingado. Mas elas não vingaram graças a resistência dos bravos que decidiram pagar o preço da impopularidade para que a Carta, enfim aprovada, fosse o menor dos males possíveis. Na contramão, 14 anos mais tarde, com as mesmas teses comunistas (na economia), socialistas (no social), populistas (em quase tudo) e demagógicas (sempre), o PT se tornou o maior partido político do país. Com ele, muito distante de qualquer sinal de contrição, prosperou seu exército de falsos progressistas. São, entre outros, os fazedores de cabeça no meio escolar e universitário. E são os manipuladores da informação na mídia, das consciências em templos e da Justiça em tribunais. _____________ * Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.

Percival Puggina

05/10/2013
Um amigo interpelou-me: O que há com vocês, cristãos? Como conseguem ficar inertes perante o que acontece com outros cristãos, mundo afora?. Não sabia do que ele estava falando. Havia lido sobre o ataque suicida ocorrido há poucos dias, no Paquistão, contra católicos que saíam da missa dominical. Mas pouco além disso. Conhecia as perseguições movidas pelos comunistas. Lembrava-me de um professor cubano que me falou das animosidades a que estava exposto em virtude de haver declarado que Solo el Señor es mi señor. Perante minha indisfarçada ignorância, meu amigo, que é judeu, completou: Não, Puggina, o mesmo acontece em dezenas de países e, não raro, com indizível violência. Fui para casa constrangido e intrigado. Pus-me a pesquisar. Enquanto as informações iam aparecendo em reportagens, artigos, fotos e vídeos, descortinava uma realidade continuada, persistente, terrível. Em pleno século 21, se reproduzem, cotidianamente, discriminações, êxodos e massacres que fazem lembrar os martirizados na Roma dos primeiros séculos do cristianismo. Nero, Diocleciano e Geta têm, hoje, nomes pouco conhecidos. São líderes de grupos extremistas e governos totalitários ou fundamentalistas. E atacam com a ferocidade dos leões do Colosseum romano. Leigos e religiosos, de todas as idades, católicos, protestantes e evangélicos são perseguidos, discriminados, segregados, executados e massacrados aos milhares, sem que a mídia ocidental dedique aos fatos maior atenção. E sem que os poderes políticos da comunidade internacional sequer tentem remediar. Em texto recente, Reinaldo Azevedo registrou a denúncia do sociólogo Maximo Introvigne, coordenador do Observatório de Liberdade Religiosa, segundo quem, no ano de 2012, pelo menos 105 mil pessoas foram assassinadas no mundo todo pelo simples motivo de serem cristãs. É possível que o leitor destas linhas esteja pensando - Que exagero! Não há de ser tanto assim. Por isso, convido-o a buscar no Google por cristãos massacrados ou perseguidos. Em poucos minutos mudará de opinião. Visite o site da Fundação AIS, ou o da Portas Abertas e conheça os países em que os cristãos são mais intensamente perseguidos. Para cada um, encontrará relatos bem detalhados sobre a realidade local, em ordem decrescente da gravidade da situação vivida pelos cristãos. A Coreia do Norte encabeça a lista. A teocracia comunista do país não admite outro Deus que não seja o Líder Supremo (aquela divindade que quando vem a falecer o PCdoB lastima e chora). Estima-se que cerca de 70 mil cristãos vivam em campos de concentração coreanos, sujeitos a trabalhos forçados e a toda sorte de violências. Quase todos os países listados são islâmicos muito fechados, ou abrigam grupos islâmicos radicais que promovem perseguições por conta própria. Como se lê no Portas Abertas, as 64 nações em que se manifesta alguma ou várias formas de restrição ao cristianismo abrigam a maior parte da população mundial. Esses países costumam ocupar as manchetes por motivos econômicos, políticos ou religiosos, mas raramente são vinculados pela mídia à perseguição, por vezes implacável, a que neles estão sujeitos os adeptos da fé cristã. Em temas dessa natureza, a experiência ensina que quando a opinião pública e a mídia se manifestam, os governos e as instituições internacionais se mobilizam. Nesta quinta-feira em que escrevo, até o presidente russo Putin falou sobre o tema, apontando a gravidade da situação. Não é admissível que martírio e discriminação impostos pelos Estados, ou tolerados pelos Estados, subsistam na atualidade. Especial para Zero hora, 06 de outubro de 2013

Percival Puggina

04/10/2013
É POUCO. MAS MELHOR DO QUE NADA. Mas não é que militantes do tal clubinho cultural formado por esquerdistas delirantes, agressivos e encapuzados foram identificados e estão sendo investigados? Que coisa rara! Num país onde as boas notícias são tão escassas, saber-se que a Polícia investigou, coletou provas e indícios, o Poder Judiciário autorizou a busca a apreensão de material de interesse à investigação, e a ação policial se concretizou, deve ser vigorosamente aplaudida. Não vai dar nada, mas esse pouco já é alguma coisa. Espero que isso estimule a atividade da CPI da invasão dos pelados e peladas na Câmara de Vereadores de Porto Alegre.

Percival Puggina

03/10/2013
Quando foi anunciada a importação de médicos cubanos pelo Brasil eu escrevi um artigo antecipando as condições do negócio. Fui prontamente contestado por jornalistas e leitores palpiteiros que me recomendavam a leitura esclarecedora da Medida Provisória que instituiu o programa Mais Médicos (MP do MM). Como se eu não a tivesse lido! No entanto, toda pessoa bem informada sobre como se passam as coisas por lá sabe que os irmãos Castro impõem aos nativos a condição de ciudadanos de segunda, como eles mesmos se lamentam. Portanto, os cubanos seriam os únicos aos quais não teriam validade as disposições relativas a remuneração e benefícios. A vinda dos médicos serviu para mostrar, então, a inteira malignidade do sistema aplicado em Cuba. E evidenciou o quanto é intelectualmente desonesta aquela parcela da esquerda brasileira que, aconteça o que acontecer, se apresenta sempre disposta a defender a involução cubana (involução, sim, porque nada restou de revolucionário no cotidiano do povo, exceto a mão grande e o braço pesado do Estado). Tratados como cidadãos de segunda, os cubanos não podem trazer suas famílias. Alegoricamente, a MP do MM permite a vinda de cônjuges e filhos dos médicos que aderem ao programa. É o que todos farão, se quiserem. Mas os cubanos não o farão mesmo que queiram porque os Castro não deixam. Os demais conservarão consigo os próprios passaportes. Os cubanos certamente só os tiveram em mãos para passar nos guichês da imigração, e permanecerão reclusos nos locais onde foram designados, submetidos a uma chefia própria, não oficial, mas com enorme poder de constrangimento. Todos os demais receberão seus R$ 10 mil mensais e deles disporão como bem entenderem. Mas o valor relativo aos cubanos irá para a tesouraria dos Castro. Os infelizes ficarão com cerca de 10% porque esse é o valor adotado pelo patrão comunista em suas locações de recursos humanos. Noventa por cento para os donos! É uma partilha tão gananciosa que as autoridades brasileiras, indagadas sobre quanto os cubanos efetivamente iriam receber, mesmo cientes de estarem mentindo, tentavam esconder o próprio constrangimento e falavam em algo entre 25% e 40% dos tais R$ 10 mil. Só o fato de não saberem já é caso de polícia. Que raio de negócio é esse, excelentíssimas autoridades da República? Escrevo este artigo porque acabo de receber mensagem de um cubano exilado no Brasil que confirma tudo que venho dizendo. Em Cuba, esses médicos receberiam o equivalente a US$ 30 por mês. No Brasil, receberão US$ 300 para suas despesas pessoais. Dessas contas, meu correspondente conclui que o governo brasileiro ganha muito com o efeito eleitoral da medida. E o governo cubano lucra muito, em espécie, para financiar a repressão sobre a Ilha com dinheiro tomado dos médicos. Vítimas e vigaristas perfeitamente identificados. Caso de polícia. Meu correspondente, o periodista de Cuba Libre Digital Jorge Hernández Fonseca, afirma que o Brasil está substituindo a Venezuela como financiadora da ditadura cubana enquanto Cuba favorece o projeto petista de reeleição em 2014 com o envio de seus médicos para locais desassistidos do território brasileiro. É tudo política e geopolítica. Se fosse zelo para com a saúde pública esse programa deveria ter nascido 10 anos antes. E o governo teria estimulado o surgimento de escolas de Medicina há muito mais tempo. Por fim, creio indispensável abordar outra questão a respeito da qual, até agora, não se tratou. Todos os cubanos que estão entrando no Brasil são médicos e vêm para o programa Mais Médicos? Não tenho como provar, mas o simples uso da razão aplicado ao que sei sobre a realidade cubana me permite perguntar se são realmente médicos todos os que nesses dias passam pela imigração como participantes do MM. Não haverá, entre eles, pagos por nós, agentes cubanos enviados com outras finalidades? Uma como feitores (para usar a palavra adequada), incumbidos de controlar a atividade profissional e a conduta dos infelizes e discriminados cubanos? E outra como agentes políticos, para colocar os médicos a serviço das pautas do Foro de São Paulo em nosso país? _____________ * Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.

Percival Puggina

27/09/2013
Não ouvi a fala da presidente Dilma na ONU. Espero que não tenha iniciado o discurso com aquele seu horroroso refrão: Eu queria dizer para vocês.... Aliás, é inacreditável que nenhum assessor ainda lhe tenha dito que se ela está de pé, se tem a intenção de falar, se está com o microfone na mão, ... basta falar. Não precisa dizer que quer dizer. Isso a gente já sabe. Pois bem, não ouvi o discurso, mas li a respeito. Pelo resumo do que li, a presidente puxou as orelhas de Obama em virtude da espionagem que a ANS vem fazendo na nossa privacidade. E soube, também, que Obama, no seu turno de falar, puxou as dela com seu silêncio sobre o assunto. Por outro lado, assisti o inteiro relato que o ministro José Eduardo Cardozo fez durante a audiência pública a que foi convidado pela Câmara dos Deputados na última terça-feira. Segundo contou, já ocorreram as duas reuniões que haviam sido acertadas entre Brasil e EUA. A primeira delas, de natureza técnica, foi inteiramente inútil porque quando os técnicos brasileiros perguntavam sobre o que foi feito e como foi feito, os norte-americanos afirmavam que eram questões de segurança interna que não podiam ser reveladas. A reunião política, posterior, à qual o próprio ministro compareceu, começou e terminou com evasivas e lero-lero tipo vamos tomar providências e voltaremos a conversar sobre esse assunto, etc. e tal. Para usar com propriedade uma palavra da moda - enrolation. Ficou evidente que o governo norte-americano não têm a menor intenção de conversar sobre sua bisbilhotice e que Dona Dilma, com o alvoroço que causou, acabou se enfiando numa saia justa. Descobriu, talvez, que os EUA não são como o Brasil. Ela falou para surdos, engrossou o tom contra quem não lhe deu atenção. O silêncio de Obama e a falta de repercussão de suas palavras no plenário foram uma lição para a vida. Agora, só lhe resta queixar-se a Bento XVI que no papa Francisco ela já deu uma canseira. Essa espionagem, vista na perspectiva dos interesses brasileiros, é uma violência e um profundo desrespeito à nossa soberania e aos bons costumes nas relações entre os Estados nacionais. No entanto, a espionagem é um mau costume que integra de modo permanente a história dos povos. Tolo é quem se deixa surpreender e não se prepara para evitá-la. A contra-espionagem está para espionagem assim como a polícia está para o bandido. Na perspectiva norte-americana, a situação se apresenta de modo diferente. O partido que hegemoniza o poder no Brasil integra o Foro de São Paulo, organismo político que articula a esquerda continental, embora a imprensa brasileira teime em fazer de conta que não existe. Nossa imprensa sabe, perfeitamente, que esse poderoso órgão, criado para restabelecer na América Latina o que foi perdido no Leste Europeu, se reúne uma vez por ano para definir objetivos e estratégias. Sabe que os membros do FSP, partindo do zero em 1991, já governam 16 países do continente. Mas o nosso jornalismo não se interessa pela organização nem quando seus membros se reúnem em São Paulo. A imprensa sabe, mas faz questão de que você, leitor, não saiba. A despeito do fingimento da mídia brasileira, os órgãos de segurança dos EUA estão perfeitamente a par de tudo. Sabem que o partido que nos governa integra o FSP. Sabe que Lula foi seu fundador, junto com Fidel Castro. Sabem que entre partidos organizados, socialistas e comunistas, também participam do Foro grupos guerrilheiros como o MIR chileno e as FARC colombianas. Sabem o quanto as convicções políticas de todo o grupo são anti-americanas. Reconhecem o peso do Brasil no contexto regional e sabem que o governo brasileiro não consegue esconder sua simpatia e afeição a quem quer que, na cena política mundial, se revele adversário dos EUA, em especial os atuais governos de Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador, Peru, Nicarágua, Argentina, Uruguai, Irã e Palestina. Será preciso mais para motivar os ianques, especialmente em tempos nos quais o país se percebe vulnerável dentro do próprio território? Se o governo brasileiro não quiser ser espionado, que se acautele. Afinal, até eu gostaria de saber o que eles andam tramando. _____________ * Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.