Em momento inédito fez-se justiça no país da impunidade e membros importantes da cúpula do poderoso partido governante foi parar na cadeia. O feito se deveu à tenacidade, à competência, à coragem de um cidadão de origem humilde, negro que não precisou de cotas para chegar a presidente do Supremo Tribunal Federal, o ex-ministro Joaquim Barbosa que já entrou para a história com honra e glória.
Entretanto, com a saída de Joaquim Barbosa do STF voltou-se atrás e José Dirceu que já foi chamado de chefe da quadrilha, Delúbio Soares, José Genoino e João Paulo Cunha, eminentes petistas, já se encontram em prisão domiciliar, longe dos desconfortos da Papuda.
Como raridade e atributos equivalentes aos de Joaquim Barbosa surgiu o juiz Sergio Moro e poderosos foram enfrentados e postos na cadeia. Novamente, porém, o STF autorizou que cumprissem prisão domiciliar. Acrescente-se que o Procurador-Geral, Rodrigo Janot, praticamente interceptou o excelente trabalho que a Polícia Federal vinha fazendo ao impor que esse órgão lhe prestasse contas. Realmente, somos o país do retrocesso.
Para piorar não temos partidos na acepção clássica de “uma reunião de homens que professam a mesma doutrina”. Nossos partidos são clubes de interesses, não possuem consistência ideológica apesar da maioria se ufanar de ser de esquerda, comportam-se ao sabor das ambições pessoais, das vantagens eleitoreiras, buscam o poder pelo poder e seus objetivos estão bem longe do bem-comum, fim último da politica como disse Aristóteles.
O PT compartilha esses aspectos com os demais partidos, mas ao chegar ao poder e nele permanecer até agora começou a demonstrar características que extrapolam a organização partidária e que aparecem nitidamente em sentenças do mensalão tais como: extorsão, crime organizado, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro. Note-se ainda, que os petistas seguem a lei do silêncio. Nenhum deles quando preso abriu a boca para denunciar o chefão ou chefões. Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, inclusive assumiu todas as culpas e é de se duvidar que Vaccari, outro ex-tesoureiro do partido envolva algum companheiro ou peça para fazer deleção premiada. Até agora o ex-deputado, André Vargas, único expulso do PT nada mencionou, apesar de ter feito insinuações anteriores à prisão contra correligionários.
Diferente do PT que sempre fez uma oposição violenta, radical, intransigente, implacável, sendo chamado com razão de destruidor de reputações, o PSDB, que disputou várias eleições com o PT é um partido de punhos de renda em contraposição ao tacape petista. E, curiosamente, ninguém ajudou mais Lula da Silva do que Fernando Henrique Cardoso, apesar de que durante seus oito anos de governo conviveu com gritos furiosos de Fora FHC, berrados por militantes petistas em transe de ódio. Naquele tempo pedir impeachment não desestabilizava as instituições nem era golpe, como não foi tido como golpe o impeachment do ex-presidente Collor de Mello.
É evidente também o verdadeiro fascínio dos tucanos com relação ao PT. Exemplo mais recente é o apoio do Senador Álvaro Dia e de seu partido, o PSDB, incluindo o governador Beto Richa a Luiz Edson Fachin, indicado por Rousseff para ocupar a vaga de Joaquim Barbosa no STF. Paradoxalmente, segundo a revista Veja de 22 de abril de 2015, “a imponente fachada acadêmica de Fachin esconde uma militância tão abertamente esquerdista que assustou até o ex-presidente Lula, quando ele se recusou a indicar o jurista para o Supremo”. Portanto, o PSDB quer ser mais PT do que o PT, o que desanima e decepciona os que votaram nos tucanos supondo que eles eram oposição.
Quanto ao governador Beto Richa, reeleito com impressionante votação, logo no início do segundo mandato deu um tapa na cara dos seus eleitores ao baixar um pacotão à lá Rousseff, tirando direitos adquiridos de professores e funcionários. O resultado dessa atitude, como não poderia deixar de ser, foi capitalizado pelo PT e pela CUT, sendo que a mais recente manifestação de professores contra mudanças na Paraná Previdência se deu em frente à Assembleia Legislativa. Houve tumulto, reação da Policia e, em decorrência do fato, já caíram dois secretários e o comandante-geral da PM, uma maneira não convincente de Beto Richa, o verdadeiro responsável pela reação de professores e policiais, se eximir de culpa. Só falta o governador paranaense demitir e processar o pitbull que mordeu um jornalista durante a manifestação. De todo modo, Beto Richa entregou em uma bandeja de ouro seu capital politico ao PT e escancarou a esse partido a possibilidade de uma volta por cima no Paraná. O PT penhorado agradece mais esse apoio do PSDB. Os paranaenses certamente, não.
* Socióloga.
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