(Publicado originalmente na Folha de Londrina)
Na vida do militante esquerdista, há quase sempre um momento decisivo: o momento em que exigem que ele deixe de ser apenas um bocó para se tornar um canalha. Para o escritor americano David Horowitz, um dos expoentes da chamada "Nova Esquerda" nos anos 60, esse ponto fulcral foi o assassinato de sua amiga Betty van Patter, em 1974. Indicada por Horowitz para ser guarda-livros do movimento radical Panteras Negras, Betty entrou em conflito com o grupo e seu corpo apareceu boiando na baía de São Francisco. Todas as evidências colocavam os Panteras Negras em primeiríssimo lugar entre os suspeitos do crime, mas os militantes radicais conseguiram abafar o caso.
David Horowitz decidiu não ser um canalha. Inconformado com a morte da amiga, passou a questionar o movimento radical e a cumplicidade da esquerda com uma série de crimes, dentro e fora dos Estados Unidos. Apontado como "traidor da causa" e "vira-casaca", abandonado por quase todos os antigos companheiros, Horowitz tornou-se um dos principais nomes do conservadorismo americano. Sua trajetória pode ser conhecida na autobiografia "O Filho Radical — A Odisseia de uma Geração". Há excelentes vídeos de suas palestras na Internet, os quais recomendo fortemente aos sete leitores desta coluna.
A operação-abafa no caso Betty van Patter guarda impressionantes semelhanças com o que se seguiu à morte de Celso Daniel, há 15 anos, naquele que considero o marco inicial da era petista. Mas hoje gostaria de destacar uma passagem de "O Filho Radical" em que Horowitz fala do aparelhamento ideológico das universidades americanas nos anos 90, por se tratar de um fenômeno muito semelhante ao que acontece hoje nas universidades brasileiras, sobretudo nos cursos de humanas:
"Os marxistas e socialistas que tiveram a credibilidade abalada pelos últimos acontecimentos na política mundial agora ocupavam cargos efetivos nas universidades. O marxismo produziu os regimes mais tirânicos e mais sangrentos da história da humanidade. Porém, depois da queda, havia mais marxistas nos departamentos das universidades americanas do que em todo o bloco comunista. (...) Os cursos são quase sempre descaradamente ideológicos. Vários professores de esquerda ensinam as matérias de maneira parcial, esperando que os alunos reproduzam essas mesmas opiniões nas provas e nos trabalhos. Os alunos recebem notas segundo parâmetros políticos. Além disso, estes são frequentemente intimidados para não manifestarem as suas próprias perspectivas."
É nosso dever lutar para que essa atmosfera de intimidação ideológica não acabe com as nossas escolas e universidades públicas. Se concordarmos em agir como bocós agora, estaremos, na melhor das hipóteses, sendo omissos; na pior, sendo canalhas. Lembrem-se das duras palavras de Horowitz: "Na nossa geração, ninguém refletiu sobre o apoio dado à quadrilha de bandidos que fizemos passar por vanguarda moral".
Talvez seja a hora de fazer como Silvio Santos e perguntar aos universitários.
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por Paulo Briguet