A resolução aprovada no dia 13 passado pela Unesco, com o voto do Brasil, escancara a modalidade de antissemitismo contemporâneo que circula com naturalidade em meios políticos e universitários, sendo apregoada pelos países árabes e recepcionada, em especial, pelo universo esquerdista. Trata-se do antissemitismo nacional, que nega aos judeus o direito de autodeterminação política. Esta modalidade de ódio aos judeus sucede ao antissemitismo religioso, característico do medievo ocidental cristão e presente também na orbe muçulmana, e à modalidade da perseguição racial nazista, que resultou no Holocausto. A resolução da Unesco revela, mais uma vez, que as instâncias de representação internacionais são dominadas pelo novo pensamento antissemita. Para os palestinos, cuja perspectiva, estampada no artigo 20 de seu Pacto Nacional originário, de 1968, é acolhida pela mentalidade de esquerda, Israel deve ser visto como uma não-nação e o nacionalismo judeu (o sionismo) como um fenômeno falso, artificial e reacionário. Em 1996, este artigo e os demais que negavam a Israel o direito de existência, foram considerados nulos pelo Conselho Nacional Palestino, em atendimento às demandas israelenses de implementar os Acordos de Oslo, que se fundamentavam no reconhecimento dos direitos nacionais recíprocos. Entretanto, a revogação não impactou a vida política palestina, que continua sendo balizada perla propaganda antissionista.
Esta posição já provocou repercussão internacional grave Em 1975, depois da vitória de Israel na Guerrado Yom Kipur, em 1973, a Assembleia Geral da ONU aprovou a Resolução 3379, proposta pelos países árabes, que afirmava que o sionismo é uma forma de racismo e discriminação racial. O Brasil, então sob regime militar, apoiou a resolução. Somente em 1991, a Assembleia Geral da ONU, com a resolução 4686, revogou a decisão. Na época, estava sendo organizada a Conferência de Paz de Madrid, logo após a primeira guerra do Iraque, e Israel havia exigido a revogação da resolução 3379 como condição para que participasse das negociações.
Em 2001, no entanto, as discussões realizadas na Conferência da ONU sobre Racismo, em Durban, África do Sul, voltaram a assumir um tom marcadamente anti-israelense, o que fez com as delegações dos EUA e de Israel abandonassem o encontro. Devido aos esforços da diplomacia norte-americana e israelense, no entanto, o texto final da Declaração de Durban não apresentou ataques a Israel.
As correntes políticas de esquerda fartam-se em utilizar o exemplo destes fóruns como demonstração de que Israel patrocina um sistema de apartheid contra os palestinos. Trata-se de uma fantasia. No Brasil, partidos como o PT, o PSOL, o PC do B, o PSTU, o PCO, o Pátria Livre (ex-MR8) e grupelhos comunistas e anarquistas disseminados pelos campi universitários, sucessivamente repetem acusações viciosas contra o Estado Judeu, satanizando sua existência e patrocinado um festival delirante de antissemitismo nacional, cuja matriz pode ser rastreada na propaganda da extinta União Soviética dos anos 50 em diante, dos países árabes e dos palestinos. Estas correntes ideológicas assumem abertamente suas posições antissemitas, propondo revisões históricas insanas e descarregadas na forma de um antissionismo, que é a designação aceitável atualmente para a propagação do ódio aos judeus. O episódio da última semana da UNESCO é apenas mais um desta campanha, para a qual as forças políticas liberais e conservadoras devem estar sempre atentas.