Lucas Berlanza
Há 63 anos, renunciava Janio Quadros (1917-1992).
“Muitos compreendem, entre eles o próprio Carlos (Lacerda), um dos acontecimentos mais estranhos da história brasileira como tendo sido fruto de uma interpretação de Jânio de que, renunciando, tendo afastado Jango do país, ele poderia contar com o amparo da sociedade civil e dos militares para impedir que o petebista tomasse posse e, com isso, todos, para persuadi-lo a não renunciar à presidência, concederiam a ele os poderes especiais que tinha tramado obter.
Se essa foi realmente a pretensão de Jânio, fato é que falhou miseravelmente. Sua atitude frustrou não apenas a esperança lacerdista da “revolução pelo voto” como deteriorou as expectativas populares com o mundo político.
Jânio fora eleito para desafiar a corrupção, combater a inflação e moralizar administrativamente o Estado – em outras palavras, Lacerda poderia resumir: para ser o oposto do edifício varguista-estadonovista-petebista-pessedista-desenvolvimentista. Em vez disso, não entendeu as circunstâncias que o alçaram aquele posto e quis um atalho que não lhe estava ao alcance.
A despeito das medidas adequadas na economia, falhou em praticamente tudo que se propôs a fazer – ou que se tinha entendido que ele faria e representaria.
Tudo andara em círculos. O ditador de 30 e 37, Getúlio Vargas, parira as forças das quais sairiam Juscelino e Jango. Este último era tudo que se queria evitar, o receio de todos aqueles que fossem mais liberais e conservadores, a ameaça de uma identificação mais categórica com o peronismo e de uma linguagem mais palatável aos extremistas da esquerda e aos comunistas, cunhado do radical Leonel Brizola, o ministro do Trabalho que quis aumentar exponencialmente o salário lixando-se para a inflação.
Jânio, facilitado pela exaustão algo voluntária do próprio “sistema” pessedista, era uma aposta arriscada para tentar pôr um fim a esse ciclo sem a necessidade de intervenções armadas. Deu errado; e o país terminava no colo de quem? Logo dele, o mais temido, o último filhote de Vargas com quem Carlos Lacerda travaria a última grande batalha de sua fase áurea: o presidente João Goulart.” (Lacerda: A Virtude da Polêmica, LVM, p. 255)
* Reproduzido do site do Instituto Liberal, em https://www.institutoliberal.org.br/blog/historia/o-dia-25-de-agosto-na-historia-do-brasil/