Percival Puggina
09/11/2024
Percival Puggina
Três pilares sustentam uma construção. Quatro fazem-no ainda mais facilmente. Com apenas dois pilares só dá para fazer uma ponte ou algo com jeito de ponte. Num único pilar, pode-se colar um cartaz, apoiar as costas ou fazer alongamento de pernas.
São quatro os melhores pilares para suporte de uma boa ordem social: família, religião, escola e instituições políticas. No Brasil, há longo tempo, todas vêm sendo atacadas por grupos que agem com motivação política, ideológica, partidária e/ou econômica.
A instituição familiar tornou-se objeto de sistemática desvalorização. As uniões são instáveis e os casamentos, quando chegam a acontecer, duram, em média, 13,8 anos (em queda). Mulheres sem cônjuge são chefes de 12% das famílias brasileiras. Há um divórcio para cada dois casamentos. Vinte por cento dos casais não têm filhos. Estou falando apenas em estatísticas, sem aprofundar na análise da nebulosa qualidade dos laços e do exercício das funções parentais. É sabido, porém, que tais funções padecem na desordem dos costumes que tanto afeta a vida social nas últimas décadas. E vai-se o primeiro pilar.
A religião enfrenta notória redução de sua influência. Correntes políticas que perceberam ser impossível destruir a civilização ocidental sem revogar a influência do cristianismo atacam as religiões cristãs declarando o direito de opinião e o exercício da cidadania territórios interditos a quem tenha convicções decorrentes de fé religiosa. E o fazem em nome da laicidade do Estado. Com esse truque, reservam apenas para si o direito de opinar e intervir em relevantíssimas questões sociais e morais e encontram idiotas que julgam isso muito adequado... As mesmíssimas correntes agem de modo perversor na Igreja Católica através da Teologia da Libertação e nas evangélicas, ao que me contam, através da Teologia da Missão Integral. E vai-se o segundo pilar.
A escola e o controle das funções educacionais foram tomados por militantes mais ocupados em conquistar adeptos às causas revolucionárias do que em trabalhar talentos e habilidades para que os jovens tenham participação produtiva e ativa na vida social. Com isso, oportunidades são dissipadas pela mais rasa ignorância, nutrindo frustrações e revoltas. Professores que respondem por essa realidade reverenciam Paulo Freire e sua pedagogia do oprimido que outra coisa não é senão a definitiva opressão pela pedagogia. Outro dia, um conhecido me contava de certo jovem seu parente que, aos 18 anos, sem ser imbecil, egresso do sistema de ensino, não sabia os meses do ano. Isso é opressão. E vai-se o terceiro pilar.
As instituições políticas afundam no bioma pantanoso da corrupção e do descrédito. Não apenas pesam dolorosamente nos ombros magros de uma sociedade empobrecida. Fazem questão, por palavras e obras, de deixar claro o quanto os píncaros dos três poderes existem para reciprocamente se protegerem. Vai-se, então, o quarto pilar. E ficamos, todos os demais brasileiros, pendurados no pincel.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
06/11/2024
Percival Puggina
No momento em que escrevo estas linhas, Trump conta 72 milhões de votos (cinco milhões a mais do que Harris) e faz maioria na Câmara e no Senado norte-americanos. Na linguagem popular, faz barba, cabelo e bigode, mas não apenas isso, pois viabilizou-me o direito de acompanhar, passo a passo, a mudança da expressão corporal e fisionômica dos repórteres e comentaristas da CNN e da Globo News. Embora assistindo à marcha da apuração pelo canal da Revista Oeste enquanto a noite avançava, de vez em quando ia apreciar o nervosismo tomando conta da militância de estúdio que faz boa parte do – assim dito – jornalismo brasileiro. O recado das urnas proporcionou gradual e fragorosa demolição das expectativas com que o pessoal havia iniciado aquela longa jornada de informação com torcida.
A verdade é que no espaço de meus próprios sentimentos, comecei e terminei a noite com uma sensação ambígua. Impossível negar que a vitória de Trump veio acompanhada de uma certa inquietação. Ainda neste momento, entardecer do dia 6 de novembro, eu me pergunto: “Como é possível que Kamala Harris tenha levado o voto de 48% dos eleitores norte-americanos? Como é possível que mais de sessenta milhões de cidadãos tenham se deixado enrolar nesse discursinho do falso progressismo e do lero-lero woke?”.
Algo muito semelhante, aliás, causou-me, na eleição municipal de Porto Alegre, saber que a candidata do PT, partido que, este sim, experimentou fragorosa derrota nacional na eleição deste ano, recebeu o voto de 40% dos eleitores da capital gaúcha. Como pode?
Praticamente todas as bandeiras que nós, brasileiros, identificamos como sendo “de extrema esquerda”, são importadas dos Estados Unidos sem pagar imposto. Não existe alíquota para lixo ideológico. Então, é de lá que vem essa pretensão de controlar a palavra dos outros, o “lugar de fala”, o que pode e o que não pode ser dito, o que pode e o que não pode ser publicado ou lido e qual a “narrativa” histórica que pode ser ensinada. A extraordinária herança cultural do Ocidente deve ser “desconstruída” para geração de uma sociedade de “flocos de neve” inspirada em ideias de inclusão, acolhimento, aceitação, bondade e justiça. Seus produtos efetivos são as políticas de exclusão, cancelamento, rejeição, ódio, injustiça e cada um no seu quadrado identitário...
Não é isso o que você vê? E provavelmente já percebeu que, levada à sala de aula, a receita acabou com a educação em nosso país, fazendo sumir o futuro de pelo menos duas gerações de brasileiros. O Brasil, hoje, tem uma indústria desatualizada, um setor de serviços empobrecido por carências técnicas e tecnológicas; nossa maior riqueza é a que provém da extração dos recursos que Deus nos proporcionou como dádivas da natureza porque os recursos humanos foram capturados pelo atraso do falso progressismo.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
04/11/2024
Percival Puggina
Todo dia, milhões de estudantes são acolhidos nas salas de aula por professores dedicados ao desenvolvimento das potencialidades inerentes às crianças, adolescentes e jovens que lhes são confiados. Um número muito maior, porém, está bem mais interessado na conscientização para a militância política e em proporcionar sentimentos de inveja e revolta. Enquanto negam a seus alunos o mais valioso e precioso crédito (à educação de verdade) acenam-lhes com um futuro de poder e créditos a serem pagos pelos alunos dos bons professores.
Os professores brasileiros ganham pouco? A grande maioria ganha pouco, sim, mas os alunos desses professores nada têm a ver com isso e não merecem se converter no estuário de aflições e, menos ainda, de perniciosas opções ideológicas.
Sei que são duras estas palavras, mas se tornou um flagelo nacional o volume das notícias que vêm das salas de aula. Dói na alma saber que em 2022, 70% dos 97 milhões de trabalhadores brasileiros ganhavam até dois salários mínimos. Eram 65 milhões de cidadãos! Dói na alma saber que 58 milhões de brasileiros recebem algum tipo de pagamento diretamente do Estado (que, não por acaso, paga pouco para muitos e muito para poucos).
Como é possível que, diante dessa realidade, tantos não batam no próprio peito? Em vez disso, enchem as próprias cabeças e as da juventude com ideias de que disciplina, hierarquia e autoridade são formas de opressão, assim como linguagem culta e ciências são formas de colonização.
Tira o sono de todo cidadão consciente saber que o desejo de uma nação próspera e amável tropeça na realidade das salas de aula que despejam no mercado de trabalho jovens cujas competências valham tão pouco ou não encontrem quem lhes atribua algum valor.
Ao tempo em que frequentei bancos escolares, sempre em escolas públicas, nos anos 50 e 60 do século passado, as coisas não eram assim. Estudava-se para valer, havia provas mensais, deveres de casa e, claro, disciplina, linguagem culta, amor à pátria, hábitos necessários de leitura e uma cultura de que se construía o futuro com estudo e trabalho.
Sob a capa de uma falsa superioridade moral, oculta-se a mais perversa conspiração enfrentada pelo Brasil desde seus primeiros registros nos livros de História. Enquanto aspiram o conforto nos andares mais altos no pódio do poder, os conspiradores se beneficiam da pobreza e da ignorância que promovem.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
28/10/2024
Percival Puggina
Quantas vezes na vida você ouviu esse bordão? No debate político e na gestão pública ele é uma espécie de chá de erva-doce. Serve para tudo e traz, consigo, a fórmula do bem estar. As três palavras podem ser associadas a uma penca de demandas: Educação, Saúde, Transporte, e por aí vai, pela avenida, o bloco da esquerda delirante.
Dito isso, a título de preâmbulo, eu o convido, amigo leitor, a pensar sobre onde já topou com algo público, gratuito e de qualidade. Como diria o saudoso Padre Quevedo: “Isso non ecziste!”, é lenda. Realmente não pode existir pois, para haver algo assim necessário voluntariado e doações que, não por acaso, só existem no setor privado.
O que o setor público realmente quer é dinheiro – privado, suado, e em quantidade. Tudo que ele oferece é custeado por robusto conjunto de taxas, impostos, multas e “contribuições” compulsórias que compõem o emaranhado fiscal do país. Tudo que ele entrega vem marcado por deficiências qualitativas e encarecido por médias salariais superiores aos padrões das atividades privadas.
O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) examina a educação básica de 81 países. No PISA de 2023, os estudantes brasileiros obtiveram o 65º lugar em Matemática, 52º em Leitura e 62º em Ciências. É assim que estamos no ponto de partida para o acesso a esse bem tão indispensável ao desenvolvimento humano e à realização, tão plena quanto possível, das potencialidades individuais. O Índice de Capital Humano do Banco Mundial mede o potencial econômico dos cidadãos de 157 países. O Brasil ficou (2020) no lugar 91º, empatado com Samoa e El Salvador. O setor público atende 72% da demanda nacional por ensino fundamental, 83% do ensino médio e 26% do ensino superior.
Sindicatos de professores disponibilizam muita informação para explicar que o mau desempenho de nossos alunos tem a ver com a falta de recursos e os baixos salários, gerando resultados que alimentam preconceitos contra os educadores nacionais. Essas avaliações esquecem que o Brasil, apesar de alternar entre o 8º e o 9º lugar entre as maiores economias do mundo, é um país pobre porque a riqueza não é medida pelo Produto Interno Bruto total, mas pelo quociente entre o PIB total e a população. Aí, no PIB per capita, o Brasil vai para a 76ª posição.
A maior riqueza de um país é seu capital humano, é a riqueza “instalada” nas pessoas em forma de saber, competências, habilidades, experiências, etc. Por isso, quando um governo decide acabar com as escolas cívico-militares porque o “foco na disciplina inibe a consciência crítica e a criatividade” eu sinto vontade de gritar aos ouvidos paulofreireanos do mundo acadêmico nacional: “Entre 20países do ranking da OCDE que mede criatividade dos estudantes (uma área específica do programa PISA), ficamos em 49ª posição!” Esse é o nível da “criatividade” da escola pública convencional, que não é nem cívico nem militar...
Os dados sobre desempenho dos alunos nessas escolas são ditos “inconclusivos”, pelos sindicalistas, embora até eles reconheçam que esse modelo proporciona ganhos significativos em segurança externa, redução das formas internas de violência e evasão escolar. Alegam, no entanto, que elas não são compatíveis com a “gestão democrática”. Como não, se são uma decisão da própria comunidade? Democrático, então, senhores litigantes de má fé, é rejeitar uma livre decisão amplamente majoritária das comunidades escolares sobre a educação de suas crianças num ambiente com maior segurança, menor violência, mais foco no aprendizado e menor evasão escolar?
Se a cobrança de disciplina e bons hábitos fosse um mal, o que explicaria a criatividade do povo do Japão, onde até a limpeza de muitas escolas é imposta aos estudantes?
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
21/10/2024
Percival Puggina
Mencionei em artigo anterior que meus colegas de esquerda nos anos 60 eram leitores ávidos de autores como Michel Foucault, Herbert Marcuse e Theodor Adorno. A iletrada juventude de esquerda radical, hoje militante no ambiente acadêmico, político e jurídico brasileiro, está chegando onde meus colegas agora octogenários haviam chegado em suas leituras dos anos 60. Como nada leram, surgem com esse enorme atraso querendo “empurrar a História” para o lado errado e fora de hora.
Em condições normais, o intelecto humano funciona movido pela curiosidade, com o objetivo de saber; funciona para resolver algo, espantar uma dúvida ou corrigir um erro. As perguntas que faço aos herdeiros de ideias antigas e sabidamente funestas: como vocês fazem para não saber o que aconteceu de lá para cá? Que espécie de conhecimento é esse, no qual as ideias se desconectam de suas aplicações ao mundo dos fatos e, portanto, da História?
Três anos antes do Maio de 1968 (rebelião iniciada pelos estudantes franceses na Universidade de Paris), o filósofo Herbert Marcuse escreveu um pequeno ensaio com o título “Tolerância Repressiva” (aqui). Em resumo, ele sustenta que a tolerância, como objetivo, exige intolerância. Diz assim o pensador alemão:
“Essa tolerância indiscriminada é justificada em debates inofensivos, em conversas, em discussões acadêmicas; é indispensável na empresa científica, na religião privada. Mas a sociedade não pode ser indiscriminatória onde a pacificação da existência, onde a sua liberdade e felicidade estão em jogo: aqui, certas coisas não podem ser ditas, certas ideias não podem ser expressas, certas orientações políticas não podem ser sugeridas, certos comportamentos não podem ser permitidos sem fazer da tolerância um instrumento para a manutenção da submissão abjeta”.
Um pouco adiante, Marcuse afirma: “Mais ainda, em intermináveis debates nos meios de comunicação, a opinião estúpida é tratada com o mesmo respeito que a inteligente, o mal informado pode falar tanto quanto o desinformado, a propaganda cavalga a par da educação, e a verdade, a par da falsidade”.
Na perspectiva de Marcuse, era indispensável à sociedade reprimir as ideias do sistema que ele considerava opressivo e favorecer as “progressistas”, que seriam efetiva e finalmente libertadoras... A leitura desse seu ensaio sobre a tolerância repressiva se revela útil para entender o processo em curso em nosso país, quando se observa a repressão às ideias conservadoras e os crescentes privilégios concedidos ao pensamento revolucionário e a seus protagonistas.
Vem daí, por exemplo, o empenho em controlar e o efetivo controle das redes sociais onde se fez óbvia a hegemonia dos conservadores. Vem daí o “politicamente correto” e o domínio da linguagem, como se observa na imposição da ideologia de gênero e na recentíssima adoção de “parturiente” em substituição a palavra “mãe”. Vem daí a recepção de calouros numa universidade por veteranos nus sendo acolhida como performance adequada; e vem daí, em viés oposto, a ação do MPPE contra alunos, de outra instituição, que rezam no intervalo entre aulas. Vem daí a construção acadêmica de narrativas para desconectar as ideias políticas do estrago que produziram na História. Vem daí o combate às escolas cívico-militares, a acepção de princípios e valores morais do pensamento conservador como discursos de ódio e a adoção generalizada das políticas de cancelamento de toda divergência e de todo divergente do pensamento esquerdista. Vem daí Lula presidente da República.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
15/10/2024Percival Puggina
Temos razões mais do que suficientes para entender o contrário quando os porta-vozes do lulopetismo dizem que seus péssimos resultados nas eleições municipais nada têm a ver com o pleito nacional de 2026. O grupo político que governa o país de modo cada vez menos compreensível nunca diz o que pensa. Sempre que se manifesta, conta uma narrativa montada em laboratório. Quando seus líderes afirmam: “Esses números de agora nada representam para 2026”, estão, na verdade, contando contos para burros tontos.
Mesmo com a força das redes sociais drasticamente reduzida pelas canetas do poder e pelo esquerdismo voluntário das plataformas, a maior força política brasileira não é a direita, mas o antipetismo onde esta se inclui. É ele, o antipetismo, que agrega a direita e boa parte do centro do arco ideológico. O centro a que me refiro não é o Centrão, esse grupo de siglas ocas e balofas que envergonham a simples ideia sobre o que seja partido político. Verdadeiras colchas de retalhos, parecem caleidoscópios sensíveis aos interesses de cada dia. São uma conversa contínua e nada meritória entre meios e fins. Corrijo-me: sobre meios sem fim. Quem vive de emendas não se emenda, nem se recomenda.
Quando falo do centro do arco ideológico, penso principalmente nos cidadãos que sabem o que não querem (a esquerda, seus métodos e objetivos), mas não receberam informação suficiente e fundamentada sobre os meios para livrar o Brasil de seus males atuais. Por isso, dediquei um quarto de século de minha atividade partidária aqui no Rio Grande do Sul à formação de lideranças jovens que hoje exercem papel relevante na vida municipal, estadual e nacional. Partido que não faça isso é cartório, clube, lojinha. Tudo, menos partido político. Fora da vida partidária desde 2013, continuo a cuidar disso sempre que sento para escrever.
O antipetismo está em posição amplamente favorável para 2026 porque os dois primeiros anos do lulismo foram abundantes para reforçar sua rejeição pelos eleitores que, como admitiu Lula penitente – “ganham mais de dois salários mínimos e não querem mais votar na gente”. Até hoje, foi amplo o mostruário dos defeitos.
De um lado: incapacidade administrativa, uso sistemático dos recursos dos cidadãos para comprar apoio parlamentar, arcabouço fiscal perdulário para gastar dinheiro que não existe, perda de poder aquisitivo dos salários, aparelhamento da administração pública.
De outro, a máquina petista apoia e celebra a complacência do Congresso perante os já longos anos de sujeição da sociedade à crescente juristocracia e à perda de direitos fundamentais, censura, prisões políticas e exílio.
De outro ainda, foram anos de nanismo à dimensão internacional do Brasil, com persistentes apoios ao terrorismo, ditaduras, antissemitismo e à escória da política mundial.
Chavões e xingamentos, incongruências e narrativas, políticas de cancelamento da divergência e autolouvações já não resolvem o problema da esquerda.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
13/10/2024
Percival Puggina
Com a realização neste fim de semana, em Roma, do Fórum Esfera Internacional, a pergunta acima frequentou os meios de comunicação e as redes sociais. Uma fatia robusta do bolo do poder nacional viajou a Roma para se encontrar com contrapartes italianos do setor público e privado. Não seria menos oneroso ao Brasil realizar alguns desses eventos internacionais aqui?
A ideia de reter os alegres viajantes brasileiros no Brasil e trazer os italianos para cá ativou-me a lembrança de uma crônica do admirável autor português, Eça de Queiroz (*). Por isso e graças a ele, escrevo estas linhas entre boas gargalhadas e reflexões sérias sobre nosso país. Eça publicou a coluna em questão em outubro de 1871 e aborda o interesse da “companhia dos caminhos de ferro” em trazer turistas espanhóis por ferrovia para Lisboa. Apesar de reconhecer as intenções “amáveis e civilizadoras” da referida companhia, ele rejeita enfaticamente a iniciativa, alegando – vejam bem! – não estarem os portugueses “em estado de receber visitas”. A torrente de ironias que dispara torna impossível conter o riso.
Impossível, também, malgrado meu pouco talento, não traçar analogias e alinhar motivos para recusar a sugestão de trazer lideranças estrangeiras a se recrear em nossas misérias jurídicas, sociais, políticas e econômicas. Que teríamos a ganhar mostrando-lhes a realidade nacional, os inquéritos finis mundi, a pequena liberdade que nos resta, o dilapidado arcabouço fiscal, nossos presos políticos, o pouco proveito do voto popular como fonte da representação e servir-lhes o sabor azedo das esperanças murchas transformadas em bagaço seco e inútil? Ouçam, pois, os ufanistas do poder nacional e não nos humilhem pondo os olhos na verdade e na realidade.
Na antiga União Soviética, ao tempo da “Cortina de Ferro”, os eventuais visitantes eram sempre acompanhados de seguranças. Eles não funcionavam para garantir o bem estar dos estrangeiros, mas para impedir seu contato com os infelizes cidadãos locais. Era preciso manter a lenda do comunismo bem sucedido. Era para o bem estar da imagem. Conversar com o porteiro do hotel valia por uma conspiração contra o regime.
Que segurança jurídica temos para mostrar na vida real, com o mau odor dos fatos, aos juristas italianos? Que democracia exibiremos onde não mais que um punhado de bravos preserva os ouvidos e as vozes da representação política? Que afirmação sobre estabilidade fiscal se manteria de pé ante os visitantes se os números da dívida pública crescente pudessem ser expostos a um contraditório? Que segurança pessoal e pública pode proporcionar um país onde se alastra o mau hábito de matar turistas para roubá-los?
“O país está atrasado, embrutecido, remendado, sujo, insípido e não pode, em sua honra, consentir que espanhóis o venham ver”. “O país precisa fechar-se por dentro e correr as cortinas”, impiedoso, prossegue o juízo de Eça de Queiroz, enquanto se forma sofrido nó na garganta de seu leitor brasileiro, século e meio depois.
(*) Publicado no primeiro volume de “Uma campanha alegre”, sob o número XL, Ed. Brasiliense, 1961.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
07/10/2024
Percival Puggina
Poderia falar numa “vitória da direita” na eleição de ontem. De fato, se compararmos o desempenho pífio do PT com o do PL, dois polos do confronto ideológico nacional, os resultados do PL foram muito superiores e se destacam, mesmo num contexto em que quase 30 partidos disputaram os votos municipais do país. No entanto, quem deve estar comemorando vitória com a voz das urnas são os partidos do Centrão.
É bom lembrar. Nas duas décadas subsequentes à Constituinte de 1988 o PMDB foi governo ininterruptamente, mas adotou um modo peculiar de ser – integrava o governo, saboreava os cargos e descartava os encargos quando incômodos. Abastecia-se nas emendas e atendia sua clientela.
A receita deu tão certo que novos partidos foram se juntando ao bloco que passou a responder pela maioria no plenário do Congresso Nacional. Partidos que compuseram durante bom tempo a base conservadora e liberal do país, como o extinto DEM (hoje União Brasil) e o PP (Progressistas), entraram de “mala e cuia”, no dizer gaúcho, para o clube das boas oportunidades e mandaram a ideologia às favas. Novos partidos surgiram e fizeram o mesmo. O PSD é um exemplo típico. Sem constrangimento algum, seu presidente, Gilberto Kassab, ao criá-lo, prometeu: “Não será de direita, nem de esquerda, nem de centro”.
Descaracterizados, os partidos chutaram seus programas e não promovem o menor esforço, seja em divulgá-los, seja em torná-los efetivos no exercício do poder de cujas sobras se nutrem. Sua atuação, dentro do Congresso, permite que vicejem e se tornem decisivos líderes como os atuais presidentes das duas Casas legislativas. Os fins explicam os meios.
Contados os votos de ontem, mediu-se o sucesso dessa mediocridade. A lista dos quatro partidos que elegeram maior número de prefeitos não inclui o partido do governo (PT), que é o 9º da lista, nem o que lidera a oposição, que é o 5º da lista. Os que beberam mais espumante, ontem à noite, foram PSD, MDB, PP e União Brasil. Também foram esses quatro partidos que elegeram maior número de vereadores, com inversão de ordem entre MDB e PSD. O PL é o quinto e o PT ficou em 11º lugar.
O sinal está vermelho piscante para o PT. Especialmente em virtude do que se tem, numa primeira análise ao menos, como maus resultados para a sigla de Lula nas regiões Norte e Nordeste do país. Gostaria de ter visto um sinal verde mais luminoso, realmente comprometido com liberais e conservadores no rumo do pleito de 2026.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Percival Puggina
03/10/2024
Percival Puggina
Homens ou ratos? Penso que essa pergunta deve estar na mente de cada eleitor no próximo dia 6 de outubro, quando devemos decidir se iremos comparecer à nossa seção de votação e em quem iremos votar quando lá formos. Pouco importa se estamos numa casinha de sapé no interior do sertão baiano ou no alto de um luxuoso edifício nos Jardins Paulistas. Ali onde estamos é um município e o chão que pisamos é solo brasileiro, sede da nossa cidadania.
Sendo cidadãos, nosso voto, mesmo na condição de munícipes, não pode desconhecer que somos afetados pelos acontecimentos nacionais numa condição inevitável e permanente. Por isso, nossas opções eleitorais para administrar o município e para compor a câmara de vereadores devem levar em conta, também, a situação nacional. São esses mesmos eleitores, sujeitos às mesmas condições, que irão, dentro de dois anos, formular suas escolhas para as eleições nacionais e estaduais. Uma eleição orienta a outra.
Prefeitos e vereadores se tornam líderes naturais de suas comunidades. Um bom líder conduz a tomada de boas decisões. Ele não se omite no enfrentamento do mal e do erro. Ele não só conhece a realidade do município como está sempre pronto para dialogar sobre as soluções. E enfatizo de modo especial: o bom vereador acompanha a realidade nacional perante a qual tampouco se omite pois sabe o quanto o bem de todos estará em jogo na eleição de 2026.
Um dos grandes problemas nacionais é a falta de líderes! E pronuncio essa palavra, enquanto escrevo, destacando o plural. Não estou falando de que nos falta um líder que venha a galope em seu cavalo branco resgatar a débil nação do domínio de algum reizinho malvado. O que nos falta são líderes, muitos líderes, milhares deles, para formar opinião em suas comunidades sobre as questões locais e nacionais, de um modo continuado e competente.
Isso significa ampliar o leque de nossas escolhas. O cidadão brasileiro, por ruptura da representatividade inerente ao regime democrático, tornou-se sujeito passivo de decisões que o contrariam. Somos ratos de laboratório submetidos a restrições de direitos enquanto nossas liberdades se esvaem. Fora dos bastidores, dos acordos e “arreglos” há um punhado de bons congressistas a quem, muito provavelmente, saudamos com a expressão “Esse me representa!”, mas é um grupo minoritário.
Vote em líderes! A nação está polarizada e tem eleição no dia 6. Líderes com mandato e representatividade obtida nas urnas precisam estar preparados para cumprir o urgente e indispensável papel de formadores de opinião no debate local, com os olhos postos no pleito de 2026. Isso significa ter opinião formada sobre liberdade, democracia, estado de direito, valores morais, família, direito à vida desde a concepção, amor à pátria, direito de propriedade, sistema de votação, voto distrital, educação sem doutrinação e que viabilize o desenvolvimento das potencialidades dos estudantes.
Pode o leitor ter certeza de que a extrema esquerda que nos governa escolhe os seus com uma plataforma oposta a essa e os instrui de modo permanente, durante o mandato, sobre os temas nacionais.
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.